Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

É Indispensável Aprender Com os Erros da Vale

4 de fevereiro de 2019
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais e Notícias | Tags: , , ,

O mar de lama que choca os brasileiros e o mundo devem ter dois significados distintos: o que ocorreu fisicamente em Brumadinho que sacrificou mais de uma centena de vidas, que clip_image002com os desaparecidos podem chegar a duas centenas, como a administração ao longo dos anos desta estatal, que era considerada exemplar, mas que se concentrava no aumento da exportação de minérios a qualquer custo, sem a mínima consideração sobre a preservação do meio ambiente e a vida da população.

O dramático avanço do mar de lama com o rompimento da barragem de Brumadinho, da Vale, em parte do vídeo divulgado pelas autoridades depois de alguns dias, para chocar menos a população

Todas as mazelas da Vale que estão sendo divulgadas, enriquecidas pelos comoventes depoimentos de alguns poucos dos sobreviventes do rompimento da barragem de Brumadinho, vão aumentando a indignação de todos com as irresponsabilidades dos dirigentes daquela estatal, ao longo de muitos anos recentes. Ficaram concentrados nos aumentos das exportações, que era o indicador mais importante do seu sucesso, sem que o cuidado com o meio ambiente e sequer a vida dos seus funcionários merecesse o mínimo de atenção indispensável para os projetos desta magnitude. Depois do leite derramado, antes tarde do que nunca, começam a ser tomadas as medidas mínimas, iniciando pelo exame mais cuidadoso de todas as barragens que apresentam riscos elevados para a vida da população. Mesmo com as paralisações dos projetos da Vale em Minas Gerais, as medidas ainda exigirão duros trabalhos ao longo de muitos meses para se chegar aos limites considerados mínimos por todos que utilizam estas barragens.

Os depoimentos colhidos pela Folha de S.Paulo de alguns que sofreram com esta onda de um mar de lama e sobreviveram milagrosamente, que aparecem tentando se salvar no vídeo divulgado, são mais que comoventes. Fazem com que a população exija uma completa mudança da política que vinha sendo executada por aquela estatal e precisa atingir todas as entidades que operam com barragens no Brasil. A repercussão da notícia chegou a emocionar tanto o papa Francisco como a rainha Elizabeth, do Reino Unido, que enviaram suas mensagens.

A Folha de S.Paulo, cuja matéria deste domingo deve ser lida na íntegra, além de divulgar os dados do mar de lama, conseguiu entrevistas com Elias Nunes, 43, e Sebastião Gomes, 53, que aparecem tentando se salvar no vídeo. Eles estavam numa camionete que depois foi atingido pelo mar de lama, mas conseguiram sobreviver com grandes dificuldades. Atribuem o fato a calma que tiveram com o desastre. Outro foi Leandro Cândido, 37, que ocupava uma escavadeira, que ficou somente com a sua cabeça acima da lama, sendo socorrido pelos bombeiros.

As fotos hoje disponíveis mostram como estes dois veículos que foram utilizados se encontram no mar de lama que os atingiu, sem que fossem alertados antecipadamente pelos alarmes que deveriam estar funcionando, mas por razões mal explicadas não exerceram o seu papel. O presidente da Vale atribui o fato à velocidade do deslocamento da lama que acabou atingindo tudo.

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Foto publicado no artigo de Fabrício Lobel e Julia Bordon, na Folha de S.Paulo, que merece ser lido na íntegra. A caminhonete está no alto do lado esquerdo e a escavadeira amarela está mais ao centro, pouco acima dos vagões danificados

No vídeo disponível nota-se que a caminhonete procurava se deslocar para um ponto mais alto, sendo que Sebastião Gomes tropeçou e só conseguir subir no veículo com dificuldade. A escavadeira também procurava ir para uma posição mais elevada, mas não havia uma orientação estabelecida para a fuga. Os sobreviventes feridos enfrentaram dificuldades até para serem levados a um hospital para receber atendimentos, sendo que Sebastião Gomes não se lembra de tudo e não deseja nem ver as fotos ou vídeo relacionado com o desastre, sendo fácil notar que necessitarão de intenso trabalho dos psicólogos para superar os traumas em que foram envolvidos.

Mesmo os leitores não ficam indiferentes lendo e vendo todos estes materiais relacionados com o desastre, mas, para que providências concretas sejam tomadas urgentemente, há que se submeter ao exame destas tristes realidades. Pois os dados disponíveis sobre as barragens no Brasil e suas autorizações para funcionamento e fiscalização para continuarem operando são preocupantes, assustadoras pelos riscos envolvidos, exigindo um significativo ponto de inflexão nos trabalhos que deveriam ser executados pelas várias autoridades brasileiras, principalmente deste novo governo que concentra suas atenções nas ampliações das atividades econômicas, sem o devido cuidado ecológico e a vida de muitos brasileiros.



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