Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Editora Estação Liberdade e Seus Lançamentos

20 de novembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais, Notícias | Tags: , , , ,

A editora Estação Liberdade que teve o seu primeiro grande sucesso com a tradução do livro de Miyamoto Musashi, trabalho excepcional da minha amiga Leigo Gotoda, promove o lançamento de diversos livros escritos por autores japoneses, como este de Ogai Mori, Vita Sexualis. Uma ótima tradução de Fernando Garcia que também oferece ricas observações e explicações permitindo o melhor entendimento dos leitores sem grande familiaridade com a literatura japonesa, numa apresentação primorosa. Os que esperam encontrar descrições escandalosas de encontros sexuais podem ficar frustrados, pois naquela época mais do que hoje existiam diferenças acentuadas nas visões da cultura japonesa, que era muito reservada, e brasileira, que era mais livre sobre estes aspectos sexuais. O importante é que a editora tem a coragem de enveredar por campos que podem gerar algumas más interpretações de alguns leitores menos informados.

No Oriente, notadamente no Japão, parece que estes assuntos que podem ser delicados, como os primeiros conhecimentos sexuais de meninos japoneses, costumam diferir das visões maliciosas que já predominavam na Europa na época, onde o conceito de pecado era relevante. Minha pequena experiência pessoal é que a partir da estética como nas xilogravuras de ukiyo-e de Hokusai, que ilustra a capa do livro, as figuras femininas e masculinas japonesas estão bastante vestidas, somente sugerindo que estão se preparando para atividades sexuais, com todas as partes sensuais escondidas. No Ocidente na época, o padrão de beleza parece ter sido determinado pelas mulheres nuas que pelos critérios atuais seriam exageradas em peso, como pode ser observado em muitas fotografias da época.

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                                           Ogai Mori, autor de Vita Sexualis

O livro é autobiográfico e relata as experiências de um estudante em Tóquio no início do século XX, dos seus seis anos aos 21, quando vai para a Alemanha estudar medicina, interessando-se também por aspectos da literatura e filosofia europeia. Dá uma boa noção do que era a vida dos jovens estudantes em Tóquio naquela época, como pode ser constatado em outros livros da época.

Informa sobre o que ocorria na vida noturna de Tóquio, descrevendo como era o bairro de Yoshihara onde se concentravam os prostíbulos daquela capital na época, que podiam ser frequentados somente pelos que contavam com muitos recursos. Mas não entra nos detalhes das suas experiências, que é focado de forma muito discreta, como era na cultura japonesa de então, ainda que artistas de ukiyo-e retratassem cenas mais ousadas para os padrões japoneses, com as figuras das cortesãs .

Observa-se que estava em voga a influência filosófica europeia no Japão, que procurava reproduzir estas preocupações no texto do livro. O autor foi um médico formado na Alemanha, como era muito comum entre estudantes de famílias de posse de todo o mundo, e ele teria atuado na Guerra Nipo-Russa.

Todos os leitores que possam estar interessados nestes livros de autores japoneses encontram muitos deles editados em português pela Editora Estação Liberdade, com apresentações de qualidade, com uma seleção respeitável. A editora normalmente me contempla com exemplares dos seus lançamentos, que costumam ser muito interessante, ainda que nem sempre se conte com o tempo desejável para um exame mais acurado.



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