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Controvérsias Sobre o Imperador Hirohito do Japão

26 de agosto de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: , ,

Entre os impérios que ainda sobrevivem no mundo com muitas restrições, possivelmente o do Japão é dos mais rigorosos em manter o controle de todos os atos relacionados com os membros da Casa Imperial, a partir do seu próprio imperador. Para tanto, existe uma agência especial que atua com a maior discrição, mas com muito rigor. Hirohito ascendeu à clip_image002posição de imperador em 1926 e faleceu em 1989, com 85 anos, num período de mais de 62 anos, que incluiu a Segunda Guerra Mundial até a recuperação do Japão, mesmo sendo o único país que sofreu um bombardeio atômico. Muitos fatos importantes ocorreram no mundo neste longo período, que aos poucos vão sendo esclarecidos parcialmente.

Imperador Hirohito já no final de sua vida

Antes da derrota japonesa, o Imperador era considerado um semideus e, apesar de contar com um gabinete militar que governava, ele tinha um poder que foi reduzido posteriormente, por imposição dos aliados, para um regime imperial parlamentarista, próximo ao da rainha ou do rei no Reino Unido. Como era uma figura que encarnava o Japão, os estudos antropológicos efetuados pelos norte-americanos recomendaram preservar a sua figura para controlar os japoneses que, desde a batalha de Okinawa, se mostravam dispostos a exigir custos elevados pela invasão do país. É preciso compreender que, mesmo com tudo isto, havia posições políticas variadas, incluindo até aqueles que entendiam que a Casa Imperial não teria mais sentido no pós-guerra.

Tudo indica que há fatos que não estão divulgados, a ponto do atual imperador Akihito, que deverá abdicar no próximo ano, alegando não ter saúde para exercer este papel ter declarado recentemente, nas lembranças do bombardeio atômico de Nagasaki, que teria “profundo remorso” pela guerra. As declarações dos imperadores japoneses costumam ser vagas, a ponto de dificultar a interpretação de exatamente o que ele queria dizer com esta expressão.

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Trechos do diário do camareiro do imperador Hirohito que registram o estado de espírito dele sobre os que comentavam sua responsabilidade de guerra, constante do artigo publicado no site do The Asahi Shimbun

O documento divulgado nos últimos dias são trechos do diário do camareiro Shinobu Kobayashi, do imperador Hirohito, informando que ele estava irritado e angustiado com pessoas que levantavam questões sobre sua responsabilidade na guerra. Existem japoneses que isentam o imperador dos atos tomados pelos membros do gabinete militar, que foram executados como criminosos de guerra. Outros entendem que o imperador também tinha a sua responsabilidade pelas decisões finais. Dificilmente poderá se saber exatamente o que teria ocorrido, bem como todas as circunstâncias que cercavam estas decisões.

O trecho divulgado inclui os lamentos dos falecimentos de seus parentes próximos, a redução de suas responsabilidades, além das criticas sobre as avaliações de suas opiniões, revelando que nem todas as circunstâncias que cercavam estas decisões estavam devidamente consideradas. Ele entendia que não valia a pena prolongar a sua vida tendo que ouvir estas discussões, sem que tivesse poder para agir.

O camareiro Kobayashi parece ter se esforçado para convencer o imperador Hirohito que eram alguns os críticos, quando a maioria da população japonesa atribuía-lhe o mérito de ter ajudado a recuperar o Japão.

Acadêmicos como professores de história do Japão moderno aspiram que mais documentos sejam divulgados na sua íntegra para possibilitar avaliações mais precisas destes e outros pontos relacionados com a família imperial daquele país, mesmo no passado.



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