Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Jornalismo Investigativo no Japão

3 de abril de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: , , ,

clip_image002Alguns jornalistas em todo o mundo estão conscientes que precisam dar a sua contribuição com trabalhos de fôlego para notícias relevantes no mundo serem de conhecimento público, com a máxima exatidão, pois governos e empresas de porte estão distorcendo muitas notícias.

Foto publicada no The Japan Times informando sobre o trabalho de Makoto Watanabe, editor chefe do Waseda Chronicles, uma organização de jornalismo investigativo sem finalidade de lucro, no campus da Waseda University, em Tóquio, artigo longo que vale a pena ser lido na sua íntegra

O artigo de Ayako Mie, publicado no site do The Japan Times, informa que o caso internacional de jornalismo investigativo mais famoso recentemente foi o chamado Panama Papers Investigation, no qual um consórcio de jornalistas analisou 11,5 milhões de arquivos financeiros e legais vazados que mostraram como milionários e personalidades famosas usam contas no exterior no chamado offshore. Dele participou Yoichiro Tateiwa, ex-repórter da NHK (televisão oficial do Japão), que deixou o seu emprego em 2016 porque sentiu que sua maneira de perseguir a verdade não deixava a emissora satisfeita e confortável.

O artigo mostra que o Japão tem uma longa tradição de jornalismo investigativo, sendo que um caso importante levou a renúncia do então poderoso primeiro-ministro Kakuei Tanaka em meados da década de 1970. O repórter Takashi Tachibana publicou num profundo artigo na famosa revista Bungei Shunji em 1974 sobre o extenso network financeiro daquele governante do Japão.

Também menciona que, em 1988, o The Asahi Shimbun publicou o escândalo de subornos envolvendo a enorme empresa de recrutamento de recursos humanos Recruit, levando à maior demissão de políticos naquele país desde a Segunda Guerra Mundial. Em 1999, o jornalista Kiyoshi Shimizu, da revista Focus, já desaparecida, expôs que a polícia de Saitama ignorou o pedido de ajuda de Shiori Kano, morta pelo seu namorado. Existem muitos outros casos semelhantes e observa-se que se usa muito kisha club (clubes de imprensa) para a distribuição de notas oficiais de autoridades e de empresas, muitas vezes com informações distorcidas.

O caso do jornalista Makoto Watanabe, foco principal do artigo em pauta, exigiu 10 meses de trabalho intenso de sua equipe entrevistando muitas pessoas até chegar a dados precisos envolvendo grandes e poderosas empresas, muitas vezes consideradas monstros sagrados. A equipe descobriu distorções provocadas intencionalmente com pagamentos expressivos de empresas até internacionais, o que ainda é negado por algumas. alegando ignorância sobre o caso, como é frequente em desculpas.

Watanabe informa que já tinha conhecimento de muitos casos que denomina marketing furtivo (sealth marketing), mas nunca imaginou que organizações como a Kyodo News, uma cooperativa de notícias das mais importantes do Japão, e a Dentsu, uma das maiores agências de publicidade no mundo, fizessem tais coisas.

A equipe descobriu que a Dentsu Public Relations, uma subsidiária da Dentsu que representava a Bayer, pagou a K.K. Kyodo News, uma empresa de relações publicas e comunicação do grupo Kyodo, depois que ela informou sobre anticoagulantes para pessoas que sofreram acidentes vasculares cerebrais – AVC como se fora uma notícia regular e não como anúncio pago. A K.K. Kyodo admitiu a operação enquanto a empresa farmacêutica não estava ciente da mesma e não tinha solicitado os artigos publicados.

A matéria faz parte do projeto Jornalismo à Venda da Waseda Chronicle, que iniciou suas publicações em fevereiro último e pretende lançar brevemente uma publicação em inglês. A gravidade do episódio é que nenhum medicamento específico é mencionado, nem um especialista responsável é citado. Mas sabe-se que 50% dos pacientes de AVC deixaram de tomar tais medicamentos por não serem eficazes, sendo que a Xarello, da Bayer, é o único no mercado destas drogas.

Como a poderosa Dentsu estava envolvida, nenhum meio de comunicação do Japão ousava informar sobre o assunto. O que acabou rompendo esta situação foi a notícia de que Matsuri Takahashi, que trabalhou 24 anos na Dentsu, se suicidou em dezembro de 2015 em decorrência do excesso de trabalho, despertando uma ira nacional. Constatou-se também que o caso citado não é o único envolvendo esta agência de publicidade, havendo também outro envolvendo medicamento para acne.

Tudo está provocando um terremoto nas relações da Dentsu-Kyodo, mas os responsáveis pelo jornalismo investigativo no Japão acham que este é o objetivo deles, pois a saúde pública deve ser preservada como prioridade. Nem as empresas ou as autoridades podem esconder, fabricar ou distorcer os fatos. É preciso descobrir as verdades. Espera-se que também no Brasil venha a prevalecer este tipo de posicionamento dos jornalistas, pois muitos vazamentos de notícias soam estranhos, envolvendo interesses políticos, com a conivência de órgãos da imprensa que visam maiores vendas com notícias consideradas chocantes.



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