Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Distorções do Sistema Financeiro e Suas Correções

10 de janeiro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: , , , ,

clip_image002John Kay é um importante jornalista econômico do Financial Times e professor na consagrada London School of Economics. O que ele escreve deve ser considerado em profundidade, pois reflete o senso comum de muitas pessoas.

John Kay, colunista do Financial Times e professor da London School of Economics

John Kay conta com cabedal para comentar com uma visão ampla o que vem acontecendo com o sistema financeiro mundial, cada vez mais distorcido, deixando de cumprir seu papel fundamental para proporcionar somente exuberantes remunerações para os seus dirigentes, usando sofisticações estatísticas e tecnológicas que fogem do mundo real. Muitas operações são quase instantâneas e efetuadas por computadores, sem que serviços relevantes sejam feitos para o aumento do bem-estar da humanidade.

Para mim, que continuo muito conservador nestes assuntos financeiros, os bancos e outras instituições deste mercado nasceram para a função de reunir os recursos daqueles que o possuem para empresários os aplicarem em empresas de produzam bens para atender a coletividade. O mesmo vale para os governos que precisam criar as condições para a realização destes investimentos.

Para John Kay, os agentes do sistema financeiro do passado conheciam bem as empresas e recomendavam aos seus clientes aplicarem seus recursos nelas. Algo similar acontecia com as companhias de seguro, que canalizavam os recursos de muitos pequenos segurados em operações de financiamentos como os de infraestrutura. Hoje, os mercados são anônimos, substituindo as relações pessoais.

A criação de novos mercados em instrumentos como os derivados, com o desenvolvimento da matemática dos mercados financeiros, serevem para análises inclusive da pretensão de redução dos riscos. Os mercados seriam bons e quanto mais deles melhor, deixando até o lado real, quando, para o autor, precisamos de instituições financeiras para conceder crédito, para fornecer capital para os novos empreendimentos e gerenciar os riscos.

Hoje, os contratos derivativos em aberto são três vezes os valores dos ativos físicos do mundo. As transações diárias de câmbio são quase cem vezes as de comércio de bens e serviços. Os computadores estão constantemente oferecendo para comprar e vender, sendo que seu proprietário pode o ser por menos do que o piscar de um olho. As remunerações dos dirigentes de instituições financeiras são astronômicas, mas deixam problemas como os que vêm acontecendo recentemente.

Em 2008, comprovou-se que as rentabilidades dos bancos eram ilusórias, e pior, para não provocarem riscos sistêmicos, foram fortemente ajudados pelas autoridades com recursos públicos. Nada de fundamental mudou. John Kay entende que precisamos do setor financeiro para gerir nossos pagamentos, financiar o parque habitacional, restaurar a infraestrutura, financiar as aposentadorias e apoiar novos negócios. Mas, lamentavelmente, a intermediação financeira tornou-se um fim em si.

Segundo ele, o conhecimento valorizado é a compreensão das atividades de outros intermediários financeiros, para rearranjo do que já existe. Altos salários e bônus são concedidos não para valorizarem os bens e necessidades dos utilizadores dos serviços financeiros, mas para superar os concorrentes participantes do mercado.

O autor entende que a solução para estes problemas não decorre do aumento de regulamentações, que costumam ser sugeridos pelos que estão neste mercado. O que seria necessário é uma filosofia completamente diferente, que incida sobre a estrutura da indústria e os incentivos dos indivíduos e firmas deste mercado. Uma regra Glass-Steagall, que procura evitar as crises, modernizado, tornando obrigatório a separação dos bancos de investimentos dos bancos de varejo, seria um bom começo.

Segundo ele, seria necessário algo simples, um sistema de serviços financeiros adaptado aos propósitos da economia não financeira – um sistema eficiente de pagamentos, efetiva alocação de recursos, estabilidade econômica, segurança para o planejamento e gerenciamento das finanças pessoais, e confiança nas pessoas que nos assessoram. Um relacionamento mais direto entre os poupadores e tomadores de recursos, com lucros ligados com os serviços proporcionados. E uma redução da influência do setor financeiro nas atividades políticas para a posição adequada.

Parece ser uma posição respeitável, havendo necessidade de um maior debate da proposta que aparenta ser adequada, ajustando-se às diferenças existentes nos sistemas financeiros em todo o mundo.



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