Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Animador Capitalismo Social na Ásia

28 de dezembro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais e Notícias | Tags: , , | 1 Comentário »

clip_image002No mar de informações preocupantes no mundo atual, os analistas encontram motivos de otimismo quando notam alguns artigos relevantes na imprensa internacional que informam sobre o sucesso de empreendimentos combinando as eficiências do capitalismo e as acentuadas preocupações sociais com as populações mais pobres, ainda que muitas empresas se preocupem somente com sua imagem pública.

Ilustração da matéria publicada no Nikkei Asian Review

Tomomi Kikuchi, do Nikkei Asian Review, com a ajuda de Kentaro Iwamoto, sediado em Tóquio, e Kim Dung Tong, sediado em Ho Chi Minh, elaboraram a longa reportagem que foi publicada no site do Nikkei Asian Review sobre as novas facetas sociais de empresas asiáticas eficientes atuando em países pobres da Ásia.

O primeiro exemplo que selecionaram é do doutor Devi Shetty, 64 anos, e o grupo hospitalar fundado por ele, o Narayama Health, que atua principalmente na Índia. Ele trabalhou com madre Teresa de Calcutá e acabou organizando uma eficiente empresa que se concentra nas caras cirurgias cardíacas que consegue efetuar a um custo de US$ 1.500. A empresa administra hoje 24 hospitais, com mais de sete mil leitos na Índia e nas Ilhas Cayman, tendo realizado mais de 16 mil cirurgias cardíacas no ano fiscal findo em março de 2017. Certamente, é um caso que merece ser estudado em detalhes nos seus relatórios que estão disponíveis por ser uma empresa de capital aberto.

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Dr. Devi Shetty, cardiologista, em seu escritório em Bangalore. Foto publicada no site do Nikkei Asian Review

A organização conta também com parte dos seus hospitais para atendimentos da população privilegiada com custos mais elevados, contando com a participação acionária que inclui a JP Morgan desde 2008. Conta com ações nas bolsas internacionais e em 2016 atingiu uma capitalização no mercado de US$ 1 bilhão, conseguindo resultados econômicos crescentes deste o primeiro ano como empresa listada nas bolsas.

A chave deste sucesso são seus custos baixos. Usam-se roupas descartáveis, salas mínimas para os pacientes e maximiza a eficiência em procedimentos cirúrgicos, com todos os cirurgiões efetuando no mínimo duas cirurgias por dia, proporcionando uma economia de escala. Muitos médicos estagiários procuram se aperfeiçoar trabalhando na instituição para levar sua experiência para outros países. É um exemplo de investimentos de longo prazo com forte impacto social efetuado por uma empresa estatal, que recebe suporte do mercado de capitais.

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Quadro que mostra os esforços de impactos sociais de empreendimentos econômicos por países constante do artigo publicado no site do Nikkei Asian Review, observando-se a presença de países asiáticos pobres

A ideia que inspira este grupo é o conceito criado pelo professor Michael Porter, da Harvard University, denominado CSV – Creating Shared Value, que mostra empresas que visam o desenvolvimento das sociedades estão mais ajustadas e rentáveis no longo prazo que as focadas nos lucros para seus acionistas, ainda que possam parecer fantasiosas e radicais em muitas salas de reuniões.

Mas há sinais que este conceito de CSV está se espalhando pela Ásia, embora seja de uma base ainda pequena. Cerca de 75 empresas da região da Ásia do Pacifico responderam ao Business Call to Action, uma iniciativa das Nações Unidas lançada em 2008 que desafiou as empresas a desenvolverem modelos de negócios que chamam de inclusivos. Em termos mundiais já chegaram a 200 empresas.

O artigo no Nikkei Asian Review menciona uma tendência captada com um mecanismo semelhante chamado Ashoka, um grupo que identifica e investe em empreendimentos sociais, que supera 2.962 empresas em termos globais e que tem somente na Ásia 800 seguidores.

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Quadro constante do artigo no site do Nikkei Asian Review

Ele conta com 800 bolsistas na Ásia e 2.962 no mundo, apoiados pelo Ashoka, agrupados em duas categorias: B Corporations, certificadas pelos Estados Unidos como sem fins lucrativos, e B Lab, as que atendem padrões de performance social e ambiental, com responsabilidade e transparência.

Este tipo de preocupação social das empresas já existe há muito tempo na Ásia, no mínimo desde o século XVII, com diversas formas de aplicação prática. Na atual Matsushita, que usa a marca Panasonic, existe uma preocupação de “prosperidade mútua” e na seleção dos jovens para os seus quadros preocupa-se que eles estejam motivados neste sentido. Muitas empresas no mundo se preocupavam com a disseminação de doenças do tipo AIDS, de sustentabilidade ou contra discriminações de todos os tipos, como as de gêneros. Entidades filantrópicas de expressão mundial como a Rockfeller Foundation e mais recentemente de novos bilionários como Bill e Melinda Gates estão envolvidos na sustentação de projetos relevantes em várias áreas, estimulando outros empresários que enriqueceram com as novas tecnologias eletrônicas e de comunicação.

Um pequeno projeto que vem chamando a atenção especial é comandado por Nga Tuyet Trang, de somente 38 anos, que criou a MTTS com alguns colegas, tendo já conseguido produzir e até exportar do Vietnã equipamentos médicos para terapia neonatal que ajudam no atendimento de crianças no seu parto. O equipamento desenvolvido no Hospital Nacional de Crianças do Vietnã em 2004, com ajuda norte-americana e dinamarquesa, custa somente US$ 250, comparado com o importado que exige US$ 1.500. Além de atender ao Vietnã já conseguiu exportar para Laos.

Esta companhia recebeu o prêmio “Social Entrepreneur of the Year 2017”, da conhecida Schwab Foundation, por ter ajudado a salvar 1,3 milhão de bebês, incluindo 75 mil somente em 2016. Nada melhor do que este tipo de notícia neste final do ano. Seria interessante que jovens e autoridades brasileiras voltassem suas atenções nos esforços que estão sendo feitos em países também pobres como o Brasil, com efeitos práticos significativos.


Um comentário para “Animador Capitalismo Social na Ásia”

  1. Milton Ifuki
    1  escreveu às 21:03 em 30 de dezembro de 2017:

    Achei muito reconfortante saber da existência de empresas de sucesso, com um propósito maior.
    Obrigado.


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