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O Globo e a Situação Atual da Indústria Naval no Brasil

23 de março de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política | Tags: , ,

Os que acompanham a evolução do programa relacionado com o pré-sal sabem que o programa de sua exploração levou o governo a estimular a recuperação da indústria de construção naval. Com a Lava Jato atingindo a Petrobras, muitos dos seus fornecedores já demitiram 28 mil trabalhadores. Somando os reflexos no setor de máquinas e equipamentos, as demissões atingiram 34 mil trabalhadores, segundo artigo de Ramona Ordoñez e Bruno Rosa publicado no jornal O Globo.

clip_image002Foto do Estaleiro Paraguaçu, na Bahia, que paralisou suas obras e demitiu seus operários, segundo artigo publicado no jornal O Globo

Foi organizada a Sete Brasil no primeiro mandato de Lula da Silva com o objetivo de construir 29 sondas para o pré-sal e tendo a Petrobras entre seus sócios, em conjunto com os fundos de pensão Petros, Previ, Funcef e Valia, os bancos Santander, Bradesco e BTG Pactual e os fundos EIG Global Energy Partner, a Lakeshore, a Luce Venture Capital e FI-FGTS. Seria a parte da política de conteúdo local das necessidades de equipamentos para o pré-sal, o que levou a indústria de construção naval brasileira a um crescimento anual de 19,5%, numa verdadeira euforia, hoje revertida segundo o artigo.

O corte dos empregos decorre do cancelamento de encomendas da Petrobras. Com o cancelamento, gerou-se problemas de caixa, com atrasos na liberação dos financiamentos de US$ 21 bilhões do BNDES. Os bancos estão sendo obrigados a solicitar o pagamento antecipado dos seus financiamentos ao Fundo Garantidor da Construção Naval.

O quadro se torna mais complexo, pois as empreiteiras acusadas de irregularidades são os principais controladores dos estaleiros. A construção naval brasileira, que tinha, em 2003, 7 mil empregos, chegou a mais de 79 mil trabalhadores atualmente. Não deveria ser punida pelas irregularidades, mas a falta absoluta de recursos coloca-as em situação insuportável, pois ninguém tem condições de aportá-los, segundo o artigo.

A previsão anterior era de investimentos da ordem de US$ 100 bilhões até 2020 na construção naval. Com os problemas enfrentados pela Petrobras os seus investimentos já foram reduzidos em 30% este ano para US$ 31 bilhões, devendo haver mais cortes, o que reflete na construção naval. O artigo de O Globo estima em US$ 1,25 bilhão a dívida atual dos estaleiros, sem perspectiva de solução.

O estaleiro Paraguaçu, em Matagojipe, na Bahia, é controlada pela Odebrecht, OAS e UTC, além da japonesa Kawasaki, parceira tecnológica. Contava com 7.200 empregados, restando atualmente somente 576 operários. Em Pernambuco, o Estaleiro Atlântico Sul, controlado pela Queiroz Galvão e Camargo Correa, conta com a parceria japonesa da IHI. Ela já demitiu 780 trabalhadores, segundo o artigo.

De acrodo com O Globo, três estaleiros ainda não demitiram: Rio Grande, Brasfels, do Rio de Janeiro, e Jurong Aracruz, do Espírito Santo, mas se supõe que não poderão resistir por muito tempo. Na Sete Brasil, há uma sensação de concordata branca na situação atual. Mas o contrato de fornecimentos das sondas alugadas do exterior, que seria uma alternativa da Petrobras, ainda não foi assinado.

Há um desânimo profundo neste setor industrial, que deveria receber o suporte governamental para a recuperação da economia brasileira, mas os agudos problemas financeiros já enfrentados, além da falta de orientação com relação ao futuro, deixa todos numa situação de suspense que não pode ser suportado por muito tempo.



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