Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Considerações Francas Sobre os Interesses Chineses

4 de março de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: , ,

clip_image002Vijay Sakhaja é diretor do National Maritime Foundation, ex-oficial da Marinha e faz considerações sobre os investimentos em infraestrutura com o suporte chinês, notadamente no Sudeste Asiático, para o Nikkei Asian Review.

 

Vijay Sakhaja, diretor do National Maritime Foundation

No mundo atual tende a ocorrer uma bipolarização entre interesses relacionados com os grupos de países que contam com a liderança dos Estados Unidos de um lado e da China de outro. Os chineses continuam ganhando importância internacional, devendo superar a dimensão da economia norte-americana nas próximas décadas, além de contar com mecanismos de suporte de diversos projetos de seu interesse no mundo. Como muitos entendem que os norte-americanos contam com um sistema democrático enquanto na China há um controle político centralizado do Partido Comunista, ainda que existam limitações em ambos os grupos, sempre haverá preferências ideológicas, mesmo com o reconhecimento do crescente poderio chinês.

Na Ásia, a ênfase que a China vem dando ao programa de reativação da Rota da Seda, tanto na sua versão terrestre como marítima, muitos projetos de infraestrutura que interessam aos países da região estão sendo contemplados com o suporte dos chineses. Uma análise equilibrada do quadro é sempre difícil, mas Vijay Sakhaja apresenta um artigo de elevado interesse sobre o assunto para melhor compreensão de todo o quadro.

Os governos que se sucedem em países do Sudeste Asiático podem mudar de preferências ideológicas, mas procuram ser pragmáticos para preservar os projetos de infraestrutura que os interessam, e acabam servindo não somente para interesses de um grupo. O artigo cita o caso de Sri Lanka, com o porto de Colombo que envolve investimentos de US$ 1,34 bilhão e ameaçou ser cancelado, mas pragmaticamente o novo governo conseguiu um rearranjo com a China, apesar de alguns entenderem que teria também uso militar de interesse dos chineses.

Também se cita um projeto ferroviário de Mianmar, de 1.215 quilômetros, envolvendo investimentos de US$ 3,6 bilhões, que teria sido cancelado diante de problemas ambientais envolvidos. Estes problemas da China não se restringem à Ásia, mas também ocorrem na América Latina, na Europa e na África, que, apesar de necessários tanto para o abastecimento chinês como geração de exportações destes países, acabam criando resistências diante de variadas alegações, inclusive de corrupções. Ninguém pode ser ingênuo a ponto de acreditar que qualquer país ajuda outros sem que tenham, no mínimo, grandes interesses econômicos quando não geopolíticos. O ponto central é que as populações locais sejam realmente beneficiadas com estas melhorias, não alienando a sua soberania.

É evidente que as ajudas externas ocorrem para o suprimento de equipamentos, tecnologias e até envolvendo trabalhos da construção pesada. Os chineses, dispondo de abundantes recursos humanos, tendem a utilizá-los no exterior, quando os locais desejam se beneficiar com os empregos criados, além de absorver tecnologias que não dispõe. O desejável é que houvesse o máximo de transparência, com o estabelecimento de margens para os produtores locais e, se possível, concorrências que não fossem viciadas, como já se faz com instituições multinacionais. Muitos países contam com legislações para a proteção dos seus patrimônios locais, como terras e recursos naturais, havendo crescentes preocupações com o desenvolvimento sustentável, que nem sempre foi respeitado no passado.

O autor explicita que existem três desafios que os projetos chineses no exterior podem enfrentar. O primeiro seria provocado por mudanças nos governos que propiciam revisões nos projetos que teriam alguns problemas como o de corrupção, além de aumento das vantagens para os locais. O segundo seriam as crescentes preocupações ambientais e trabalhistas que entraram em consideração, que podem gerar sentimentos antichineses. O terceiro seriam as suspeitas de usos civis e militares que muitos projetos, como de portos, transportes e telecomunicações, poderiam ter. Muitos exemplos concretos são citados para ilustrar estes problemas.

O que o artigo enfatiza é que nenhum destes problemas tem inibidos os chineses, que continuam firmes nas suas intenções de aumentar suas cooperações com projetos nos mais variados países e regiões do mundo. Também se observa que os diversos países parceiros continuam interessados nos suportes chineses. Como os dois lados acabam se beneficiando destes projetos bilaterais, o autor expressa a sua opinião que eles continuarão a aumentar.

O Brasil também vem mantendo muitos projetos de monta com os chineses, envolvendo até setores que poderiam ser considerados estratégicos, com possibilidades de uso militar. Parece interessante que o país continue mantendo sua equidistância, com uma orientação política externa de manter relações diplomáticas até com países considerados por alguns grupos como de elevado risco.

A interessante íntegra do artigo, em inglês, pode se acessado no http://asia.nikkei.com/Viewpoints/Perspectives/China-s-infrastructure-diplomacy-alive-and-well.



Deixe aqui seu comentário

  • Seu nome (obrigatório):
  • Seu email (não será publicado) (obrigatório):
  • Seu site (se tiver):
  • Escreva seu comentário aqui: