Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Rio São Francisco e a Estiagem

23 de agosto de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais e Notícias | Tags: , , ,

imageA maioria dos brasileiros não pode se lembrar desde quando o rico Vale do Rio São Francisco, conhecido como de integração nacional, não apresenta problemas que nunca são resolvidos de forma sustentável, com uma visão de longo prazo.

Foto recente de Sobradinho com a estiagem no sertão nordestino

A Usina de Paulo Afonso foi construída na década de 1950 sendo considerada um marco da exploração hidroelétrica, aproveitando a queda natural de água que havia na área. Antes mesmo disso já havia estiagens que forçaram nordestinos a se dirigem à Amazônia para a exploração da borracha ou migrarem para o Sudeste brasileiro para sobreviverem. As chuvas da região não contavam com barragens, açudes e outras formas de retenção das águas que escoavam rapidamente, ainda que chegasse ao mínimo de 300 milímetros por ano, o suficiente para a produção de uvas, como as destinadas à produção de vinhos na França. Para que as videiras possam produzir boas uvas para os vinhos costumam ser plantadas em terras pedregosas e sofrem um estrangulamento para que as seivas não produzam uvas com exagero de água, que não acumule o açúcar que será transformado em bom álcool. Em muitas irrigações do São Francisco, as águas são excessivas, muito mais do que as necessárias, provocando muitas vezes a salinização do solo, que impossibilita seu aproveitamento para diversas culturas.

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Foto da Usina de Paulo Afonso, construída na década de 1950

Nas margens do rio São Francisco, em vez de se plantarem árvores ciliares que ajudassem a reter as águas e favorecessem as chuvas, foram provocados desmatamentos mesmo das pobres plantas do cerrado de Minas Gerais e da Bahia. Ao mesmo tempo, sabendo-se das irregularidades das suas águas neste vale, projetaram a transposição para o Nordeste, bombeando por elevações significativas, com canais abertos que facilitam a sua evaporação. Como muitos projetos para a retenção das águas, também este se encontra quase parado por falta de recursos, provocando prejuízos significativos.

Na Bacia do Paraná-Uruguai houve um plano mais razoável, adaptando-se o que fora executado no vale do rio Tennessee, nos Estados Unidos, para ajudar a superar a crise de 1929, com a construção de um conjunto de represas com hidroelétricas de montante para a jusante, permitindo o melhor aproveitamento das águas. Também para a navegação, a irrigação, a piscicultura como o turismo.

O que poderia ser algo semelhante do que acontece na Califórnia, que conta com uma das melhores regiões de agricultura irrigada, sobrevive-se no Vale do São Francisco com poucas fazendas que aproveitam suas águas. Há que se corrigir tudo isto com um programa bem elaborado que aproveite as áreas ao seu redor, bem como suas águas, ajudando a proporcionar uma produção de alto valor, com aproveitamento da forte insolação da região. Mas isto só pode ser feito paulatinamente ao longo de muitos anos, com menos critérios políticos e mais técnicos.

É preciso pensar em como transformar limão em limonada.



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