Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Blog do Sakamoto no UOL

16 de abril de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias, Política | Tags: , ,

clip_image002Leonardo Moretti Sakamoto, formado em Jornalismo na Universidade de São Paulo, fez o mestrado e doutorado em Política pela mesma Universidade, acumulou experiências como jornalista em alguns países no exterior, foi Visiting Scholar do Departamento de Ciência Política da New School for Social Research em New York e é professor de Jornalismo na PUC – São Paulo, segundo consta do seu Wikipédia. Tem alguns livros publicados e escreve regularmente artigos no UOL. Isto explica parte da qualidade dos seus artigos, ainda que alguns analistas o apontem com um petista, mesmo que todos possam ter suas preferências partidárias.

Comentando com coragem o que acontece recentemente no Brasil, o seu artigo recente publicado no UOL apresenta suas observações mostrando que os seus estudos acadêmicos e experiências internacionais que acumulou ao longo de sua carreira o credenciam para colocações mais competentes e equilibradas de sua análise. Ele registra que a Justiça no Brasil sempre foi seletiva, com o que ninguém pode discordar, pois as evidências são muitas. Comenta o tratamento diferenciado dado a alguns tucanos quando comparados com os petistas, como tem acontecido recentemente, como na velocidade no processamento de algumas medidas.

É bastante claro que os componentes do Judiciário, infelizmente, deixam claro suas preferências políticas sendo mais sensíveis aos que os cercam, inclusive por relacionamentos pessoais. Os desgastes com os privilégios que gozam como os de auxílio-moradia são apontados, mesmo que nem todos eles sejam descritos no artigo.

O que fica evidente é que a corrupção atual no Brasil não é privilégio de alguns membros de determinados partidos, segundo ele, e nem que todas as investigações sejam perfeitas e indiscutíveis, principalmente em alguns meios utilizados que ficam claros sobre as pressões psicológicas que provocam, com longas prisões exageradas mesmo nos períodos de investigações naturalmente demoradas.

Ele se revela otimista sobre o fim do Lava Jato, o que pode ser considerado no mínimo duvidoso, pois o holofote que proporciona não é fácil de ser desprezado por aqueles que possuem uma alta dose de vaidade pessoal, quando não de expectativas eleitorais futuras.

Ele se refere à disposição constitucional e do salário mínimo que, em muitos países são tidos como meras aspirações que encontram limitações da dura realidade para serem cumpridos, o que acontece também com a educação, a saúde universal, a segurança pública e outras disposições constantes explicitamente na Carta Magna, que são objetivos amplos. O que não consta do seu artigo é a diferenciação da Constituição brasileira que difere da de outros países, como a dos Estados Unidos, pelo detalhamento exagerado em 1988 que não deveria dar lugar a interpretações pela Corte Suprema. Na época, pelo longo período autoritário, a população aspirava pela sua defesa diante de possíveis abusos das autoridades. Se considerado necessário hoje, haveria que se processar a revisão da Constituição e uma interpretação que acaba chocando com a mesma que os membros do Supremo prometeram respeitar e que se tenta consolidar uma jurisprudência, mesmo com uma maioria que poderia ser temporária.

O articulista menciona que os que lutam contra a corrupção deveriam ser os primeiros a condenar os privilégios concedidos com recursos públicos, como os de promotores públicos e magistrados. Alguns segmentos mais beneficiados pela legislação brasileira são evidentemente para atender preferencialmente os melhores situados na distribuição da riqueza e da renda no Brasil.

Quanto ao impeachment da Dilma Rousseff, há que se atribuir a à sua falta de apetite político, além da disposição dos seus oponentes, pois até um governo como o atual, que não conta com a preferência popular, consegue bloquear politicamente o avanço das investigações que atingem o atual presidente.

Ele registra que a evolução do quadro atual, com parte substancial da população aplaudindo medidas de punições desequilibradas, conduz a riscos de uma morte e falência da democracia. É possível, mas tudo indica que existem problemas econômicos mais complexos que pode exigir correções difíceis de ser promovidas pelos próximos governantes, de complexa superação, antes mesmo das políticas. Mas a história da humanidade vem mostrando que em muitos casos, quando se enfrenta situações extremas, se encontram formas que todos tenham de se conformar com menos do que desejam, nos mais variados segmentos das aspirações de toda a sociedade, pois não existem maneiras de se consumir mais do que se produz por um longo período de tempo. A necessidade de sobrevivência de todos os segmentos pode ajudar no estabelecimento de um acordo mínimo, ainda que não seja o desejável a nenhum segmento político brasileiro.

De qualquer forma, as colocações deste jornalista provocam as necessidades de reflexões com suas experiências internacionais, que nem sempre as mais superficiais são capazes de estimular. Pode-se concordar com muitos dos seus pontos de vista, ao mesmo tempo em que naturalmente poderia se divergir, notadamente nas projeções que possam ser feitas para o futuro, que são extremamente incertas. Parece que ainda se pode contar com a esperança de um mínimo de entendimento para a convivência dos que pensam de forma diferente, que seria decorrente da necessidade diante da indisponibilidade de recursos, que não são somente de financeiros, mas principalmente de recursos humanos com o adequado preparo, notadamente no setor público e político.



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