Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Expectativa com a Publicação dos Originais de Carolina

29 de julho de 2020
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Editoriais e Notícias | Tags: , , ,

Fernanda Canofre publica um artigo excepcional na Folha de S.Paulo sobre este raro e importante assunto. Na versão eletrônica disponível no site da Folha existem pouquíssimas diferenças da versão escrita do jornal. Carolina Maria de Jesus tinha, segundo o artigo, um impulso para escrever sobre o cotidiano da favela em que morava para o que tinha um talento inato. Quando ela levou para a Folha estes originais em 1941 foi informada que ela era poetisa, que pensou inicialmente tratar-se de uma espécie de doença. No bonde que tomou para voltar ao seu barraco perguntou a um passageiro o que significava poetisa e foi informada que era “uma mulher que tem pensamento poético”. Ficou mais aliviada, mas achou que não era conveniente informar isto para seus vizinhos. O artigo informa que ela escrevia para aliviar o cérebro e conseguir dormir.

clip_image002A autora Carolina Maria de Jesus ao lado do rio Tietê, em frente à favela do Canindé, onde morava quando do lançamento do seu livro “Quarto de Despejo”, constante do artigo publicado na Folha de S.Paulo, que merece ser lido na sua íntegra

Com a publicação do seu livro “Quarto de Despejo”, Carolina Maria de Jesus, que era uma catadora no lixão, tornou-se conhecida, com sua obra publicada em diversos países, e reconhecida pela imprensa e por escritoras famosas como Clarice Lispector, mas sua vida pouco melhorou. O projeto atual conseguiu reunir os sete romances, cinco peças de teatro e 37 diários, mais de cem poemas, 67 narrativas nos seus originais. Serão publicados novos livros pela Editora Companhia das Letras, contando com quatro pesquisadoras auxiliares, além da filha de Carolina, Vera Eunice, e da escritora Conceição Evaristo. Segundo o artigo, o primeiro lançamento, com base em parte do material coletado, será uma reedição ampliada do livro “Casa de Alvenaria”, de 1961.

Os originais, com paradeiros conhecidos, estão em diversos lugares. Como um caderno no Museu Afro Brasil, dois no Instituto Moreira Salles, 14 na Biblioteca Nacional, além do acervo mineiro em Sacramento, perto do Estado de São Paulo. Afirma-se que dois cadernos estariam na coleção de José Mindlin, que foi doado para a Universidade de São Paulo, onde não foi localizado. No acervo de Sacramento estariam lembranças de viagens, edições de seus livros, fotos, recortes de jornais, anotações e cadernos de material inédito, como o romance “Dr. Silvio”. Este material teria sido doado pela filha há 20 anos, mas não se encontra bem conservado, parte atacado por cupins.

Os seus trabalhos foram distorcidos por editores que se consideravam qualificados comercialmente, a ponto de alterarem até o título de um livro que era “A Felizarda” para “Pedaços de Fome”, alem de alterações no seu texto. A autora chegou a considerar que quando simples catadora do lixão era mais feliz, do que escritora conhecida.

Lamentavelmente, este tipo de distorção ocorre em muitos trabalhos culturais. É sabido que existiram pintores que só foram reconhecidos depois de suas mortes, entre eles Vicent van Gogh. Fernanda Miranda, uma das pesquisadoras que auxilia no atual trabalho, afirma: “O que a gente tem feito, como críticos, é mostrar que Carolina Maria de Jesus faz questões complexas, que só as grandes obras literárias fazem”.

Vamos aguardar ansiosamente a publicação de seus trabalhos, na forma original, pois como a sua filha afirma: “Carolina é do povo, Carolina é do mundo”, não podendo ficar numa prateleira.



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