Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Evoluções na Questão de Carlos Ghosn e a Nissan

4 de dezembro de 2018
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia e Política | Tags: , , | 27 Comentários »

Uma verdadeira enxurrada de artigos sobre a questão de Carlos Ghosn com a Nissan tem saído em jornais internacionais e japoneses acrescentando algumas luzes adicionais. Isto parece que continuará até a decisão judicial no Japão, que poderá ser ainda contestada pelos advogados de Ghosn, sendo difícil estimar quando tudo estará concluído. Enquanto isto, em Amsterdam, anunciou-se que as três empresas, Renault, Nissan e Mitsubishi Motors, reafirmaram o compromisso de atuar em conjunto na aliança entre eles, apesar dos problemas criados pela detenção do empresário.

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Renault, Nissan e Mitsubishi Motors anunciam em Amsterdam o firme compromisso de continuar com a Aliança

Um dos artigos mais longos, completos e esclarecedores sobre o assunto foi publicado por Sean McLaren e Freud Dvorak no site do Wall Street Journal, no qual se afirma que Carlos Ghosn acumulou créditos não negociáveis de US$ 80 milhões na Nissan ao longo de muitos anos. As remunerações dos executivos japoneses eram modestas quando comparados com as do mercado internacional e, para evitar escândalos no Japão, somente parte era explicitada como pago ao executivo, ficando o resto para ser recebido depois de aposentado, mantendo-se o crédito não negociável junto à mesma empresa. Ele teria sido informado pelo diretor Greg Kelly, que também foi preso temporariamente na mesma ocasião, que assim estes recursos não seriam tributados. Também existiam créditos de US$ 18 milhões para residências do executivo em diversas partes do mundo, em Tóquio, Paris, Amsterdam, inclusive no Rio de Janeiro e Beirute, com reformas, que se alega serem necessárias para suas atividades. Outros detalhes constam também do longo artigo no site do Wall Street Journal. No Japão, é hábito que as remunerações de diretores e até do próprio presidente sejam arbitradas pelos mesmos, não ficando transparente aos demais dirigentes e nem aos acionistas.

De forma diversa com o considerado normal internacionalmente, na Justiça japonesa os suspeitos de irregularidades podem ser presos por prazos mais longos, quando o usual no mundo é por alguns poucos dias para se evitar eventuais destruições de provas. Também os suspeitos podem ser ouvidos pelos promotores sem a assistência de um advogado, o que não acontece normalmente em muitos países. Parte destes problemas está ocorrendo atualmente no Brasil com os acusados pela Lava Jato detidos por longo prazo.

Os advogados de Carlos Ghosn alegam que estas remunerações a serem recebidas depois de aposentado não eram fixas e não necessitavam ser declaradas, quando autoridades japonesas alegam o contrário. Existem muitas pessoas que supõem que esta questão é uma disputa interna na Nissan pelo poder. Também se discute na imprensa japonesa a diferença dos tratamentos dos suspeitos nos inquéritos, como consta do The Asahi Shimbun. Cita-se o caso de um deputado japonês que ficou 437 dias preso durante o inquérito.

Depois de anunciado o prosseguimento da aliança, a agência de notícias AFP, junto com a Jiji, informou no artigo publicado no site do The Japan News que muitos detalhes da governança do conjunto não foram discutidos em Amsterdam, ainda que o governo francês conte com 15% das ações da Renault, que por sua vez detém 43% das ações da Nissan. Por sua vez, a Nissan detém parte da Renault, mas sem direito a voto. O CEO da aliança deve continuar sendo indicado pelos franceses e o vice-presidente pelos japoneses, continuando com Carlos Ghosn no comando da Renault, embora esteja impedido no momento. Tudo indica que será necessário algum tempo para a estabilização da situação. Além da decisão final do judiciário japonês, ainda poderão ocorrer recursos legais.

Paralelamente, está havendo uma pressão para que a legislação japonesa se aproxime dos vigentes no Ocidente, mas os juízes japoneses consideram esta questão como de exclusiva competência japonesa, dada a sua independência, não ficando subordinada à conveniência do exterior.


27 Comentários para “Evoluções na Questão de Carlos Ghosn e a Nissan”

  1. Renato Gomes
    1  escreveu às 20:53 em 4 de dezembro de 2018:

    O brasileiro Carlos Ghosn é um orgulho para o nosso país e demonstra, incontestavelmente, o talento natural do nosso povo. Santos Dumont, Neymar, Pelé, Senna, Lula, Dilma etc. são os nosso grandes líderes na política, nos esportes etc.
    O Japão, contudo, mostra o quão mesquinho é ao criar tamanho golpe para tornar a Nissan, mais uma vez, independente. Se Lula fosse o nosso presidente, com certeza, ele não se calaria. Sou a favor de boicotar os produtos de marcas japonesas como forma de protesto.

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 06:26 em 5 de dezembro de 2018:

    Caro Renato Gomes,

    Sua parcialidade fica evidente demais. Há de se pensar de forma mais equilibrada, na minha opinião, e em todos os países existem coisas boas e más. Um país geograficamente pequeno como o Japão ter conseguido o desenvolvimento do qual ainda estamos longo, deve ter alguma explicação.

    Paulo Yokota

  3. Rafael Lopes da Cunha
    3  escreveu às 12:28 em 5 de dezembro de 2018:

    Yokota, com certeza, é golpe contra o brasileiro Ghosn. O Japão é um país xenófobo, racista e machista. Nunca aceitaram um brasileiro branco dando ordens nos japoneses.

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 09:40 em 6 de dezembro de 2018:

    Caro Rafael Lopes da Cunha,

    Existem opiniões diferentes.

    Paulo Y

  5. Luciano Augusto Da Silveira Fernandes
    5  escreveu às 14:28 em 5 de dezembro de 2018:

    É bem óbvio que a aliança das três marcas incomoda um mercado tão disputado e que tem se mostrado cada vez mais antiético. Carlos Ghosn alcançou um nível de competência corporativa e respeito em que deveria no mínimo saber das consequências de seus atos em um país com uma cultura tão arraigada em disciplina e retidão moral.

  6. Paulo Yokota
    6  escreveu às 09:38 em 6 de dezembro de 2018:

    Caro Luciano Augusto Da Silveira Fernandes,

    Obrigado pelo comentário, e existem outros com opiniões diversas.

    Paulo Yokota

  7. Mariano Almeida
    7  escreveu às 16:05 em 6 de dezembro de 2018:

    Até o Líbano sabe que o Ghosn é inocente! Leia a matéria abaixo:

    Líbano manda colchão a Carlos Ghosn e questiona a ‘humilhação’:

    http://www.portalmie.com/atualidade/mundo/noticias-do-mundo/2018/12/libano-manda-colchao-a-carlos-ghosn-e-questiona-a-humilhacao/

  8. Paulo Yokota
    8  escreveu às 17:11 em 7 de dezembro de 2018:

    Caro Mariano Almeida,

    Parece legítimo que países onde Carlos Ghosn é cidadão o defendam, mas ele está sendo investigado por irregularidades que teria praticado no Japão. Temos brasileiros que transportaram drogas para países asiáticos que são severos nestas matérias. Cada pais tem a sua legislação, até que sejam alteradas por decisões próprias. Pelo que se noticia nos jornais japoneses que devem possuir mais facilidade de informações, sendo conveniente que se aguarde, no mínimo até a próxima semana. A Justiça japonesa é extremamente rigorosa, e dormir sobre um tatame é mais do que normal.

    Paulo Yokota

  9. Simone Aparecida
    9  escreveu às 21:16 em 6 de dezembro de 2018:

    Yokota, por favor, leia:

    https://www.bloomberg.com/opinion/articles/2018-12-06/carlos-ghosn-s-arrest-and-the-backlash-to-japan-nissan

  10. Paulo Yokota
    10  escreveu às 16:54 em 7 de dezembro de 2018:

    Cara Simone Aparecida,

    Já havia lido. Tenho a impressão que a imprensa japonesa está obtendo informações das investigações. Acho cauteloso aguardar, no mínimo, até a próxima segunda feira do Japão, quando parece que serão fornecidos alguns dados adicionais e oficiais. Esteja certa que os investigadores japoneses possuem mais dados seguros, com documentações.

    Paulo Yokota

  11. Simone Aparecida
    11  escreveu às 20:03 em 7 de dezembro de 2018:

    Yokota, por favor, leia a decisão de um juiz sobre o caso da Nissan. Um juiz brasileiro falou que é tudo nebuloso!

    Justiça do Rio concede liminar à família de Ghosn, executivo da Nissan preso no Japão:

    https://oglobo.globo.com/economia/justica-do-rio-concede-liminar-familia-de-ghosn-executivo-da-nissan-preso-no-japao-23288439

  12. Paulo Yokota
    12  escreveu às 10:26 em 8 de dezembro de 2018:

    Cara Simone Aparecida,

    Duvido que um juiz brasileiro conheça o mínimo da justiça japonesa, mas as irregularidades que parecem que ele cometeu é lá no Japão e ele está sujeito a legislação local. Aguarde alguns dias para os anúncios que serão feitos pelas autoridades japonesas.

    Paulo Yokota

  13. Jorge Habib
    13  escreveu às 08:32 em 8 de dezembro de 2018:

    Tenho ancestralidade libanesa e posso assegurar que o Ghosn é inocente. A nossa cultura sempre foi voltada pela ética, pela moralidade, diferentemente de certos países que matam baleias. O Japão não vai conseguir denegrir a imagem do Líbano!

  14. Paulo Yokota
    14  escreveu às 10:23 em 8 de dezembro de 2018:

    Caro Jorge Habib,

    Eu também gostaria que ele fosse inocente, mas tudo indica que existem provas concretas de sua consciência das irregularidades cometidas.

    Paulo Yokota

  15. Rodolfo Barbosa dos Santos
    15  escreveu às 09:26 em 8 de dezembro de 2018:

    O Brasil, o Líbano e a França deveriam boicotar os Jogos Olímpicos de Verão de 2020 (Tóquio) em protesto ao “caso Ghosn”. É patente a injustiça que está sendo cometida contra o executivo mais admirado do mundo.
    Tudo não passa de um plano sórdido dos japoneses. E o blogueiro aqui só defendendo a Justiça de um país que não respeita os Direitos Humanos.
    Os juristas do Brasil tem muito a ensinar aos operadores do Direito no Japão.
    Yokota, os seus artigos não tem imparcialidade. Cadê as críticas ao cubículo a que está sendo torturado o Carlos Ghosn? Nem colchão havia! Direitos Humanos, já! Brasil!!!

  16. Paulo Yokota
    16  escreveu às 10:21 em 8 de dezembro de 2018:

    Caro Rodolfo Barbosa dos Santos,

    Existem opiniões diversas que devemos respeitar, sem preconceitos. Acolho sua opinião, mesmo não concordando em nada com ela.

    Paulo Yokota

  17. Carlos Silva
    17  escreveu às 11:53 em 8 de dezembro de 2018:

    Paulo, estou assustado com o que tenho lido por aí… Parece que os franceses, ianques, libaneses, brasileiros etc. são especialistas em Direito Penal, Direito Processual Penal e Direito Constitucional do Japão. Pessoas emitem opiniões das mais grotescas sem conhecerem direito a cultura japonesa, o ordenamento jurídico nipônico, a história da Aliança Renault-Nissan, a biografia do Carlos Ghosn etc.
    Teorias da conspiração, achismos etc. estão dominando os debates. Não tenho palavras…
    Se o Ghosn praticou crimes na Terra do Sol Nascente tem de ser punido!
    Sem mais!

  18. Paulo Yokota
    18  escreveu às 16:05 em 8 de dezembro de 2018:

    Caro Carlos Silva,

    Infelizmente isto está acontecendo no mundo com diversos assuntos. Parece que a internet vem facilitando o acesso rápido à informação superficial, sem que as pessoas aprendam a necessidade de estudos mais profundos em todas as matérias, infelizmente.

    Paulo Yokota

  19. Paulo Yokota
    19  escreveu às 16:05 em 8 de dezembro de 2018:

    Caro Carlos Silva,

    Infelizmente isto está acontecendo no mundo com diversos assuntos. Parece que a internet vem facilitando o acesso rápido à informação superficial, sem que as pessoas aprendam a necessidade de estudos mais profundos em todas as matérias, infelizmente.

    Paulo Yokota

  20. Olavo Alves
    20  escreveu às 21:44 em 8 de dezembro de 2018:

    Permita-me, por gentileza, fazer uma crítica: no Brasil, muitos, muitos bacharéis e bacharelas em Direito são reprovados no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Ademais, já observei jornalistas do nosso país dando pitacos sobre a prisão do Carlos Ghosn e depreciando a legislação japonesa. Ou seja, os nossos estudantes não sabem o Direito brasileiro direito e o que dirá, então, dos jornalistas brazucas tecendo comentários sobre o Direito nipônico? Só rindo!!!

  21. Paulo Yokota
    21  escreveu às 11:32 em 10 de dezembro de 2018:

    Caro Olavo Alves,

    Parece sempre muito difícil compreender até a legislação nacional, e a de países como o Japão são bastante diferentes da nossa.

    Paulo Yokota

  22. Fernando Cruz
    22  escreveu às 20:28 em 9 de dezembro de 2018:

    Paulo, como vai? Cada opinião dos seus leitores… Ninguém sabe direito como são as leis da Terra do Sol Nascente e já vão comentando. E a Justiça brasileira é melhor do que a japonesa? Por que o nosso povo reclama tanto de impunidade e morosidade? Será que no Líbano as carceragens respeitam os Direitos Humanos? Os libaneses não têm outros problemas para resolver? Os políticos de lá comprarão colchões para os mendigos que vivem nas ruas de Beirute etc? Sabia que fui vítima de racismo na França e acharam que a minha esposa é prostituta? Nunca mais visito esse país.

    É bom lembrar que o Carlos Ghosn não se sente patriota pelo Brasil, pela França ou pelo Líbano. Ele já disso isso em entrevistas e a nossa imprensa gosta de chamá-lo de brasileiro e fazer patriotada… A mídia libanesa fala em “humilhação”, ao descrever a cela em que o “cidadão libanês” Ghosn se encontra… O Carlos Ghosn só utiliza, aliás, passaporte francês em suas viagens pelo mundo…

    Nenhum jornalista que escreve sobre teorias conspiratórias, golpe etc. sabe qual o conjunto probatório que está nas mãos das autoridades japonesas e já vão desenvolvendo, criando hipóteses de armação para derrubar o Ghosn. Não há a apresentação de nada de concreto para sustentar as alegações, sendos meros acho isso ou aquilo…

    Vamos nos recordar que até o Momofuku Ando (Nissin) e o Hirotoshi Honda (filho do Soichiro Honda que é o fundador da Honda Motor) já foram condenados por evasão fiscal. Outros famosos do Japão também sonegaram impostos e foram parar na prisão. Assim, percebe-se que a coisa é séria por lá.

  23. Paulo Yokota
    23  escreveu às 11:27 em 10 de dezembro de 2018:

    Caro Fernando Cruz,

    Obrigado pelos seus comentários. Acho que a legislação japonesa é bastante rigorosa, mais que a média mundial. Os promotores costumam solicitar a prisão preventiva depois de já possuírem provas substanciais.

    Paulo Yokota

  24. Mirella Santos de Almeida
    24  escreveu às 07:14 em 10 de dezembro de 2018:

    Hoje, o Ministério Público do Japão ajuizou AÇÃO PENAL contra o Carlos Ghosn, ou seja, ele já é RÉU num processo criminal por EVASÃO FISCAL. Não vejo golpe algum ou teoria da conspiração.

  25. Paulo Yokota
    25  escreveu às 11:23 em 10 de dezembro de 2018:

    Cara Mirella Santos de Almeida,

    Obrigado pelo seu comentário. Tenho a impressão que no Japão são bastante rigorosos, acima da média mundial.

    Paulo Yokota

  26. José Carlos
    26  escreveu às 12:37 em 10 de dezembro de 2018:

    Duvido que o Ghosn esteja sendo vítima de um “golpe”. É tudo corolário da sua ganância. A Justiça do Japão não é 100% perfeita, mas é melhor do que de muitos países.

  27. Paulo Yokota
    27  escreveu às 15:42 em 10 de dezembro de 2018:

    Caro José Carlos,

    Obrigado pelo comentário.

    Paulo Yokota


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