Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Acordo de Plaza e as Dificuldades de Coordenação da Política

18 de setembro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

imageHouve um período onde o relacionamento nipo-brasileiro era intenso, quando Toyoo Gyohten, um grande e competente amigo do Brasil e meu amigo pessoal, era o chefe do International Finance Bureau, do Ministério de Finanças do Japão, além de ter ocupado outros cargos importantes como vice-ministro Internacional do Ministério das Finanças do Japão.

Tomoo Gyohten deu uma importante entrevista histórica sobre política econômica para o jornal Nikkei

Eu o conheci quando ele era representante do Japão no BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento, e fazia parte de uma elite do Ministério de Finanças do Japão, que muito ajudou o Brasil em importantes financiamentos internacionais, quando o País ingressava no mercado internacional.

A recente entrevista dele para o Nikkei recorda o Acordo de Plaza, de 1985, quando o Japão, o Reino Unido, a Alemanha e a França, junto com os Estados Unidos, formavam o poderoso G-5. O Japão, segundo o seu depoimento, diferente da interpretação que ficou na história econômica mundial, não sofreu pressões dos Estados Unidos para aquela decisão. Mas se reconhecia a importância da economia norte-americana para o mundo e era necessário desvalorizar o dólar para haver maior equilíbrio internacional, de forma que as contas externas daquele país fossem ajudadas por uma expansão de suas exportações.

Observa-se que as grandes economias da época tinham uma solidariedade maior entre elas e supriam as insuficiências dos organismos internacionais que não tinham ainda uma importância maior, mesmo que já existisse o FMI – Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Atingiram os objetivos perseguidos naquela ocasião com os países ajudando a promover a desvalorização do dólar, mas Toyoo Gyohten reconhece que o Japão não estava preparado politicamente para as reformas posteriores necessárias, como acontece hoje no mundo de forma similar, tanto no Japão quanto na China, bem como em outros países.

Segundo ele, o dólar já estava com a tendência para a desvalorização, e o que fizeram foi chutar a bola numa ladeira e aquela moeda continuou a desvalorizar-se. Mas a decisão japonesa para estimular o Acordo aumentava o consumo norte-americano, o que ninguém atreveria a criticar, pois a economia mundial dependia muito dos Estados Unidos.

A valorização do yen acabou sendo prejudicial ao Japão, que deveria ter executado as reformas indispensáveis, como se tenta agora com o Abeconomics, mas não está se conseguindo de forma adequada. Já havia um plano chamado Maekawa para tanto, visando aproveitar o mercado interno, e depender menos das exportações, mas não se conseguiu o apoio político e nem da população.

O Bank of Japan não contava na ocasião com autonomia, fazendo com que o Ministério de Finanças também tivesse suas responsabilidades para os fracassos políticos. Sem as reformas estruturais, o déficit orçamentário ocorria pela expansão fiscal. Ela era perseguida pela flexibilização da política monetária, acabando por gerar a bolha em 1987, o que também foi anulado pela ocorrência do Black Monday.

Pelo depoimento, pode se notar que muitos problemas acabam sendo similares mesmo em diferentes economias e épocas distintas. Não parece fácil se efetuar a coordenação da política fiscal e monetária contando-se apenas com a cooperação do setor político para efetuar as reformas indispensáveis. Também parece sugerir que os economistas não são capazes de mobilizar a opinião pública para os políticos tomarem as decisões indispensáveis, como parece acontecer hoje no Brasil.



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