Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Pesquisas Sobre Células-Tronco no Japão

8 de setembro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Saúde | Tags: , ,

Um artigo publicado por Leo Lewis e Clive Cookson no Financial Times informa sobre os avanços contínuos que estão se registrando no Japão sobre as pesquisas de células-tronco a partir da concessão do Prêmio Nobel de Medicina em 2012 ao professor Shinya Yamanaka, que descobriu o chamado iPS. Está havendo uma participação do governo, que poderia ser mais agressiva, e do setor privado, notadamente dos laboratórios e produtores de equipamentos médicos.

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Introdução do artigo no Financial Times sobre o boom atual no Japão das pesquisas sobre células-tronco

O doutor. Hiromitsu Nakauchi, professor de terapia com células-tronco no Instituto de Ciências Médicas da Universidade de Tóquio, encontrou seu amigo de longa data Genjiro Miwa, que vinha se dedicando aos investimentos, segundo o artigo. Eles decidiram criar a Megakaryon, empresa que fundaram em 2011 para a medicina regenerativa baseada em células-tronco como uma contribuição relevante para a humanidade. Os japoneses destinaram US$ 1,15 bilhão nestes trabalhos temendo que o Japão perca a liderança para os Estados Unidos ou outros rivais neste setor específico da medicina.

Há um gráfico no artigo explicando uma maneira original e versátil chamada pluripotente, que usa células-tronco de um blastocisto (embrião precoce). A técnica celular pluripotente induzida, ou iPS, reprograma pele ou outras células adultas com genes ou proteínas para produzir uma cultura similar de células estaminais pluripotentes. Estas são tratados bioquimicamente para se diferenciar em células especializadas para pesquisa ou terapia, segundo explicação dos autores do artigo.

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Plaquetas de sangue produzidas

A descoberta dos pesquisadores japoneses há 10 anos provocou um furor nos meios científicos e está sendo utilizada em variados setores da medicina avançada. Uma é a produção de plaquetas de sangue para coagulação. Hoje, são produzidas do sangue doado que está cada vez mais escasso. Podem ser usadas para o combate ao câncer e para evitar hemorragias de traumas ou cirurgias. A Megakaryon conseguiu a forma de produzir em massa um grande número de plaquetas de células iPS, cujos ensaios clínicos começam em 2018.

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Células da retina

Todos sabem que o governo japonês é relativamente lento, pois suas regulamentações não favorecem as pesquisas ousadas, mas, como ele vem considerando que este setor merece prioridade, parece que as possibilidades possam ser boas, com a ajuda de empresas privadas.

Outro setor refere-se às células de retina para cegueira que permitiriam a conversão da luz para sinais que possam ser processadas pelo cérebro. Isto beneficia muitos idosos e a Kobe City Medical Center já começou os ensaios clínicos com células de retina derivadas de células iPS.

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Pesquisas de células-tronco para minorar as doenças de Parkinson realizadas com macacos

Alguns neurônios são prejudicados pelas doenças de Parkinson que reduzem os movimentos de alguns idosos. Os mesmos já foram substituídos em pesquisas com macacos. A Universidade de Quioto espera que em 2018 se possam realizar os ensaios clínicos com os seres humanos.

Com a cooperação do setor privado, outras pesquisas estão sendo realizadas com células-tronco. A pesquisadora Masayo Takahashi, uma figura central entre os pioneiros no iPS no Japão, transplantou com sucesso as células retinianas derivadas de iPS no olho de um paciente que sofre de degeneração macular. Como o governo japonês considera que o iPS foi descoberto no Japão, os orçamentos de pesquisa que têm diminuído no Japão não atingem estas pesquisas.

O governo do Japão vem procurando discutir e resolver os problemas bioéticos flexibilizando as regulamentações, mas os cientistas ainda acham que as autoridades não vêm demonstrando alto interesse nestas pesquisas. Mas existem também opiniões contrárias. Os ingleses, como do King’s College de Londres, opinam que os pesquisadores japoneses já conseguiram uma massa crítica que os coloca na vanguarda destas pesquisas.

As empresas japonesas estão adquirindo na Europa, nos Estados Unidos, na Ásia e até na Austrália as empresas menores que trabalham com as células tronco, para consolidarem suas posições. Incluem os equipamentos para as pesquisas. As indústrias farmacêuticas japonesas também estão engajadas neste sentido para diversas doenças, incluindo insuficiência cardíaca, diabetes, distúrbios psiquiátricos e câncer.

Tudo indica que o entusiasmo atual dos pesquisadores japoneses nesta área tem fundamentos sólidos, podendo apresentar boas perspectivas para avanços significativos na medicina. Espera-se que também empresas e centros de pesquisas do Brasil se engajem neste tipo de movimento, notadamente por que conta de uma expressiva parcela de descendentes de japoneses que apresentam algumas peculiaridades físicas que os diferenciam de outras populações. Para citar um exemplo banal, os japoneses possuem um intestino mais longo do que outros povos, que aumentam as possibilidade de câncer no aparelho digestivo. Alguns medicamentos autorizados em outros países só são admitidos no Japão na medida em que são confirmados por pesquisas clinicas de sua adequação para os japoneses. Não se trata de nenhuma discriminação, mas da constatação de diferenças físicas.



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