Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Transferência de Propriedade e Investimentos

27 de abril de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

clip_image001Tentando convencer a opinião pública brasileira que os investidores estrangeiros estão confiantes no futuro da economia brasileira, o governo e parte da mídia nacional procuram divulgar as meras transferências de proprietários como se fossem investimentos que estariam ampliando a capacidade produtiva do Brasil.

O suplemento sobre Energia do Valor Econômico informa sobre a ofensiva chinesa no setor energético brasileiro, como se estes investimentos estivessem ampliando a capacidade produtiva de energia no Brasil, quando se trata somente da transferência de proprietários dos já existentes

Este site vem procurando alertar, até com insistência, que os chamados novos investimentos diretos de estrangeiros estão simplesmente transferindo as propriedades já existentes no Brasil, como os destinados à geração ou à transmissão de energia, que antes eram das estatais brasileiras para grupos estrangeiros, inclusive estatais chinesas com destaque. Isto apresenta, na realidade, aumentos de encargos futuros, pois estes investimentos terão que ser honrados com dividendos a serem pagos em moeda estrangeira, quando eram em reais para o Estado ou alguns investidores privados locais que eram proprietários das ações correspondentes. Como não se ampliou a capacidade produtiva e nenhum emprego foi adicionado, os seus benefícios são limitados e potenciais, quando os encargos são seguros.

Pode se alegar que eventualmente os recursos que ficaram com o governo brasileiro podem ser empregados para outras finalidades, mas até agora, como estão sendo utilizados para suprir os déficits ou encargos de custeio, não se detectam os possíveis benefícios de uma forma palpável ou objetiva. Seria conveniente que a mídia ajudasse a opinião pública a compreender que só se trata de uma retórica, com benefícios duvidosos. Do ponto de vista do interesse nacional, parece que passar a depender de potências estrangeiras não é das coisas mais convenientes.

Se isto aumentasse a eficiência dos empreendimentos geradores de energia ou os serviços de sua transmissão seria diferente. Mas se as empresas que prestam tais serviços forem “canibalizadas” nos seus ativos para honrarem compromissos no exterior com financiamentos utilizados para tais aquisições, o mais provável é que haja retrocessos como já foram observados em alguns casos passados. Se as empresas estrangeiras que são as novas proprietárias de usinas de geração ou as linhas de transmissão já existentes estivessem obrigadas a instalar novas usinas ou aumentar as linhas de transmissão, a história poderia ser diferente, mas pelo que se sabe nas licitações atualmente feitas não existem imposições destas naturezas.

Ainda que algum otimismo ajude a melhorar a performance do Brasil, mesmo com a ampla disseminação das notícias preocupantes, não se deve cometer o erro de divulgar meias verdades como se fossem positivas. Uma maior transparência das dificuldades existentes e dos sacrifícios indispensáveis parece que ajudariam a evitar frustrações futuras.

Mas será que não existe nenhum aspecto positivo na economia brasileira? Certamente existe, como uma boa safra agrícola, mas é necessário manter as condições para que isto possa se repetir no futuro, sem se restringir aos resultados de curto prazo. É preciso pensar que na próxima safra vamos enfrentar possíveis dificuldades climáticas e as concorrências com outros países produtores devem ser mais acirradas. Precisamos alongar a visão para o futuro mais longínquo. É preciso alertar também que estamos comparando os atuais resultados com os dados de um período recessivo como do ano passado. Aliviamos um pouco, mas ainda não se trata de uma melhoria comparável com dos anos de grandes resultados do passado. Não parece positivo vender ilusões.



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