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Retratos da Infância na Imigração Japonesa

12 de dezembro de 2017
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

O Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil tem um acervo muito rico, onde somente uma pequena parte está exposta. Monica Musatti Cytrynowicz e Roney Cytrynowicz, que já conheciam parte deste acervo pelos trabalhos anteriores, garimparam retratos da infância, transformando-os num livro com muitas preciosas fotografias e textos curtos, que dão uma documentação que mostra como educação e trabalho foram conciliados por estes valentes jovens que acompanham seus pais nesta epopeia.

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Capa desta preciosa e imperdível seleção de Monica Musatti Cytrynowicz e Roney Cytrynowicz

Acredito que poucos são os que conhecem todo o rico acervo do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, que vai muito além do que está exposto. Monica e Roney me informaram que encontram no garimpo que fizeram neste acervo muitas ilustrativas fotografias que retratam parte importante desta epopeia, notadamente das crianças que acompanharam seus pais e conciliaram a sua educação com o duro trabalho de auxiliar os seus familiares.

Quem folheia as páginas reaviva a sua memória com lembranças que, se não são iguais com as que viveram, assemelham-se com elas, pois se repetem com pequenas diferenças de detalhes dos quadros que foram comuns para muitos. É como fizessem parte de nós mesmos, um pedaço precioso de nossas vidas.

Muitos viram fotografias dos parentes imigrantes nos navios onde vieram do outro lado do mundo, com muitos sonhos, mas também ansiedades. Dos desembarques no porto de Santos, seus chocantes deslocamentos até a Hospedaria dos Imigrantes, depois até as fazendas de café e outras lavouras onde foram sobreviver. Muitos nunca tinham visto um sanduíche de mortadela que seus estômagos não aceitavam.

As lavouras eram diferentes das japonesas e numa ajuda mútua procuravam se agregar aos mais experientes em variadas associações locais. As fotografias, como afirmam os autores, foram negociadas com os fotógrafos, procurando mostrar também as precárias habitações que usavam, muitas de pau-a-pique, outras de madeiras e das lavouras, além das personagens, normalmente hierarquizadas.

Os imigrantes japoneses faziam questão das escolas para seus filhos, ainda que fossem precárias, chegando a escolher os locais de suas atividades pela existência de uma, como em Cotia. Muitos professores eram improvisados, os primeiros livros do sistema educacional anterior à Segunda Guerra, começando pelo katakana, passando para o hiragana e depois os primeiros kanjis mais simples.

O esporte fazia parte da vida da coletividade, ora os undokai, ora o yakyu (beisebol). Muitas fotografias eram das cerimônias de diplomação, ainda do primário. Os livros didáticos cheio de ensinamentos morais, além das letras e os primeiros ideogramas. Os brinquedos simples já locais, como o pião ou o estilingue. As datas festivas, mais cívicas que religiosas, sempre seguida de comes e bebes preparados pelas mães.

Ainda que houvesse diferenças das províncias de onde vinham os imigrantes japoneses, inclusive com alguns que usavam o dialeto local, é possível notar pelas fotografias como o quadro era bastante comum em todas as localidades onde eles viviam no Brasil, depois do período mínimo nos cafezais que os tinham contratados.

Parabéns à Monica e ao Roney pelo excelente trabalho.



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