Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Dura Realidade dos Espetáculos Clássicos

6 de abril de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

clip_image002Um dos poucos luxos culturais a que eu e minha esposa nos permitimos são os concertos da OSESP e algumas transmissões de óperas que chegam à São Paulo provenientes de Nova Iorque ou Londres. Um artigo publicado por Heidi Waleson, crítica de óperas do The Wall Street Journal, obriga-nos a efetuar algumas reflexões sobre o assunto.

Kiera Duffy e Anthony Roth Costanzo em foto de Jill Steinber, publicada no artigo do The Wall Street Journal sobre uma ópera apresentada no Brooklyn

Esta obra apresentada no Brooklyn era “Orphic Moments”, inspirada em Orfeu e Eurídice, um projeto que tinha como curador o contratenor Anthony Roth Constanzo no National Sawdust, em Williamsburg. É uma cantata do compositor e libretista Matthew Aucoin, que foi apresentada duas vezes, com capacidade de público de 145 pessoas para cada apresentação. A entrada foi de US$ 30, o local era uma garagem de caminhão, com direito a bebidas, como tem acontecido em Nova Iorque no chamado off Brodway. O espetáculo tinha três cantores, sua orquestra e o coro formado por alunos da Escola de Música de Manhattan, evidentemente com lotação esgotada.

Para contraste, no Metropolitan Opera, foi apresentado o Dom Pasquale, de Donizetti, com a soprano Eleonora Buratto, com o tenor mexicano Javier Camarena, um dos poucos a quem se solicita bis no Met, e o barítono Ambrosio Maestri. Foram cinco apresentações com capacidade de 3.800 assentos em cada uma, notando-se que havia muitos lugares vagos. O Met precisa de US$ 300 milhões além do orçamento para pagar todos os seus custos, uma orquestra de 55 membros dirigida por Peter Rundel, um coro profissional, além de 100 ovelhas reais utilizadas neste espetáculo ao vivo e todos os apetrechos indispensáveis para uma produção de alto luxo que se insiste em ter continuidade. Até quando será possível sustentar todo este luxo? As apresentações que são projetadas em muitas salas em todo o mundo não parecerem estar proporcionando as receitas adicionais esperadas.

Tenta-se estes dois extremos de espetáculos para identificar o que vai continuar a ser o futuro. Ainda que sem os mesmos problemas, nota-se na Sala São Paulo os esforços da OSESP para se manter dentro da atual crise, que não é somente brasileira. Como a demanda mundial por música clássica está em baixa, reduzem-se os nomes de astros, cujos custos são elevados, apesar da disponibilidade em suas agendas. Vem verificando-se que jovens artistas estão se esforçando para ocupar os seus espaços com as oportunidades que lhes são oferecidas, atendendo adequadamente as exigências de um público menos rigoroso.

Tem havido boas surpresas, mesmo com os programas se concentrado nas peças que não são tão difíceis de serem executadas. Os novos talentos, já comprovados em concursos importantes, vêm mostrando suas qualidades e potencialidades, mais do que nomes já consagrados que aparentam, muitas vezes, alguns tipos de cansaços. O que aparenta um exagero é o uso do que não é tradicional na música clássica, onde as inovações, que devem ser estimuladas, nem sempre apresentam a criatividade esperada.

É preciso ser pragmático entendendo que no mundo globalizado, que enfrenta todas as ordens de dificuldades, também os aspectos culturais sofrem suas limitações. Mas deve-se recordar que nos momentos nem sempre brilhantes, as criatividades deram margem a inovações surpreendentes, e nos períodos considerados favoráveis aconteceram algumas acomodações.



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