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50 Anos do Banco Central do Brasil

30 de março de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias, Política | Tags: , , , ,

clip_image001Sempre a comemoração de 50 anos de uma instituição é uma festa onde se destacam os seus muitos méritos, mas há que se reconhecer que também existem problemas.

 

Atual edifício sede do Banco Central do Brasil em Brasília

Com a presença de muitos ex-presidentes, realizou-se a comemoração dos 50 anos do Banco Central do Brasil, onde se destacou Ernane Galveas que, com 93 anos, era o mais idoso e totalmente lúcido sobrevivente, que foi presidente por dois períodos, inclusive tendo sido o meu quando fui diretor. Também estavam muitos ex-diretores de diversas épocas, com posições de política monetária nem sempre unânimes. Galveas lembrou que deveria ser 70 anos da instituição, incluindo o da antiga SUMOC – Superintendência da Moeda e Crédito, que foi um dos embriões fundamentais do atual Banco Central. Outras personalidades ilustres também prestigiaram o evento.

Além de uma apresentação histórica e do que é hoje o Banco Central feita por um dos atuais diretores, o presidente Alexandre Tombini exaltou os muitos méritos da instituição, que conta hoje com quadros preparados e uso de técnicas inovadoras reconhecidas pelo FMI – Fundo Monetário Internacional como o Banco Mundial. A grande maioria dos diretores atuais e anteriores do Banco Central é originária do seu quadro de funcionários, com muitos doutorados no exterior, como o próprio Tombini, além de inúmeros que possuem títulos como de mestrado e especialistas em diversos assuntos. Os que vieram de outras instituições são uma pequena minoria, o que deve ser considerado como reconhecimento da capacidade da instituição em preparar pessoal do mais alto nível.

Fui surpreendido, pois eu, que me tornei um dos seus diretores quatro anos depois da instalação do Banco Central, era o decano dos ex-diretores presentes, o que acaba dando um sentimento de envelhecimento, só superado pelo vigor com que está o ex-presidente Ernane Galveas, que fez uma apresentação lúcida. A instituição mudou muito e não pode ser considerado em separado do Conselho Monetário Nacional que estabelece as diretrizes que devem ser perseguidas.

Quando fui diretor, e também era membro do Conselho Monetário, o Banco Central ainda tinha muitas outras funções, inclusive de apoio às políticas de desenvolvimento. Controlava os orçamentos do Banco do Brasil, do BNDE bem como contas importantes do café, do cacau, das compras e vendas de produtos agrícolas pelo governo. No fundo, o Conselho Monetário alocava muitos recursos que não eram de origem tributária e se preocupava com a geração de divisas externas.

Inegável que o Banco Central do Brasil veio fazendo o melhor do que lhe era possível e é preciso admitir que, mesmo com a autonomia no mandato dos seus dirigentes, existem constrangimentos provocados por outros setores do governo. Nenhuma política monetária pode independer totalmente da fiscal e, apesar de se adotar hoje a meta inflacionária, deve se reconhecer que outras autoridades monetárias em outros países perseguem estas metas, com um olho também no nível de atividade da economia.

O custo de perseguir a ferro e fogo as metas inflacionárias estabelecidas seria muito elevado, principalmente na taxa de juros indispensável. Há que se admitir que cada país adote de forma pragmática o modelo de Banco Central que lhe é conveniente. Mas, parece que o atual Conselho Monetário composto somente pelo ministro da Fazenda, ministro secretário de Planejamento da Presidência da República e presidente do Banco Central do Brasil não é dos mais convenientes, notadamente num país que apresenta tantas diferenças regionais e elevada complexidade na sua estrutura econômica, inclusive de relacionamento com o exterior.

Quando da inauguração do prédio sede do Banco Central, Paul Volcker me observava sobre a dimensão e sua suntuosidade, comparando com o do FED – Banco Central norte-americano. Isto se verifica também com as dimensões das autoridades monetárias de diversos países. Ao mesmo tempo em que, reconhecendo as dificuldades dos constrangimentos de outros setores, não se tem conseguido manter a inflação brasileira e os juros praticados no Brasil em níveis razoáveis.



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