Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Títulos do Tesouro Brasileiro em Yuan

14 de dezembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , ,

O site da Bloomberg noticiou hoje que o Tesouro Nacional Brasileiro poderá lançar os primeiros títulos chamados “dim sum”, por serem denominados no Yuan chinês no mercado de Hong Kong. Segundo Paulo Valle, vice-secretário do Tesouro, o objetivo seria formar uma referência (benchmark) para o lançamento de outros títulos num mercado que se encontra em expansão. No ano passado, foram lançados 35,7 bilhões de Yuan e já chegaram a 148 bilhões (cerca de US$ 23,2 bilhões) neste ano.

Segundo a notícia, o governo brasileiro está procurando colocar títulos cujas taxas sejam fixas, para ficar com menos de 30% com taxas flutuantes. Os títulos deste tipo, em dólar norte-americano com vencimento em 2019, já estão sendo colocados com rendimentos de 2,97% ao ano, quando eram de 3,07% há um ano.

Informa-se ainda que a America Movil SAB, operadora de celular controlada pelo bilionário mexicano Carlos Slim, pretende ser a primeira empresa privada da América Latina a lançar estes títulos “dim sum” no mercado chinês de Hong Kong.

Este tipo de operação brasileira já ocorreu no passado. Ainda que não se necessitem de recursos no momento, é importante que se formem mercados, inclusive em moedas que estão ganhando importância no mundo. Para a possibilidade de lançamentos de títulos de empresas brasileiras, os do Tesouro acabam sendo uma referência a partir dos quais existem alguns acréscimos.

Com as dificuldades por que está passando o dólar norte-americano que sofre uma acentuada desvalorização, o euro que enfrenta problemas com os países que o adotaram, com a importância crescente da economia chinesa no mundo, acabará sendo inevitável que algumas operações comerciais sejam denominadas em Yuan, sendo conveniente que as operações financeiras também sejam diversificadas nestas moedas.


A Europa e a Ásia no Longo Prazo

13 de dezembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , ,

Se o futuro próximo é difícil de ser esclarecido, quanto mais o que vai acontecer até 2050. Dois artigos publicados recentemente, um relacionado ao encontro dos primeiros-ministros do Japão e da China, Yoshihiko Noda e Wen Jiabao, respectivamente, e o presidente da Coreia do Sul, Lee Myung-bak, para a formação de uma equipe conjunta para a discussão de um FTA – Acordo de Livre Comércio entre os três países, publicado no Nikkei. E outro divulgado pelo Project Syndicate, de Chandran Nair, do GIFT – Global Institute for Tomorrow, de Hong Kong, levam a pensar sobre o que acontecerá na Ásia comparada com a Europa nas próximas décadas.

Todos acompanham as dificuldades enfrentadas atualmente pela Europa que indicam que as soluções possíveis demandam muito tempo, paciência e uma grande determinação de populações de países em situações diversas, tarefas nada fáceis. E de outro lado, uma tendência de aceleração dos entendimentos entre a China, o Japão e a Coreia do Sul, visando a formação de uma poderosa zona de livre comércio na Ásia, até para enfrentar os problemas que se agravam pelo mundo.

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Chandran Nair / Wen Jiabao, Yoshihiko Noda e Lee Myung-bak

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O Controle dos Representantes pelos Representados

8 de dezembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , ,

Observando-se os inúmeros problemas recentes nos mais variados países diante da crise que está se enfrentando em todo o mundo, que inundam todos os veículos de comunicação social a ponto de provocar uma saturação na capacidade da população em absorver tantas notícias restritivas, identificam-se alguns problemas que têm origem comum. As populações representadas não encontram um mecanismo eficiente no controle das decisões tomadas pelos seus representantes, processo que é conhecido em inglês difícil de ser traduzido adequadamente, como “accountability”. As eleições em muitos países estão mostrando a insatisfação da população com as medidas tomadas pelas suas autoridades, preferindo substituí-las por outros eleitos que devem enfrentar dificuldades semelhantes. No fundo, os recursos disponíveis não permitem atender todas as aspirações da população, mas em muitos países os dispêndios continuam sendo maiores que os suportáveis, gerando déficits indesejáveis.

No caso brasileiro, tanto o Legislativo como o Judiciário, bem como algumas instituições como as universidades, em nome de suas autonomias, decidem sobre suas próprias remunerações tendendo a aumentar as despesas públicas. Mas quem acaba sendo cobrado pelos déficits públicos são os membros eleitos do Executivo. Não há uma cobrança funcional da população e dos eleitores sobre os eleitos para o Legislativo ou sobre os membros do Judiciário que têm asseguradas elevadas vantagens em suas carreiras. Por exemplo, as aposentadorias dos membros do Judiciário no Brasil são muitas vezes superiores aos do Legislativo, que são bem melhores que do Executivo. E todos são bem superiores que os do setor privado. As responsabilidades por todas estas faltas de funcionalidades acabam se concentrando nos membros eleitos para o Executivo.

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Palácio do Planalto, o Congresso e o STF

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Difícil Gestão de um País Continental

8 de dezembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , ,

Todos que não tiveram experiências nas gestões de programas de grande magnitude como os exigidos pelos países de dimensões, principalmente emergentes como a China, a Índia, o Brasil e a Rússia, tendem a subestimar as gigantescas dificuldades existentes para tanto. O jornal O Estado de S.Paulo publica uma extensa matéria na edição de hoje, elaborada por Vera Rosa e Tânia Monteiro, informando que a presidente Dilma Rousseff deseja que a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, comande o PAC – Programa de Aceleração do Desenvolvimento, considerado fundamental pelo governo federal, deixando o Ministério do Planejamento concentrado na elaboração do orçamento com a ministra Míriam Belchior.

Como todos estes programas envolvem muitos setores da administração pública, necessitando também da participação do setor privado, num país que não têm a tradição de planejamento e continuidade de muitos programas de envergadura, acabam ocorrendo problemas nas execuções de muitos programas. Prejudicam a manutenção do ritmo de crescimento da economia como um todo. Informa-se que os dispêndios nestes investimentos estão atrasados, por inúmeros motivos, contribuindo para o atual desaquecimento da economia brasileira. O governo tenta superar estas dificuldades.

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Presidente Dilma Rousseff, Gleisi Hoffmann e Miriam Belchior. Foto: Andre Dusek/AE – 15/09/2011

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Impactos Ecológicos Sobre os Atuns no WSJ

6 de dezembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , ,

No atual mundo globalizado, a junção dos problemas de suprimento de alimentos com os ecológicos levam até o sisudo The Wall Street Journal a publicar um artigo informando que as espécies de atum bluefin (honmaguro) sofreram danos restritos com os derramamentos de petróleo no Golfo do México. O National Oceanic and Atmospheric Administration – NOAA, dos Estados Unidos, estima, com base nas análises efetuadas, que podem ser atingidas em 4% da sua população, que tem como habitat este Golfo, onde muitos nascem.

Como é de conhecimento generalizado, o consumo de atum bluefin aumentou sensivelmente com a propagação da culinária japonesa pelo mundo, pois é o mais adequado para a produção do toro, a parte mais gordurosa apreciada pelos gourmets que passaram a consumir sushis e sashimis. Já há algumas produções feitas em cativeiro, em diversos países, mas ainda estes peixes que circulam por todos os oceanos continuam sendo a fonte básica para atender este crescente mercado.

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Emergentes do Leste Asiático Continuarão Crescendo

6 de dezembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , ,

adb-bankAinda que nenhuma previsão do futuro da economia seja muito precisa, principalmente no mundo atual que enfrenta terríveis dificuldades como neste final do ano, a feita pelo ADB – Asian Development Bank para o Leste Asiático para 2012 aparenta ser razoável, podendo crescer 7,2%, com ligeiro decréscimo com o esperado 7,5% neste ano. O Leste Asiático definido pelo ADB compreende Brunei, Camboja, China, Hong Kong, Taiwan, Tailândia e Vietnã. Com isto, espera-se que seja uma das regiões que continuará apresentando um crescimento acima da média mundial, ajudando o resto da economia internacional.

Evidentemente, a recessão no mundo desenvolvido, o crescente protecionismo e a restrição do financiamento do comércio internacional, a persistente pressão inflacionária, as flutuações nos fluxos financeiros podem acabar enfraquecendo ainda mais as economias. Estas informações foram fornecidas pela Dow Jones e publicadas no Nikkei. Mesmo que estes impactos sejam aguardados, espera-se que sejam manejáveis, de forma semelhante com o que acontece em algumas economias como a brasileira.

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Demissões de Ministros no Brasil Acusados de Corrupção

5 de dezembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , , ,

Com as frequentes demissões de ministros acusados de corrupção, muitos eleitores acabam perguntando por que as pessoas nomeadas não tiveram seus passados antecipadamente examinados pelos que influíram nas decisões de suas admissões. E se os intensos noticiários correspondem efetivamente à realidade do que ocorre nos bastidores da política nacional. Por mais objetivos que sejam as análises efetuadas, não se pode assegurar que elas não estejam eivadas das convicções pessoais dos analistas, pois muitas podem apresentar divergências significativas entre elas, principalmente as mais divulgadas pela imprensa.

A arte da política exige muito mais do que está consubstanciada nas teorias políticas, e nos ensinamentos de Niccolò Machiavelli e de muitos sábios chineses como Sun Tzu. Acabam exigindo suplementações nos dias atuais, onde as informações, corretas ou não, acabam se propalando mais rapidamente por um universo mais amplo que no passado.

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Gravuras de Niccolò Machiavelli e Sun Tzu

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O Complexo Problema da Comunidade Europeia

5 de dezembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , , | 2 Comentários »

Numa entrevista que concedi para o Ocidente Subjectivo, um site mantido por acadêmicos europeus, entre outros assuntos fui questionado sobre a minha opinião acerca das causas que provocaram os problemas atuais do euro. O meu ponto de vista de que as condições não determinavam uma zona ideal para uma moeda única acabou sendo confirmado por um dos que colaboraram na criação do euro, Jacques Delors. Numa entrevista concedida para o The Daily Telegraph, ele, que foi o presidente da Comissão Europeia entre 1985 e 1995, conforme consta do site da Folha.com sob o título de “Ex-chefe da Comissão Europeia diz que zona do euro nasceu defeituosa”.

Mesmo com a intensa preparação desde a anterior Comunidade do Carvão e do Aço, todos sabiam que as economias dos países da Europa apresentavam condições muito diferenciadas, havendo necessidade de uniformizar razoavelmente as suas economias, não só do ponto de vista monetário e fiscal, mas produtivo. Entre as comparações das vantagens e desvantagens, optou-se pela criação do Mercado Comum Europeu e da adoção do euro, admitindo-se que os países em melhores condições deveriam ajudar os mais desfavorecidos.

Um longo período de orientação predominante de economia do bem-estar social na maioria dos países europeus fez com que eles contassem com benefícios superiores aos correspondentes às suas diferentes produtividades e capacidade de arcar com os seus encargos. Margaret Thatcher já apontava, com sua posição sempre rigorosa, que os ingleses pretendiam salários de alemães com produtividades bem inferiores. E mesmo que no Reino Unido não tenha aderido ao euro, hoje, os efeitos das dificuldades europeias atingem aquele país.

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Margaret Thatcher, Jacques Delors, Angela Merkel e Nicolas Sarkozy

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Petrobras Chama Atenção de Empresários Japoneses

2 de dezembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Empresas, Notícias, webtown | Tags: , , , ,

* Publicado originalmente na Revista Brasil, da Câmara de Comércio Brasileira no Japão

O presidente José Sergio Gabrielle de Azevedo, da Petrobras, fez uma brilhante apresentação no almoço promovido pela Câmara de Comércio Brasileira no Japão (CCBJ), no dia 7 de novembro, nas dependências do luxuoso Hotel Península, em Tóquio. Observadores experientes das relações entre o Brasil e o Japão avaliaram o evento como dos mais expressivos no relacionamento bilateral recente entre os dois países.

A Petrobras vem apresentando aos empresários, notadamente dos grandes grupos japoneses, os dados de sua performance recente, bem como os arrojados programas para os próximos anos, criando grandes oportunidades tanto para os investidores como fornecedores internacionais. Isto já aconteceu na própria Câmara de Comércio, nas dependências do JBIC (Japan Bank for Internacional Cooperation) ou em Salvador, Bahia, quando empresários brasileiros se reuniram com os japoneses.

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As empresas japonesas relevam a disposição de participar deste programa considerado entre os mais promissores do mundo emergente, que ganha uma importância maior no cenário mundial. Muitos já conhecem o que vem acontecendo no Brasil, especialmente os que acompanham atentamente os assuntos relacionados com o abastecimento vital de energia. Na palestra recente de José Gabrielli, houve um dado que impressionou os participantes, como o expressivo aumento dos componentes produzidos no Brasil nos equipamentos utilizados pela Petrobras. Isto demonstrou aos empresários japoneses a necessidade de ampliar suas produções no Brasil para continuarem competitivos.

Muitos estão se apressando para acelerar seus projetos no país, não só para aproveitarem as oportunidades geradas pelo pré–sal como visando o fornecimento para outros grandes projetos brasileiros, como os relacionados com a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

Muitos japoneses já se mostram sensíveis na participação de projetos, que implicam em pesquisas adicionais a serem efetuadas no Brasil. A comparação com o que fazem os grandes grupos internacionais, que já aderiram aos trabalhos como os que estão feitos na ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, mostram que os grupos japoneses estão atrasados em comparação com os grupos internacionais.

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Na plateia alguns empresários se mostravam impressionados com a presença de importantes líderes da comunidade empresarial japonesa no evento, demonstrando os elevados interesses das empresas internacionais nos projetos brasileiros. Um dos novos participantes destes almoços da CCBJ, notando a importância do evento, perguntou-me se tais reuniões eram frequentes, revelando o seu interesse em participar de outros que lhe permitiria estabelecer contatos com os responsáveis pelos grandes projetos brasileiros.

Eventos desta natureza, que contribuem decisivamente no aumento do intercâmbio bilateral do Brasil com o Japão de forma efetiva e objetiva, poderiam ser multiplicados, além dos que já vêm sendo realizados. Mostra que a Câmara de Comércio está desempenhando um papel de grande importância nestas relações. Sempre é possível aperfeiçoar estas interessantes iniciativas, como propiciar uns espaços maiores para o relacionamento dos participantes que se mostravam ávidos a aprofundar ou estabelecer novos contatos iniciais.

Outras entidades similares, mundo afora, vem desempenhando papéis importantes no estímulo ao intercâmbio com a participação ampla, pois o mundo globalizou-se e todos participam juntos com outros grupos dos grandes projetos como os da Petrobras.

Outros dirigentes brasileiros importantes como os da Vale, da Embraer, do Banco do Brasil, do BNDES e dos grandes grupos privados do Brasil com atuação internacional poderiam ser convidados para participar de eventos desta natureza, pois nota-se o forte interesse dos japoneses estabelecerem relacionamentos com estes grupos, montando até consórcios para participarem de alguns grandes projetos brasileiros.

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Dificuldades das Consultorias Econômicas

30 de novembro de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , ,

Parecem pertinentes as reclamações sobre as análises efetuadas pelas consultorias econômicas, principalmente quando elas ousam efetuar projeções futuras, diante das divergências como as que acabam acontecendo quando o futuro já virou passado. Isto, apesar dos avanços da teoria econômica, das facilidades da informática e de sofisticados instrumentos estatísticos disponíveis. Um reconhecido e experiente profissional como o professor Antonio Delfim Netto afirma sempre que o futuro é opaco, podendo ser influenciado por fatores imprevisíveis. E existem os que afirmam que até o passado nem sempre é muito seguro, apresentando revisões nos dados históricos, principalmente no Brasil.

Mas também existem imprecisões que poderiam ser melhor alertadas e que nem sempre merecem a atenção devida dos muitos profissionais que atuam no setor atualmente. Poucos conhecem as metodologias que são utilizadas para a coleta e elaboração de muitos dados, que chegam a ser meras aproximações do que se pensa refletir a realidade, que estão sendo aperfeiçoados no tempo. Muitas são amostras que não foram tecnicamente elaboradas, com todos os cuidados indispensáveis para melhor expressar a evolução de algumas realidades, sendo somente parciais. Mesmo os censos ainda são precários e nem sempre realizados com a regularidade desejada, apesar dos esforços dos organismos encarregados das estatísticas.

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O IBGE é o órgão central dos levantamentos estatísticos e a Fundação Getúlio Vargas elabora muitos indicadores de preços

Muitas estatísticas são elaboradas a partir de informações prestadas pelas empresas e pelas famílias, que não as consideram importantes, e costumam apresentar vieses decorrentes, por exemplo, das sonegações fiscais. Elas são coletadas, normalmente, pelos órgãos responsáveis pelas estatísticas dos municípios que nem sempre contam com pessoal especializado, e muitas vezes têm interesse na elevação de alguns números, como os que refletem a população, pois muitos dos recursos que lhes são repassados se baseiam neles. Depois, costumam ser agregados ao nível dos Estados, que contam com limitações orçamentárias e finalmente são globalizados para o país todo. Todos os estudantes deveriam conhecer os seus processos de elaboração para se conscientizarem de suas limitações bem como aperfeiçoamentos metodológicos constantes.

Muitos dados são feitos por amostragens incapazes de refletir as mudanças dinâmicas que vão ocorrendo na economia, baseando-se em números que refletem uma posição estática do passado, mesmo que alterada periodicamente. Outros são coletados somente nas capitais ou outras cidades importantes, como os que deveriam refletir a evolução dos muitos índices de preços, cujas metodologias nem sempre são conhecidas nos seus detalhes pelos profissionais que as utilizam. Baseados em orçamentos familiares, muitas vezes são meras amostragens incapazes de contar com a precisão desejável, sendo o que se chama tecnicamente como “proxies” da realidade, ou meras aproximações.

Vamos tomar, por exemplo, os dados relativos à evolução da produção da pecuária. Normalmente, os dados estatísticos de muitos frigoríficos não são precisos, lamentavelmente, diante da sonegação dos dados efetivos. As variações do rebanho deveriam ser medidas, sendo mal feitas mesmo nos censos por limitações orçamentárias. O usual acaba sendo uma intra e extrapolação dos dados que não estão disponíveis. Houve períodos em que as estatísticas refletiram um crescimento contínuo da produção animal e com taxas fixas por um longo período longo.

Alguns municípios contam com limitados números de agentes estatísticos que são responsáveis pelos dados demográficos, de saúde, de educação, da produção industrial, do comércio, da agropecuária como das produções extrativas e minerais. Eles não são super-homens com conhecimentos abrangentes de todos estes setores. As estimativas de safras chegaram a ser elaboradas por um funcionário que dava uma “espiada” geral, no panorama que lhe era possível na sua região, para dizer que neste ano ela cresceria ou decresceria tanto por cento.

Há uma hipótese estatística dos grandes números que supõe que os erros se compensam, mas a tendência sentida pelos mais experientes profissionais é que existem vieses sistemáticos num certo sentido, em muitos dados.

Com os meios hoje disponíveis da informática, muitos dados poderiam ser mais precisos e, no entanto, os chamados “indicadores antecedentes”, como as vendas de materiais de embalagem, carteiras de pedidos e outros não estão merecendo a atenção devida, fazendo com que muitas consultorias apresentem estimativas de evolução da produção, dos preços e juros que sejam convenientes para os seus clientes, infelizmente, baseados em dados que apresentam alguns atrasos significativos. Muitas hipóteses utilizadas não estão explicitas.

Quando existem mudanças de tendências como as que vinham ocorrendo intensamente no passado recente, passando de uma conjuntura ascendente de atividades econômicas mundiais e pressões inflacionárias elevadas para uma depressiva e redução de muitos preços, se tomados somente as informações passadas, certamente vão ocorrer distorções que nem sempre são alertadas.

No passado, o Banco Central do Brasil expressava algumas de suas observações para o chamado “mercado”, na tentativa de contribuir na formação das expectativas, que retornavam para as autoridades monetárias na forma do atendimento das pesquisas para elaboração do relatório “Focus”. Esta relação poderia gerar situações complicadas que ajudaram a manter os juros elevados, diante de expectativas inflacionárias altas, que não se devem somente as indexações persistentes em muitos serviços públicos.

Hoje, com a direção atual do Banco Central formada somente por profissionais de carreira, capacitados a captarem as tendências com maior precisão, como a persistência da crise mundial por um prazo mais longo, sente-se que o “mercado” acaba refletindo as expectativas de inflação decrescente, acompanhando as autoridades, depois de um curto período de acusações que elas estavam cedendo às pressões política, perdendo a sua independência.

Muitas instituições privadas dispõem de amostras suficientemente grandes dos seus clientes sendo portadores de informações sobre as tendências dos mesmos com relação ao futuro próximo. No entanto, acabam sendo informações de uso privativo. Com os instrumentais hoje disponíveis, as autoridades de diversos setores podem contar com dados mais precisos, com a rapidez necessária, como os que já foram utilizados no passado, sem nenhuma sofisticação técnica.

Observando-se o que acontece em muitos países, quando todos trabalharem com dados mais precisos, as possibilidades de acertos da arte da política econômica acabam se elevando, ajudando no aumento da eficiência de todo o país, tanto em benefício da produção como dos consumidores que são vitais em qualquer economia, e, com maior transparência, as distorções de muitas consultorias poderiam ser minimizadas.