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Itaipu Produz Mais que Three Gorges

19 de dezembro de 2016
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

Quando muitos brasileiros ficam com dúvidas sobre a capacidade do País superar as dificuldades atuais, parece útil verificar o que já foi feito no passado, quando os problemas políticos e econômicos eram maiores, depois da construção de Brasília, quando se começou a gastar o que não existia. Um dos orgulhos profissionais que temos é ter trabalhado na CIBPU – Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai organizada pelos sete Estados da região Centro-Sul do Brasil num período conturbado para ajudar a construir o sistema hidroelétrico da região que impressionou o mundo.

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Usina Hidroelétrica de Itaipu, um empreendimento binacional do Brasil e Paraguai

A capacidade instalada da usina de Three Gorges na China é superior ao de Itaipu, mas conseguiremos produzir mais energia em 2016, estimado em 102,5 milhões de MWH. Isto acontece pelo segundo ano seguido, pois a produção de uma usina depende de um conjunto de fatores como a regularidade mínima do fluxo de água durante o ano, a sua demanda como do uso adequado de todos os equipamentos disponíveis, como profissionais que ajudam a colocar tudo em marcha. Isto decorre em grande parte do planejamento de longo prazo que foi feito na região Centro-Sul do Brasil em termos hidroelétricos, num período conturbado do ponto de vista político.

Na bacia que abastece Itaipu existem dezenas de hidroelétricas ao seu montante cujas construções foram planejadas em sequência e de tal forma que se assegurasse um fluxo mínimo de água durante todo o ano, mesmo afetadas pelas chuvas que ocorram ou não. O que costuma impressionar os leigos turistas como as volumosas águas que são lançadas das represas dando uma imagem impressionante são os excessos de água que precisam ser reduzidas para que as barragens não sejam destruídas. As águas para a geração da energia elétrica passam pelo interior da usina onde estão as turbinas e os geradores não sendo visíveis para os leigos a não ser quando já lançadas rio abaixo sem proporcionar imagens de forte impacto.

As usinas do Rio Grande, na fronteira do Estado de São Paulo e Minas Gerais, foram sendo construídas para múltiplas finalidades. Além de gerarem energia, possibilitava a navegação fluvial, a irrigação, o turismo, a piscicultura, entre outras atividades. O complexo de Urubupungá, por exemplo, com as usinas de Ilha Solteira e Jupiá é uma obra de engenharia hidroelétrica que orgulha os brasileiros. As águas que passam por uma usina são novamente aproveitadas pela usina seguinte. Foi construída uma barragem no rio Tietê e a água foi transportada para montante para aumentar a capacidade de produção de energia hidroelétrica do conjunto.

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O aumento da capacidade de geração hidroelétrica do conjunto de Urubupungá

Até chegar à Itaipu, muitas outras obras foram executadas, o que não é possível no Rio Amarelo na China que alimenta Three Gorges. O relevante em hidroenergia é o fluxo mínimo de água possível durante um período e não o montante de água.

A tecnologia para a construção de Itaipu, totalmente brasileira, é algo que impressionou os especialistas de todo o mundo. Para lançamento do concreto necessário para a barragem foram construídas fábricas de gelo e as caçambas com o concreto de 10 toneladas eram lançadas em sequência com o uso de cabos de aço. Quem não teve a oportunidade de ver pessoalmente estas operações pode ter uma vaga ideia vendo no You Tube, um trabalho da Itaipu Binacional chamado “O Ciclo do Concreto”, além de muitos outros documentos técnicos sobre esta monumental construção.

O que pode se lamentar é que parte importante de todo este acervo tecnológico está sendo sacrificado pelo recente envolvimento das grandes empreiteiras brasileiras nos problemas relacionados com a Petrobras. Há que se encontrar uma forma das empresas serem preservadas ainda que eventuais dirigentes sejam punidos pelos crimes a que foram induzidos por programas como o pré-sal.

O Brasil já superou graves problemas no passado, mas há que se contar com um governo com um mínimo de capacidade que tenha o respaldo do voto popular, sabendo que há muito trabalho sério a ser acumulado por décadas, não permitindo a superficialidade no tratamento de problemas complexos, como está se exagerando no passado recente, com a responsabilidade de todos.



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