Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Pressa é Inimiga da Perfeição

26 de outubro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política, Editoriais e Notícias | Tags: , , , | 2 Comentários »

É sempre conveniente se fazer um balanço de tempos em tempos do que vem ocorrendo no Brasil desde a descoberta do pré-sal. O estabelecimento do acordo para a definição dos escopos da delação premiada da Odebrecht é um marco importante, ainda que a sua conclusão com todos os depoimentos indispensáveis demande muito tempo. O que se pode concluir é que a pressa é inimiga da perfeição, envolvendo todos que imaginam que etapas importantes podem ser abreviadas pelo desejo das autoridades, sem que se tomasse cuidados indispensáveis para evitar distorções que propiciassem oportunidades para a corrupção.

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O mapa do pré-sal descoberto no Brasil, colocando-o entre os maiores países potenciais produtores de petróleo no mundo

Autoridades brasileiras estavam habituadas a administrar gigantescos programas petrolíferos e exageraram no seu entusiasmo, imaginando que poderiam tirar o máximo proveito com a sua exploração acelerada, beneficiando grandes grupos empresariais brasileiros com o fornecimento de equipamentos que não estavam capacitados tecnologicamente a produzir, utilizando conhecimentos de grupos internacionais. Estes grupos privados brasileiros foram convidados a estabelecer empreendimentos que chegariam a fornecer centenas de bilhões de dólares de equipamentos sofisticados, com parte da produção local, além dos fornecimentos de plataformas e todas as embarcações indispensáveis para estas atividades até produzidos no exterior. Acabou-se estimulando a formação de um cartel para uma exploração acelerada do pré-sal, que também beneficiaria as regiões próximas das reservas mais expressivas. Da produção, que geraria recursos gigantescos, parte seria até destinada ao custeio de programas educacionais e de saúde para atendimento da população menos privilegiada do país.

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Petrobras extraiu petróleo do pré-sal pela primeira vez em setembro de 2008. No campo de Tupi, a fase de extração petrolífera chamada de "teste de longa duração" teve início em maio de 2009

Entre os grupos privados de elevada capacidade de mobilização de recursos, estavam as principais empreiteiras envolvidas nos grandes projetos de construção civil. Elas acabaram construindo estaleiros para estes fornecimentos, sendo que a Odebrecht era a mais avançada nestas atividades, inclusive com atuações na área petrolífera no exterior, envolvendo-se até com a petroquímica com uma subsidiária, a Braskem.

O mundo das atividades petrolíferas não é considerada das mais cuidadosas com as possibilidades de distorções, sendo que os petroleiros para o transporte da produção costumam contar com a bandeira liberiana, dada a flexibilidade de sua legislação que se assemelha com a dos paraísos fiscais. Tradicionalmente, existem margens de fornecimento de petróleo que originalmente eram destinados à cobertura dos riscos decorrentes de suas perdas potenciais, que davam possibilidade da formação de fundos depositados nos paraísos fiscais para atividades que envolviam seus funcionários como dirigentes, o que já vinha acontecendo desde o século XIX, quando não existiam estatais como a Petrobras e assemelhadas. O petróleo era considerado estratégico e muitos países contaram com empresas estatais, como a Pemex mexicana, para servirem de contraponto às ações cartelizadas, como as oficializadas nos acordos da OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo.

Na ausência de um cuidado especial com estas distorções, sempre surgem possibilidades para os problemas que vieram ocorrendo no Brasil. Agora, com a tendência de maior preocupação com os combustíveis não fósseis que provocam muita poluição, o petróleo tende a perder sua importância relativa. Também as pesquisas se dedicam às tecnologias economizadoras de energia. E o mundo continua se aperfeiçoando para formas mais saudáveis de vida, com qualidade.

Há que se anteciparem as mudanças que devem ocorrer nas próximas décadas, onde o petróleo e o gás só sejam utilizados para finalidades mais nobres. O Brasil que tem muitas alternativas não pode continuar se esforçando somente na produção do petróleo, cuja fase áurea já parece ultrapassada.

Ajustamentos significativos precisam ser antecipados escolhendo novas prioridades para a economia brasileira, que dispõe de muitas alternativas. É preciso escolher atividades que criem empregos para os brasileiros, aproveitando outras condições como a biodiversidade, na qual o país é muito rico. Mas tudo terá que ser feito com realismo nos cronogramas, pois milagres nunca existiram.

Muitos países estão concentrando esforços no sentido do desenvolvimento de tecnologias que permitam o aumento da produtividade para atender as novas necessidades que estão se multiplicando pelo mundo todo, notadamente com o aumento das expectativas de vida, ampliando campos como dos serviços, que tendem a exigir dimensões de empreendimentos menores, adequados às necessidades de cada comunidade.

Parece que preocupações morais também devem ser acrescentadas aos objetivos de uma sociedade, pois as injustiças e o aumento das disparidades de renda acabam provocando naturalmente anseios por maior igualdade.


2 Comentários para “A Pressa é Inimiga da Perfeição”

  1. Tomás
    1  escreveu às 15:08 em 26 de outubro de 2016:

    “Autoridades brasileiras estavam habituadas a administrar gigantescos programas petrolíferos e exageraram no seu entusiasmo, imaginando que poderiam tirar o máximo proveito…”
    A frase acima ilustra de forma perfeita como foi administração petista na Petrobras, que destruiu a maior empresa do Brasil.

    Parabéns pelo fantástico texto.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 18:11 em 26 de outubro de 2016:

    Caro Tomás,

    Obrigado pelo seu comentário.

    Paulo Yokota


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