Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Segredo da Continuidade do Desenvolvimento Chinês

30 de dezembro de 2014
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: , ,

Uma explicação da razão da continuidade do desenvolvimento chinês por um longo período.

Um interessante artigo foi publicado pelo professor de economia e diretor do Centro de Estudos Econômicos Chinês da Universidade de Fundan em Xangai, Zhang Jun, no site do Project Syndicate sobre sua versão da continuidade do desenvolvimento chinês por décadas. Segundo ele, sempre existem preocupações mais pessimistas sobre as perspectivas chinesas diante do crescimento da divida, dos investimentos excessivos, capacidade ociosa atual e as chamadas “cidades fantasmas” que têm aparecido na China desde a crise de 2008. Da crise de 1978, estes problemas têm afetado economias asiáticas como a de Taiwan, Coreia do Sul e Japão, nos seus períodos de crescimento rápido.

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Zhang Jun, professor de economia e diretor do Centro de Estudos Econômicos Chinês da Universidade de Fundan, Xangai.

Segundo ele, desde quando Deng Xiaoping iniciou há 35 anos o seu programa de reformas e aberturas, a China registrou uma média de crescimento anual de 9,7%. E Taiwan e a Coreia do Sul passaram de economia de baixa renda per capita para o status de elevado desenvolvimento. Isto foi conseguido, segundo o autor, pela resiliência (conceito que vem sendo usado recentemente também na economia e refere-se à capacidade de adaptar-se às novas situações sociais).

Como o desenvolvimento econômico é um processo complicado, cheio de desafios e riscos, sucessos e fracassos, choques externos e volatilidade interna, os efeitos adversos são inevitáveis. Se o país é capaz de responder aos desafios, vai conseguir obtendo o desenvolvimento e, segundo o autor, o país que não o conseguir vai cair na chamada “armadilha da renda média”, por não ajustar o seu modelo em tempo hábil.

Os países asiáticos vêm se ajustando de forma consistente, efetuando as reformas institucionais de forma contínua. O objetivo não era enfrentar os problemas, mas introduzir atividades novas e mais eficientes que ajudaram a transformar dívidas em ativos, maximizando a utilização da capacidade da economia.

Neste sentido, estas economias adotaram a “destruição criativa”, descrita por Joseph Schumpeter, e suas economias são continuamente revolucionadas por dentro. As novas reformas incrementais facilitam e incentivam as substituições das antigas fontes que se tornaram ineficientes, por novas e mais dinâmicas.

Ele cita o exemplo da China que vem aumentando a produtividade agrícola desde 1980, em parte estimulado pelo setor não agrícola que veio estimular as empresas das aldeias. Na década de 1990, estimularam os setores dinâmicos para absorver as dívidas e perdas crônicas das empresas estatais e os investimentos excessivos no setor imobiliário.

Segundo o autor, resiliência tem sido a característica entre o governo e o mercado desde as reformas introduzidas por Deng. Gustav Ranis tinha percebido a dinâmica interativa das instituições e do mercado no Leste Asiático. A reforma com a descentralização fiscal na China teria impulsionada por demandas das instituições locais que acirrou a concorrência entre elas, orientadas cada vez mais para o mercado.

Esta dinâmica se reflete também na formação da política industrial. Os setores menos vibrantes acabam sendo orientados pelo mercado, acabando por desempenhar um papel fundamental na expansão do setor industrial, que não é fomentado pelas autoridades.

Os governos locais também contam com resiliência no Leste Asiático, segundo o autor. Eles são responsáveis pelos investimentos de capital público, dirigindo a melhoria da infraestrutura física, produzindo retornos razoáveis para os investimentos privados. Estes ajudam as empresas locais, em particular as empresas de porte médio e pequenos inovadores. Os casos de Zhejiang e Guangdong são exemplos dos casos regionais mais robustos.

Os governos locais apoiam as mudanças institucionais com as flexibilidades para atender os desafios estruturais. Segundo o autor, após três anos de desaceleração do crescimento da dívida, a China encontra-se novamente numa encruzilhada, e optando pela flexibilidade poderá aproximar-se de uma economia de alta renda.

A íntegra do artigo no Project Syndicate pode ser encontrado no http://www.project-syndicate.org/commentary/china-economy-resilience-by-jun-zhang-2014-12. Tudo indica que muitas características apontadas por Zhang Jun adaptam-se paras as conveniências atuais da economia brasileira, necessitando dar às autoridades locais a consciência de que podem exercer este papel.



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