Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Entrevista de Li Daokui para a Folha de S.Paulo

27 de dezembro de 2015
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

clip_image002Uma entrevista do economista chinês Li Daokui (foto), doutorado por Harvard e professor na famosa Universidade de Tsinghua, ao jornalista Marcelo Ninio sobre a atual desaceleração do crescimento econômico da China é importante. Ele também é o responsável pelas reuniões anuais dos BRICS.

Segundo o economista, existe uma preocupação exagerada com a desaceleração da economia chinesa, afirmando que, apesar da redução de sua exportação e da produção industrial, está havendo uma grande ampliação dos serviços, além de aproveitamento da demanda interna. Também ocorre na China um agressivo combate à corrupção, mais acentuado que no Brasil.

Ele afirma também que a mudança da política demográfica de um filho por casal provoca efeitos sobre a China. Mais do que isto, a mudança do controle dos fluxos migratórios internos, do meio rural para os centros urbanos, deve provocar efeitos difíceis de serem avaliados.

A entrevista muito interessante não foi explorada a fundo pelo jornalista brasileiro. Ele poderia extrair mais detalhes das medidas tomadas pelas autoridades chinesas, pois se sabe que as mudanças processadas, com a redução relativa da importância das estatais e as restrições políticas geradas por alguns segmentos mais tradicionais da China não podem ser desprezadas. Como são setores que empregam muitos, é sempre difícil coordenar tudo dentro de uma economia tão complexa como a chinesa, que depende crescentemente do mercado.

Na realidade, o sistema de comando centralizado, mesmo utilizando o poder autoritário do Partido Comunista, passa a depender das reações do setor privado que se multiplica em variadas iniciativas que precisam ser estimuladas, não se conhecendo os detalhes destes mecanismos naquele país. O Brasil precisa se preocupar com a desaceleração chinesa, pois parte substancial das exportações, quer de minérios como de produtos agropecuários, para aquele país dependem dos ajustes efetuados, que não são fáceis e não devem ser desconsiderados.

Espera-se que o entrevistado tenha razão, mas parece ser importante se conhecer os meios e as formas de atuação do governo, pois a China é cada vez menos comandada somente pelo poder central. Coordenar o mercado exige outros instrumentos que não são tão diretos como as ações governamentais.

O impacto das variações na China no mercado internacional acaba afetando as exportações brasileiras não somente para aquele país, mas para o mundo, e inclusive para o mercado interno brasileiro, sendo muito importante ter uma noção mais clara e não oficial da evolução esperada na China.

A avaliação das possibilidades do sucesso da nova política que está sendo empregada na China seria mais fácil contando com detalhes dos instrumentos que serão manipulados bem como a sua intensidade, ainda que todos estejam torcendo para que as conclusões mais conservadoras estejam incorretas e haja forma de se manter um crescimento econômico em torno de 7% ao ano.



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