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Asahi Shimbun Sobre Nikkeis Brasileiros e o Japão

10 de julho de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

imagePor incrível que possa parecer, nem todos os japoneses possuem uma consciência clara da emigração dos seus patrícios para o Brasil e das dificuldades passadas pelos dekasseguis que voltaram para trabalhos temporários no Japão.

O bairro da Liberdade já foi considerado dos japoneses, mas agora é asiático com mais coreanos e chineses

Um artigo escrito por Naoji Shibata, correspondente do Asashi Shimbun no Brasil, que já trabalhou em Manila, nas Filipinas, e Bangkok, na Tailândia, foi publicado no site daquele jornal. Se algo parecido se repete na imprensa japonesa é porque nem todos os japoneses sabem que muitos dos seus patrícios emigraram para o Brasil e alguns dos seus descendentes, pelas dificuldades econômicas no país, tiveram que procurar trabalho temporário no Japão, e muitos já retornaram frustrados com o Japão.

O artigo informa que na Era Showa (1926 – 1989), muitos japoneses vieram para o Brasil, mantendo os seus costumes neste país como se o tempo tivesse parado naquela época. Quando o Brasil enfrentava dificuldades, muitos dos seus descendentes foram para o Japão para trabalhar como dekasseguis. Hoje, muitas empresas corretoras de recursos humanos locais recebem novamente pedidos do Japão para novos trabalhadores temporários, mesmo que não dominem o idioma japonês e tenham tatuagens, o que não era apreciado no passado. Mas os números que conseguem são bem menores, quando comparado como o período áureo deste movimento nas décadas passadas.

Baseado nas informações fornecidas pelo professor Masato Ninomiya, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, especialista no assunto, o artigo informa que 190 mil imigrantes japoneses vieram para o Brasil antes da Segunda Guerra Mundial e cerca de 70 mil depois dela. Com a reversão da migração, a população brasileira no Japão chegou a 320 mil no seu pico. Estima-se que em 2014 estavam reduzidos a 180 mil e com a atual política chamada Abeconomics há uma necessidade de maior número de trabalhadores estrangeiros, mas não há ainda indícios que o número de brasileiros volte a aumentar no Japão.

O artigo reproduz as informações de uma japonesa que veio para o Brasil em 1958 com a promessa de que aqui poderia ganhar muitas vezes mais. Voltou para o Japão em 1990 com o mesmo tipo de conversa, e agora as informações é que esta diferença é bem menor se retornar àquele país. A experiência dos brasileiros que foram para o Japão é a dificuldade de adquirirem conhecimentos para seus aperfeiçoamentos, permanecendo em tarefas simples.

Outra brasileira mencionada foi com a mãe para o Japão que lá faleceu. Ela tinha adquirido habilidade com o idioma inglês e ficou trabalhando como intérprete num hospital. Ela retornou ao Brasil, pois sempre se sentiu estrangeira e não poderia ter a mesma ascensão dos locais.

O artigo menciona sobre os elevados custos pagos especialmente pelas crianças que tiveram que enfrentar adaptações. Ainda que nestes processos tenham permitido muitas transferências de recursos para os familiares, além de algum intercâmbio cultural.

O articulista questiona-se se os japoneses fizeram os esforços necessários para integrar os brasileiros no Japão. Ele questiona o comportamento insular do seu país, sendo interessante observar que ele também teve experiências nas Filipinas e na Tailândia, não se restringindo ao caso brasileiro.

Ele chama a atenção para o atual influxo de turismo estrangeiro, mas alerta que isto se deve em parte aos problemas cambiais, não sendo um sinal de integração internacional do Japão. Quando comparado com outros artigos que trataram do assunto, nota-se que esta vivência de seus jornalistas em diversos países está enriquecendo o debate que deve ser travado.

Mas o debate deveria se elevar também para outros recursos humanos de maior qualidade, inclusive executivos, pois os brasileiros ainda não contam com oportunidades nas grandes empresas japonesas. Sem uma maior integração do Japão na economia mundial, mesmo os esforços que estão sendo feitos no país não podem proporcionar resultados duradouros e expressivos.



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