Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Questão da Fé na Atuação Política

10 de outubro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: , , ,

Apesar de muitos analistas considerarem que as religiões, pela sua natureza, tendam a ter um comportamento conservador, o que vem se notando é uma transformação dinâmica ao longo das últimas décadas em muitas delas, notadamente depois da Segunda Guerra Mundial. No Brasil, parece haver uma maior distorção delas diante de um processo pela conquista de fiéis, utilizando os instrumentos de comunicação social, como a rádio e a televisão, que dependem da concessão governamental.

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Ilustração constante do artigo publicado no suplemento Eu & Fim de Semana do Valor Econômico

O assunto mereceu um artigo de Patrick Cruz, publicado no suplemento Eu & Fim de Semana do jornal Valor Econômico. Para uma compreensão adequada do problema, seria conveniente uma rápida análise do que vem acontecendo entre os chamados cristãos, onde o relevante no Brasil restringe-se aos católicos e protestantes, lembrando também os ortodoxos e os episcopais, muitas vezes confundidos nestas divisões. O meu conhecimento pessoal sobre estas questões decorre da colaboração passada com o Conselho Mundial de Igrejas, no chamado Advisory Committee on Technical Services, que reúne as igrejas protestantes, mas adota atualmente uma posição mais ecumênica, inclusive com entendimentos com os não cristãos, como budistas, islâmicos e muitos outros. Ele conta com uma sede em Genebra, na Suíça.

Todos sabem que historicamente os cristãos se dividiram, a grosso modo, entre os católicos apostólicos romanos e os protestantes, com a reforma provocada por Martinho Lutero em 1517, dando origem a muitas diferentes denominações. Ainda que já houvesse a diferença entre os cristãos do Ocidente e do Oriente, com os últimos se agruparando entre os ortodoxos. Posteriormente, com a Igreja Anglicana (episcopais), houve nova divisão.

Do ponto de vista de atuação social, o fim da Segunda Guerra Mundial parece ter sido relevante, com alguns católicos passando a se preocupar com as vítimas da guerra, a maioria desempregados, com o surgimento dos “padres operários”, que influenciou no Misereor, braço de atuação social dos católicos em países menos desenvolvidos. Os protestantes procuraram atuar por intermédio do Conselho Mundial de Igrejas. Muitas igrejas tinham suas ações sociais em maior ou menor intensidade, variando ao longo do tempo, normalmente num esquema de pequenas paróquias.

No Brasil, os protestantes começaram com as igrejas que contavam com estruturações hierárquicas com os luteranos, presbiterianos e metodistas, mas nas últimas décadas as chamadas igrejas congregacionais, como as batistas, acabaram contando com maior dinamismo, formando novas denominações como a Assembleia de Deus, a Universal e outras, que perceberam a importância dos meios de comunicação social para conseguir mais fiéis que contribuíam com seus dízimos. Há os que criticam estas denominações, pois passaram a se concentrar nestas atividades que proporcionavam volumosos recursos para seus dirigentes, inclusive com o controle de veículos de comunicação social de forma empresarial.

Para obterem as concessões para os meios de comunicação social, acabaram utilizando seus acessos aos fieis para contar com seus representantes políticos, como os deputados federais, estaduais e vereadores. Acabaram se transformando em segmentos relevantes de alguns partidos políticos, com evidentes distorções quando as religiões se confundem com posições ideológicas ou partidárias.

Há que se admitir abusos no uso das imunidades fiscais sobre atividades religiosas, previsto na Constituição de muitos países, inclusive a brasileira. Muitas se transformaram em organizações multinacionais, atuando em diversos países, sem qualquer espécie de controle, apresentando riscos elevados de distorções.

Quando se formam no Congresso brasileiros frentes parlamentares de evangélicos de diversas denominações, atuando como verdadeiros partidos políticos, as preocupações devem ser maiores. São frequentes os casos de problemas em muitos países quando a política acaba se confundindo com as religiões, que pela sua natureza se baseiam em crenças nem sempre compatíveis com as necessidades de convivência de grupos de diferentes formas de pensar, que caracterizam as democracias.



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