Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Importantes Correções a Serem Perseguidas no Mundo

1 de março de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: , , ,

clip_image002Parece necessário que a justificada indignação dos brasileiros com as corrupções recentemente evidenciadas no Brasil, como os relacionados com a Petrobras, inclua conhecimento de outras que já se observam no mundo há tempos envolvendo diversos setores, exigindo aperfeiçoamentos democráticos que conduzam a maior transparência.

Sempre se carregou alguns porcentos a mais de petróleo nos petroleiros do que os vendidos

Há décadas, um conhecido empresário brasileiro já falecido, mas experiente no setor de transporte internacional de petróleo, me informava que, desde a virada do século XIX para XX, havia um hábito consagrado no setor pelo qual se carregava um certo percentual a mais em todos os petroleiros quando das vendas desta matéria-prima. Como os recursos envolvidos no comércio internacional de petróleo são astronômicos, os analistas menos ingênuos logo poderiam concluir sobre os montantes dos recursos paralelos que estavam envolvidos neste segmento no mundo, não sendo original do Brasil.

Um artigo publicado por Jamil Chade no jornal O Estado de S.Paulo informa sobre a entrevista feita com o suíço Jean Ziegler, autor do livro “A Suíça Lava Mais Branco” publicado em 1990. Ele era membro do Parlamento Suíço na época, foi alvo de nove processos e até hoje paga a multa de US$ 6 milhões a que foi condenado. Ele informa que o que o HSBC esclareceu sobre as muitas contas nos bancos suíços é somente a ponta de um iceberg, cujas operações continuarão a ser feitas. O Parlamento suíço conta com a maioria dos interesses dos bancos, que continuarão encontrando formas para que a Suíça sobreviva com recursos escusos provenientes do exterior.

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Jean Ziegler, autor do livro “A Suíça Lava Mais Branco”

Mas deve-se esclarecer que isto não se restringe àquele país, mas a todos os paraisos fiscais que foram criados para minimizar os controles de quaisquer autoridades, de forma que empresas cujos verdadeiros proprietários são difíceis de serem conhecidos. Também foram os bancos que criaram o chamado eurodólar em Londres, onde as autoridades inglesas não podem controlar nada. Estão sendo amplamente divulgadas as irregularidades cometidas com os câmbios bem como as taxas de juros como o do Libor – London Interbank Rates, envolvendo cifras astronômicas.

Quando a maioria dos navios do mundo operam com a bandeira liberiana, inclusive os da Petrobras ou da Vale, é porque a legislação daquele país é muito branda, permitindo que se façam operações que normalmente seriam condenadas em qualquer país civilizado.

Deve-se considerar também que os relacionamentos espúrios das empresas privadas com as autoridades sempre existiram e em escalas assustadoras. Nos Estados Unidos, o chamado complexo militar industrial é poderoso, pois muitos dos financiamentos para atividades políticas estão relacionados com os gigantescos fornecimentos de materiais estratégicos para a defesa do país, e sendo mantidos sem muita transparência. Reconhece-se que sempre haverá dificuldades em se identificar os interesses privados nos fornecimentos de armamentos de todos os tipos, que são utilizados em volumes gigantescos nos conflitos armados.

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Charge sobre o relacionamento militar e industrial

Mesmo nos países considerados mais democráticos como o Japão e os europeus, onde as transparências costumam ser mais amplas, são frequentes as notícias de envolvimentos de políticos com empresas de construção pesada e fornecimento de equipamentos para o setor público, com muitas punições para os que são flagrados. Alguns acabam sendo resolvidos por acordos. Todos desconfiam que existem muitas outras que não ficam conhecidas.

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Empreiteiras e fornecedores para obras públicas acabam flagrados em operações suspeitas, com a melhoria dos sistemas de controle e aumento das transparências

Lamentavelmente, os seres humanos não são anjos e havendo oportunidades acabam cometendo irregularidades que os beneficiam. Somente a pressão da opinião pública exigindo cada vez mais transparência podem coibir estas operações escusas. Alguns avanços estão sendo alcançados, mas ainda há que desenvolver outros mecanismos pelos quais as autoridades eleitas estejam sob controle mais rigoroso dos seus eleitores, os que finalmente acabam arcando com os aumentos de ineficiências decorrentes das corrupções. Que os eleitores tenham poder de coibi-los. Tudo indica que nos regimes democráticos estes avanços podem ocorrer com maior facilidade.

Há que se admitir que estes aperfeiçoamentos só podem ser alcançados com trabalhos sistemáticos e pacientes ao longo de muito tempo e quando a cultura que prevalece na população seja rigorosa com qualquer irregularidade, a menor que seja, que tende sempre a se agigantar. Não podemos nos impressionar somente com os escândalos, mas pensar com a cabeça fria no que cada um de nós pode contribuir para a sua redução, sem ficar somente nas indignações.



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