Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Controvérsias Sobre a Frugalidade dos Japoneses

22 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: , ,

Um artigo publicado pelo jornalista Peter Dyloco no Japan Times sobre a atual frugalidade dos consumidores japoneses, e os muitos comentários que vem recebendo, é um exemplo da perplexidade que vem tomando conta do mundo desenvolvido com a deflação e a dificuldade de sair do estado recessivo. Não é um fenômeno exclusivo do Japão, mas se repete tanto nos Estados Unidos como na Europa. Já comentamos neste site um longo artigo da acadêmica Noriko Hama publicado no The Japan Times sobre o assunto, sob um prisma mais técnico, propondo algo como “buy japanese”.

O fato concreto é que os japoneses, com uma cultura desenvolvida num arquipélago limitado em recursos naturais, estão procurando se defender da atual crise por que passam consumindo roupas boas e baratas de menos de dez dólares como as vendidas na cadeia de lojas Uniqlo, produzidos na China. Eles estão consumindo refeições completas de menos de seis dólares no Yoshinoya, os famosos “guiu don”, ou seja, carne com arroz. Ou comprando automóveis pouco poluentes e consumidores de energia como o Fit flex (gasolina e eletricidade) da Honda. Alguns comentários dos leitores mostram que o mesmo acontece com os alemães e nem por isto podem ser condenados, mas não ajudam a ativar suas economias.

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Desconhecimentos Recíprocos Entre Chineses e Ocidentais

22 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: , , ,

marcopolo Um interessante artigo foi publicado no China Daily pelo vice-diretor da escola de inglês da Beijing Foreign Studies University, Zhang Xiaoying, expondo a necessidade de aumento dos conhecimentos recíprocos do Ocidente e da China, repetindo o que foi feito pelo Marco Polo. A posição dele é semelhante a deste site. Ele informa que tem aumentado a visita de líderes ocidentais àquele país, mas que a grande maioria dos artigos publicados na imprensa ocidental sobre a China continua refletindo uma visão estereotipada do País do Meio. Entre os comentários que tem recebido sobre seus artigos, ele menciona alguns que se posicionam radicalmente contrários à China, como tivessem sido solicitados pelas autoridades e refletissem uma pretensão demoníaca dos chineses.

Ele informa que houve recentemente o Quarto Fórum Mundial Sobre Estudos Chineses em Xangai, onde participaram 280 acadêmicos de 20 países e regiões diferentes. Tinha como lema “Vivendo Juntos, Crescendo Juntos: China Integrando no Mundo Diverso” (Living together, growing together, como no título de uma composição de Burt Bacharach). Ele entende que tais intercâmbios podem reduzir estes desconhecimentos recíprocos.

Living Together, Growing Together Is the Common Goal of China and the World

Lema do Quarto Fórum Mundial Sobre Estudos Chineses

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Culinária Andina no Brasil

20 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Gastronomia | Tags: , ,

pratos

Acompanhando a multiplicação de restaurantes da culinária asiática no Brasil, observa-se o aumento recente de estabelecimentos que procuram apresentar cardápios andinos, principalmente peruanos, que trazem contribuições do que os incas deixaram para o mundo. Além de utilizarem muitos frutos do mar frescos, como no caso dos mais conhecidos como ceviches, que tiram partido dos bons peixes abundantes no Pacífico, também fazem uso de cereais como o quinoa, deixados pelos incas, que reconhecidamente são benefícios para a saúde dos seres humanos.

Os brasileiros eram avessos aos peixes crus, mas com a multiplicação de restaurantes servindo sushi e sashimi, os frequentadores destes estabelecimentos começaram a apreciá-los, o que levou a experimentar os com temperos mais tropicais, como os ceviches. Somaram-se aos que visitaram os Andes e passaram a apreciar a sua culinária. Um restaurante de nome Killa, que significa lua, explica em seu site (www.killa.com.br) a sua influência nos ciclos também na culinária, à semelhança do que acontece no Oriente.

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Concorrência do Trem Rápido no Brasil

20 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Trem Rápido | Tags: , , | 2 Comentários »

O jornal econômico japonês Nikkei informa que o consórcio que seria formado para disputar a concorrência do trem rápido brasileiro que ligaria Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, liderado pelas grandes empresas como a Mitsui, Mitsubishi Heary, Hitachi e Toshiba, não pretende mais concorrer ao projeto. A mesma notícia informa que os franceses, liderados pela Alston, segundo informações coletadas na embaixada francesa em Brasília, também não participaria da disputa. Eles alegam que o engajamento do governo brasileiro não foi suficiente para reduzir o risco do projeto, caso a demanda por parte dos passageiros não seja tão alta como a prevista nos estudos iniciais.

Restaria o consórcio coreano, liderado pela Korea Railroad que continua trabalhando ativamente, pois pretendem que este projeto brasileiro os qualifique para os outros futuros que disputarão nos Estados Unidos.

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Mapa com o trajeto do trem rápido

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Monge Budista Ganha Medalha de Ouro em Hipismo

20 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: , ,

A imagem usual de um monge budista no Ocidente é de uma pessoa que fica nos mosteiros com suas vestimentas tradicionais, fazendo as suas meditações. O máximo que se conhece como mais usuais são atividades que exigem grande concentração, como as de arco e flecha. Que eles sejam casados, mantendo muitas atividades humanas não religiosas pode parecer estranho. Agora o jornal tailandês Bangkok Post anuncia que o monge Kenji Sato, do Japão, ganhou a medalha de ouro de hipismo, montando Toy Boy nos Jogos Asiáticos realizados em Gangzhou na China. Ele já vinha obtendo bons resultados em outras competições.

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The Economist Escreve Sobre o Modelo Brasileiro

20 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: , ,

A revista inglesa The Economist, que tem milhões de leitores qualificados em todo o mundo, é considerada como uma das mais influentes internacionalmente, não tratando exclusivamente de economia. Está ligada a London School of Economics, adotando uma posição liberal, democrática e a favor dos mecanismos de mercado. Seus artigos costumam ser cuidadosos, merecendo considerações, mesmo quando não se concorda totalmente com as posições adotadas. Publicou no último número uma análise do que chamou de modelo brasileiro, ressaltando alguns aspectos positivos, mas fazendo também suas observações críticas.

A revista fez uma análise do sistema adotado pela Embraer, informando que, do quase colapso em que se encontrava em 1990, ela conseguiu se firmar no mercado globalizado dos jatos de porte médio. Chamou este sistema de reverse outsourcing, algo como terceirização reversa, desenhando e montando ela mesma os aviões com ricas fornecedoras de partes dos seus produtos, como a General Eletric, que produz suas turbinas. Introduziu a divisão dos riscos, persuadindo os consumidores e os fornecedores a adiantarem parte dos recursos necessários para seus projetos.

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Pragmatismo Chinês na Solução dos Seus Problemas

19 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: , , ,

Observando-se atentamente o que vem acontecendo na China nos últimos anos, nota-se um forte pragmatismo diante da evolução dos acontecimentos que os afetam, e isto tem sido sua marca mais importante. No livro do jornalista Richard McGregor, antigo chefe do bureau do Financial Time na China, “O Partido – O Mundo Secreto dos Dirigentes Comunistas da China” (tradução livre), publicado este ano, o autor levanta algumas perguntas sobre qual seria o modelo que eles perseguem, depois de Deng Xiaping. Seria uma benevolente autocracia do tipo de Cingapura (com lideranças de raízes chinesas)? Um Estado capitalista desenvolvimentista como alguns têm chamado o Japão (mais socializado que muitos países chamados comunistas)? Um Neoconfucionismo (que recomenda uma hierarquização na sociedade) misturado com economia de mercado? Uma lenta (em eficiência) versão como a Rússia pós-soviética? Um socialismo de barões desonestos (que redistribuíam seus lucros em ações beneficentes)? Ou algo diferente baseado no “Consenso de Beijing” (que ninguém sabe o que é ao certo, mas que se contraporia ao de “Consenso de Washington” com condições listadas, mas nunca implementadas). Parece difícil de classificar a China atual em qualquer destes “modelos”.

O que alguns editoriais como do jornal japonês Nikkei tentam esboçar, podendo refletir o simples desejo de um vizinho bastante afetado pelos chineses, é que parece ter havido uma evolução entre a reunião do G20 em Seul e a reunião da APEC em Yokohama na posição da China, mostrando que existe um elevado pragmatismo na sua política externa.

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Reunião de cúpula do G20 em Seul, Coreia do Sul, que reuniu os líderes de países ricos e dos principais emergentes

Para um país que almeja continuar crescendo rapidamente, podendo-se tornar o mais importante do mundo nos próximos anos, não há interesse em ser confrontado com críticas generalizadas diante de sua política cambial e comercial, ao que soma as restrições para a exportação de minerais estratégicos como terras raras. Também não interessa continuar a ser alvo de pressões externas diante de dissidências internas, como a que foi premiada como Prêmio Nobel da Paz. Não lhe parece convenientes os aprofundamentos das desgastantes tensões de disputas territoriais com seus vizinhos. Não lhe interessa ser taxado como um país que procura sua estabilidade social interna a qualquer custo. Os chineses sabem que precisam conviver num mundo globalizado, que possuem organismos com regras consolidadas, o que procuram fazer dentro do cronograma de sua conveniência.

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Líderes das 21 nações que compõem o bloco da Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico durante encontro no Japão

O que se sentiu, e ainda pode ser uma mera impressão, é que os chineses passaram a adotar uma orientação mais suavizada, mais contemporizadora, enfatizando a necessidade da cooperação internacional, mostrando-se sensíveis às críticas internacionais. Procuraram fortalecer suas relações bilaterais e regionais. Eles almejam a liderança num mundo sadio, não herdar um globo arrasado.

Vão continuar procurando as fontes de matérias-primas que necessitam, em todos os continentes, concedendo maior prioridade à expansão do seu mercado interno, necessitam continuar a exportar para todo o mundo, mas sabem suficientemente que não podem forçar a ponto de contar somente com hostilidades de todas as partes, como sempre foi de sua boa tradição comercial.

O que se espera é que os que negociam com os chineses, parceiros próximos ou distantes, também tenham aperfeiçoado suas técnicas, defendendo com convicção seus claros interesses nacionais, pois os dirigentes da China são extremamente preparados, possuindo um sistema eficiente de planejamento a longo prazo, e de ação coordenada do governo, estatais e empresas privadas.


China Próxima de Superar a Economia dos Estados Unidos

17 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: , ,

Martin_Wolf A Folha de S.Paulo tem uma coluna chamada Toda Mídia que costuma noticiar diariamente as referências mais importantes dos principais jornais internacionais. Chama a atenção para o artigo de Martin Wolf, consagrado economista, enviado de Xian, a antiga capital da China. Ele publica regularmente no site do Financial Times, e informa que o “estamos vendo o fim de séculos de domínio ocidental”. Joseph Needham, o mais profundo acadêmico conhecedor da China, da Universidade de Cambridge, considera que somente após a revolução industrial o País do Meio perdeu a liderança, que agora procura retomar.

Martin Wolf estima que em 2014, calculado pelo PPP – Poder de Paridade de Compra, ou uma cesta de produtos e serviços que se pode obter com uma quantidade de renda, a China ultrapassará a economia dos Estados Unidos em termos de dimensão, ainda que não em termos de renda per capita. Nos Estados Unidos, esta cesta é cara, e na China barata. E no final da década pelo PIB calculado em dólares norte-americanos, com as distorções que ocorrem com os câmbios. Seria muito antes das previsões da Goldman Sachs, que criou a expressão BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), que aventava esta possibilidade em torno de 2030.

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Capitalismo de Estado da China

17 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: , ,

O jornal Valor Econômico reproduz artigo dos jornalistas Jason Dean, Andrew Browne e Shai Oster, do The Wall Street Journal, com o título “Capitalismo de Estado da China gera críticas globais”, que faz um bom resumo de como as empresas estatais daquele país atuam, não permitindo condições de concorrência com empresas privadas de outros países.

Mostra que, na última década, a economia chinesa consegue melhores resultados que a de outros países, que o controle estatal é mais acentuado, suas estatais aumentam a participação no PIB e seus lucros estão em alta, que recebem assistência dos bancos oficiais e estão ampliando seus gastos em pesquisa e desenvolvimento, utilizando dados de muitas fontes oficiais. E elas estão se preparando para atividades futuras, como as tecnologias voltadas para o desenvolvimento sustentável, como a utilização da energia solar.

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Reprodução da foto publicada no Valor Econômico

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Humildade Para Reconhecer Que Não Sabemos Nada

16 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: , , , | 2 Comentários »

Ainda que tenhamos uma ideia superficial da realidade de alguns países de longas histórias, culturas importantes, relevância no cenário internacional, e outras suas características marcantes, somos induzidos a gigantescos equívocos, em parte por uma mídia engajada na disseminação de inverdades.

Esquecemos que o Iraque é herdeira da antiga Mesopotâmia, que teve a sua estupenda Babilônia com seus jardins suspensos, país donde poucos resquícios eu tive a oportunidade de conhecer numa memorável exposição realizada há tempos no Museu do Oriente Médio, em Paris. Foram humilhados por anos por tropas de ocupação, recentemente, formados de coitados comandados por aqueles que deveriam ser submetidos ao Tribunal de Haia.

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Representação dos jardins suspensos da Babilónia, como imaginados por Martin Heemskerck.

Minha filha visita atualmente o Irã, de onde me relata pela internet e pelo telefone uma admirável hospitalidade do seu povo, que a levou a empreender a viagem que me preocupava, onde as mulheres se comportam como se estivesse em Istambul, na Turquia, vestindo calças jeans. Isto me traz a memória que aquele país é a herdeira do fabuloso Império Persa, hoje transformado num lamentável inferno a ser destruído, instigado por parte da mídia que atende a alguns interesses distorcidos. Ela, que cavalgou pelos desertos da Jordânia, acha que as condições que hoje encontra são superiores às daquele país.

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Minha limitada experiência com a Rússia não me permite fazer uma correta noção do frio de Moscou, ainda que muitas vezes relatado por um auxiliar brasileiro do nosso escritório, hoje um respeitável economista num banco brasileiro de grande prestígio. Ele me informava sobre a sua infância vivida naquela cidade, quando as aulas eram suspensas nos invernos rigorosos, os canos de água ficavam congelados, e as urinas dos adolescentes chegavam ao chão como pedrinhas de gelo. O máximo de frio que passei, por pouco tempo, foi pelo menos 20 graus numa base aérea do Alasca ou no festival do gelo em Hokaido.

O impressionante relato de Teruyo Nogami, da filmagem de Dersu Uzala, dirigido por Akira Kurosawa, por todo um longo inverno siberiano, até numa tomada noturna com a temperatura de 40 graus abaixo de zero, faz-me dar mais valor àquele filme a que assisti muito emocionado.

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Sempre pensei que os carrapatos do tipo conhecido como pólvora, invisíveis, mas extremamente incômodos na virilha por baixo das calças, era uma experiência tropical terrível porque passei na Amazônia. Não é que ela me relata algo parecido na Sibéria com estas pragas, bem com banheiros malcheirosos iguais aos que encontrei nos garimpos e outros confins deste Brasil?

Tive o privilégio de viajar por muitos países do mundo, até as suas regiões mais afastadas, estudando um pouco das suas histórias. Ainda assim, tenho que reconhecer que são sei nada e tenho que continuar aprendendo muito, consciente que nada observado pontualmente pode ser generalizado. Só deixei de considerar outros povos que vivem de forma diferente dos nossos, como bárbaros.