Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Mudança Expressiva na Gestão da Agricultura Japonesa

1 de maio de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: , ,

Se existiu uma estruturação eficiente para a gestão da agricultura que funcionou por muitas décadas com grande eficiência, ela se deve à forma de organização do sistema cooperativista do Japão. A partir de um sistema de cooperativas locais, chegava-se a uma agregação provincial (que chamam de prefeituras), que acabava numa cúpula nacional muito poderosa chamada Zen-No, que seria a cabeça de toda a agricultura organizada. Paralelamente, havia um sistema financeiro chamado Norinchukin (banco central da agricultura) que chegou a ser o mais importante banco no mundo. Decorria da elevada poupança do setor rural japonês, possibilitado pela exagerada proteção da produção agrícola, notadamente do arroz, considerado básico para a independência alimentar daquele arquipélago. É evidente que com o tempo haveria necessidade de reformas, como em todo o mundo, para o setor rural sempre protegido como na França onde é considerado parte do estilo de vida de sua população, ou nos Estados Unidos que considera a segurança alimentar como um dos esteios de um país realmente independente.

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Ilustração publicada no Yomiuri Shimbun

Paralelamente, o sistema político de voto distrital vigente no Japão permitia que o setor rural detivesse um poder político bem acima da importância relativa de todo o sistema de agrobusiness daquele país, que permitia a estabilidade que veio se mantendo desde a Segunda Guerra Mundial.

Sempre houve reclamação, principalmente do setor urbano industrial que pretendia uma redução desta proteção para o setor rural de forma a tornar toda a economia japonesa mais competitiva internacionalmente, abrindo o mercado de produtos agropecuários do Japão, para facilitar a exportação de produtos industriais e de serviços.

Agora, o governo Shinzo Abe, dentro do seu programa que passou a ser conhecido como Abeconomics, que procura sair da estagnação e deflação de cerca de duas décadas, pretende uma reforma deste sistema agrícola, ao lado de uma volta à internacionalização, como, por exemplo, por intermédio do TPP – Transpacific Partnership.

O que se pretende é a independência das cooperativas regionais, para que elas decidam por si como operar, considerando que as diversas regiões japonesas apresentam características diferentes. Ao mesmo tempo, a cúpula do sistema deixaria de impor uma forma operacional centralizada da agricultura, mas se constituiria somente num lobby setorial, como já existe no Keidanren – Federação das Organizações Econômicas que defende os interesses das grandes empresas industriais e comerciais, ou a Associação dos Bancos Japoneses, que defende os das instituições financeiras.

Trata-se de uma reforma de vulto que terá que passar pelos organismos legislativos. Ao mesmo tempo em que se perseguiria a eficiência do setor agrícola ao nível local, não se pode considerar que a atuação nacional deixará de existir, não se garantindo que se conseguirá a mesma eficiência em termos nacionais. Uma maior liberdade deve trazer aperfeiçoamentos, restando saber se a força do conjunto poderá ser compensada.

Acaba sendo uma contradição, pois em outros setores tende-se a volta da operação semelhante com a antiga Japan Inc. para conseguir uma maior competitividade com a coordenação das operações conjuntas, tendo o governo na sua retaguarda.



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