Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Os Problemas Políticos dos Países Emergentes

21 de agosto de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: , , ,

clip_image001 Ainda que o artigo de Bill Emmott, publicado no Project Syndicate, seja estimulante para muitas reflexões, sua exagerada generalização sobre os problemas de natureza política enfrentados pelos principais países emergentes parece ajudar pouco nos seus equacionamentos. Uma grande parcela do artigo refere-se ao caso brasileiro.

Bill Emmott, ex-editor do The Economist por 13 anos

Bill Emmott é uma personalidade respeitável da imprensa mundial e seu currículo mostra que executou importantes tarefas, como de editor chefe do The Economist por 13 anos, além de ser o autor de muitos livros. No seu artigo publicado no Project Syndicate generaliza que os países emergentes, antes considerados importantes, deveriam estar moldando o mundo futuro, mas eles estão enfrentando muitos problemas, inclusive o Brasil. Atribui suas dificuldades a diversas razões, como os preços das commodities, os combustíveis que foram extraídos do xisto, as taxas de juros dos Estados Unidos, El Niño, a China e outros que são apontados frequentemente como relevantes. Mas, para ele, a resposta é simples e tradicional: é a política.

Ele pede para observar o caso brasileiro, que já não cresce há dois anos e agora está encolhendo. Reconhece que a queda dos preços das commodities tem ajudado neste resultado, mas o que era suposto é que o Brasil tinha mais do que boas colheitas e atividades extrativas. Aponta também a Indonésia, a Turquia, a África do Sul e a própria China, lista na qual poderiam ser incluídos muitos outros países.

Ele entende que muitos interpretavam que os países emergentes estavam destinados a crescerem mais que o mundo desenvolvido, importando tecnologias e sistemas de gestão, combinando baixos salários e aumentos de produtividade. Ele mesmo reconhece que isto é uma generalização exagerada para cobrir uma ampla gama de economias da Ásia, América Latina, África e Europa Oriental.

Ele entende que a determinante principal para economias emergentes se habilitarem atualmente a se desenvolverem de forma sustentável é a Política, com todos os seus instrumentos e as instituições para a sua governança adequada. Mais precisamente, muitos países passam por ondas de crescimento aproveitando ciclos das commodities, mas possuem instituições políticas disfuncionais, e os testes reais ocorrem quando enfrentam períodos desfavoráveis e os países necessitam mudar seus cursos.

No caso brasileiro, ele entende que a inflação não está controlada de forma a não provocar a recessão e os problemas não correm pela má sorte ou perda do espírito animal dos empresários, mas por causa das falhas políticas. O Brasil tem sido relutante em cortar o seu inchaço do setor público, ficou atolado na corrupção e a presidente Dilma Rousseff insiste na predileção pelo capitalismo dirigido pelo Estado, que leva para estes problemas.

Outros países emergentes deixam de cumprir sua tarefa básica de mediar habilmente as concorrências de seus grupos de interesse e blocos de poder, a fim de preservar o interesse público. Ele é a favor da destruição criativa das indústrias e adaptação às novas circunstâncias que vão surgindo para permitir um crescimento sustentável.

Seria mais que as democracias as necessárias, permitindo instituições como a liberdade de expressão. Ele acha que Cingapura seria um exemplo a ser seguido, entendendo que nem a China conseguiu aprender a lição, com um Partido Comunista incapaz de desafiar os monopólios das estatais. Ele entende que há necessidade de flexibilidade e capacidade de adaptação, o que é possível pela política com a preservação do Estado de Direito.

Parece evidente que muitos países emergentes ocupam vastas áreas com muitas etnias na sua população, contando com uma diversidade difícil de ser conciliada pela política como num país com a dimensão de Cingapura, por mais interessante que seja o seu exemplo. Os níveis de exportação e do mercado interno são diferentes entre muitos países, e o estágio de desenvolvimento político apresenta diferenças substanciais.

Que todas as dificuldades possam ser apontadas como políticas parecem simplificações como se todas decorressem das suas insuficiências educacionais. O fato concreto é que todas podem ser denominadas políticas, mas isto não resolve os problemas. Pode se admitir que razões políticas sejam até mais relevantes que as econômicas, mas normalmente são estas que geram as necessidades de mudanças políticas. O que seria interessante é analisar o que provocaria esta rigidez no quadro político, ainda que muitas instituições estejam desenvolvidas de formas desiguais entre os países emergentes. Parece que a análise caso a caso ajudaria muito mais na identificação de suas limitações, até porque as histórias delas são diferentes em tempo e contam com culturas variadas.

Parece indispensável que sejam feitos diagnósticos mais detalhados para que as soluções possam ser mais operacionais.



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