Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Entrevista do Professor Wilson Cano no Valor Econômico

9 de abril de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: , ,

O Valor Econômico publicou uma longa entrevista de Vanessa Jurgenfeld com o professor Wilson Cano, do Instituto de Economia da Unicamp, que critica que o Brasil está sem rumo, havendo necessidade do estabelecimento de um projeto nacional. Ainda que suas observações críticas sejam adequadas, a falta da formulação de maiores detalhes de uma proposta para preencher a lacuna existente, a não ser em termos vagos, mostra a dificuldade para tanto. Sempre é mais fácil criticar, mas sugerir uma política para o país, notadamente no setor industrial, mostra a dificuldade de sua concepção, os instrumentos que seriam utilizados, bem como a escolha dos setores que seriam considerados prioritários.

Certamente, o baixo crescimento da economia brasileira depois da crise do petróleo e da dívida pública somente interrompido pelo curto período da melhoria das condições da economia global, ao lado dos elevados preços dos produtos exportados, é uma realidade incontestável. Diagnosticar o que teria resultado neste comportamento poderia ser mais explorado. Se o Brasil não consegue estabelecer um plano de longo prazo, mesmo nos diversos governos que se sucederam neste longo período, deve haver uma razão para tanto, no que o entrevistado denominou de crise estrutural. Isto teria ocorrido tanto no período do regime militar como no que chama de neoliberal que teria se seguido.

Wilson Cano - economista UNICAMP

Wilson Cano

Nenhum país faz o que deseja, mas o que pode. Todos devem contribuir para que haja uma perspectiva de longo prazo apresentando sugestões, pois como apontado a predominância do setor financeiro no mundo acaba por determinar uma prioridade para os resultados de curto prazo. O Brasil não conseguiu manter uma participação crescente no mercado internacional como conseguiram a Coreia do Sul e a China neste período. O Japão parece que passou por duas décadas perdidas, não podendo ser considerado um caso de sucesso.

Esta prioridade não se deve somente ao estabelecimento da política cambial que teria sido sacrificada para a manutenção da estabilidade monetária interna, ou seja, a redução das pressões inflacionárias. Nas políticas dos países que conseguiram manter um crescimento mais substantivo incluem-se programas de desenvolvimento industrial, principalmente com o uso de políticas de zonas especiais de exportação, para manter a competitividade do seu setor industrial com relação aos países concorrentes. Dela decorrem também os desenvolvimentos tecnológicos indispensáveis.

Mesmo no estabelecimento desta política industrial apresenta-se a dificuldade de como seriam escolhidos os chamados setores estratégicos que mereceriam prioridade. Seria via taxa de retorno de longo prazo, ou pela escolha dos setores de maior impacto em toda a economia, por uma autoridade que no caso brasileiro tem um mandato por um período limitado, considerando a constelação da disponibilidade dos demais fatores de produção. Parece necessário tentar-se um consenso de toda a população para a escolha dos mesmos, ao lado dos instrumentos que seriam utilizados para tanto, por um período que parece relativamente longo.

Se não se aceita as regras da OMC – Organização Internacional do Comércio, parece que há necessidade do estabelecimento de alguns acordos comerciais regionais ou bilaterais, e seria interessante explorar como seria contornado a existência do Mercosul, que vem se mostrando um obstáculo.

Todas as opções são difíceis, pois para conceder prioridade para determinados setores há que se sacrificar relativamente os demais. E isto necessitaria contar com o respaldo político. A entrevista parece sugerir a existência de um grupo central que teria uma clarividência para estabelecer o que não se consegue com a ajuda do mercado.

Qualquer que seja o caminho escolhido ou sugerido, há que se considerar que o estabelecimento de uma política industrial vai acabar necessitando do uso de alguns instrumentos que poderiam complementar uma ação que nem sempre consegue ser adequadamente exercida pelo mercado.

O problema complexo é que isto implica também na possibilidade de manutenção da liberdade política que não resulte na piora da distribuição de renda, em benefício de alguns privilegiados. De qualquer forma, a discussão de todas as possibilidades certamente poderia ajudar no processo de escolha de um processo de longo prazo para atingir os objetivos estabelecidos pela sociedade brasileira.

Já existe um início destas necessidades, no estabelecimento de diretrizes orçamentárias que extravasam o período da anualidade. Também não se poderia exigir do entrevistado mais indícios do que os vagos que foram expressos no final da entrevista.



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