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Reflexões Sobre os 463 Anos de São Paulo

26 de janeiro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: , ,

Quem observa com um pouco de atenção os 463 anos de história de São Paulo pode perceber muitos dos méritos desta metrópole, mas também as preocupantes dificuldades atuais sem que apontem corretamente as origens de suas causas, alertando-se como será o futuro que comporta aperfeiçoamentos importantes a serem introduzidos para a melhoria da qualidade de vida da sua população.

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São Paulo de 463 anos que não se limita ao Município da Capital, mas forma a metrópole da Grande São Paulo que extravasa suas fronteiras, na foto ilustrada encontrada na internet

São Paulo, fundada pelos jesuítas no atual Pátio do Colégio em 1554, nasceu visando a educação dos indígenas que aqui habitavam e esta deveria continuar sendo a sua marca mais importante para o futuro desta metrópole. Para quem nasceu nela, tendo vivido cerca de 17% de sua história, se existem muitos motivos para orgulho com o seu desenvolvimento também existem preocupações com muitos dos seus problemas recentes e como estão sendo encarados para o seu futuro.

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A educação, que é certamente da maior importância entre todos os demais encargos da sociedade porque determina a formação da população que vai tentar resolver os seus outros problemas, parece passar uma distorção de interpretação como se ela fosse de responsabilidades dos educadores e professores. Já deveríamos ter a consciência que não se trata da educação formal, mas a que começa no berço com os exemplos que são dados pelos pais para seus filhos e ajuda na formação da cultura de uma nação.

Quando se verifica que parte da população paulistana só obedece as regras de trânsito quando é multada e não existem meios para que todos sejam constatados, como os cruzamentos em locais não permitidos, estacionamentos irregulares, abuso das filas duplas e outros, onde os pais estão dando exemplos incorretos para os seus filhos, não se pode esperar que aulas nas escolas corrigissem estas tendências para aumento das transgressões. A tendência será de quando adultos estes filhos continuem pensando que são privilegiados e não estão sujeitos às regras estabelecidas pela legislação para todos, que podem usar o seu poder para impor estes comportamentos aos menos favorecidos, que sempre acabam ficando com os encargos.

Estas distorções tendem a conduzir as formas que os recursos limitados sejam utilizados quando necessário, ainda que outros tenham que arcar com suas consequências, como o que se generalizou em todos os níveis da administração pública. Assim, não se dispõe de assistência médica adequada como educação formal ou todas as medidas para atendimento das necessidades da coletividade.

Um simples exame da história de São Paulo deixaria claro que até o início do século XIX esta metrópole estava num segundo plano do Brasil e só começou a melhorar com a chegada dos novos imigrantes das mais variadas partes do mundo para atender às necessidades da cafeicultura. A economia cafeeira acelerou a melhoria de São Paulo e investimentos feitos pelos ingleses na sua infraestrutura proporcionaram a disponibilidade da energia que foi um grande diferencial para o seu destaque com relação ao resto do país.

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Foto da Avenida Paulista, de Guiherme Gaensluy (c.1902), constante da internet

Os grandes fazendeiros de café que tinham como trabalhadores imigrantes estrangeiros que tinham substituído os escravos acumularam patrimônios que ajudaram a desenvolver a cidade de São Paulo, de fins do século XIX ao começo do século XX. Começou pelos arredores da Estação da Luz como Campos Elíseos, subiu pela Avenida Angélica, chegando à região da Avenida Paulista. Continua evoluindo para novas regiões numa mobilidade exagerada.

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Foto do Largo de São Bento, 1910, onde os bondes que eram puxados por burros já estavam sendo substituídos pelos elétricos

A vinda dos imigrantes de todas as partes do mundo ajudou no desenvolvimento de São Paulo com parte das culturas que para cá trouxeram, acelerando o desenvolvimento que começou com a abolição da escravatura e a criação de um mercado interno. Muitos iniciaram pequenas atividades industriais, comerciais e de serviços que se tornaram possíveis com a disponibilidade da energia elétrica bem como outros serviços públicos, como abastecimento de água e telefonia. Foi um longo período de muitas crises e fases de desenvolvimento acelerado.

Na educação, havia muitas instituições filantrópicas de origem religiosa ou comunitária que complementavam os serviços públicos, como também os problemas de saúde eram enfrentados de forma semelhante por instituições beneficentes apoiadas por organizações de imigrantes. Aos poucos foram sendo ampliados os serviços públicos de massa que acabam tendo menor eficiência, com o emprego de muitos e isolados desenvolvimentos tecnológicos.

Os encargos estatais se aceleram com o término da Segunda Guerra Mundial aumentando também a carga tributária, ao mesmo tempo em que nem sempre todos os funcionários públicos se destinavam às atividades fins, gerando monstruosas administrações públicas que somente atendiam os interesses dos grupos políticos interessados nos resultados eleitorais, de mandatos relativamente curtos. Não se preservou as visões de longo prazo, salvo em poucos setores como de energia elétrica e de transportes em determinados períodos. Bem como a consciência que havia necessidade de se poupar parte do produzido para as necessidades dos investimentos.

Não se fala mais em São Paulo de Planos Diretores como o que Prestes Maia deixou e que traçou o básico desta grande metrópole que marca suas contribuições até hoje.

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Plano de Avenidas de Prestes Maia, constante da internet

Discute-se hoje se aumenta a velocidade mínima nas marginais Tietê e Pinheiros, ainda que se comprove que o número de desastres e mortes ficou reduzido com a diminuição da mesma. Ou se pichando de cinza obras como os dos Osgemeos ou Kobra, consagrados no exterior, vamos melhorar o visual desta grande metrópole. Lamentabilíssimo. Será que não se percebe que todas as inovações no mundo ocorreram com perturbações do status quo pelos que ampliaram novas perspectivas, ainda que se possa condenar a simples pichações?

Há que se enfrentar a esdrúxula situação em que os transportes de massa se disseminam nas grandes metrópoles do mundo, com a continuidade de medidas pontuais de custo mais elevado em São Paulo, com as tecnologias hoje disponíveis? As tecnologias de perfurações de túneis numa cidade que conta com dois espigões, como os que ficaram conhecidos como “tatuzões”, são mais econômicos do que o que se faz com elevados custos na superfície, mas nada se discute sobre o assunto, pois contrariava os interesses das grandes construtoras pesadas. Veja-se o que foi feito em cidades mais complexas como Xangai com mais de 500 quilômetros de metrô em poucos anos, menos prazo do que São Paulo para construir míseras poucas dezenas de quilômetros que deixam de funcionar a cada chuva, como o que acontece também com grande número de serviços públicos. Há algo de muito errado que pode ser resolvido, não com improviso, mas estudos técnicos elaborados de forma mais cuidadosos.

Mas parece indispensável apontar que a responsável por todas estas mazelas é a população que se comporta de forma emocional e parte da mídia que insiste em destacar as considerações superficiais, sem que se insista em estudos de uma profundidade trabalhosa, mas necessária. Tudo exige uma acumulação de muito trabalho e não se deve sair a procura de milagres. Mas existem muitos exemplos mundo afora que podem ser aproveitados em São Paulo com eficiência, economizando tempo para as correções indispensáveis.



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