Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Faleceu o Doutor Teiichi Haga

19 de abril de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: , , | 47 Comentários »

Aos 95 anos bem vividos, faleceu o doutor Teiichi Haga, formado na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo em 1940, deixando esposa, filhos e netos. Seus pais chegaram ao Brasil no Kasato Maru, o navio que trouxe a primeira leva de imigrantes japoneses. Ele nasceu e morou por muitos anos na rua Conde de Sarzedas, no bairro da Liberdade, o primeiro núcleo dos japoneses em São Paulo, tendo estudado na Escola Taisho (Escola Piratininga durante a guerra) na sua época pioneira, em torno de 1920, quando era a primeira escola primária da comunidade onde se lecionava japonês e português.

Ele era um arquivo ambulante da história da comunidade em São Paulo da época, com uma privilegiada memória preservada integralmente até a sua morte. Personalidade alegre e animada, gostava de cantar músicas em português como em línguas estrangeiras, como o italiano, francês e inglês.

Foi uma figura importante na fundação da Liga Estudantina Nipo-Brasileira ainda em 1934, que reunia a elite de estudantes nikkeis, publicando seus artigos na pioneira revista Gakusei e Transição, ainda antes da Segunda Guerra Mundial. Foi a fonte principal que me permitiu escrever o livro “O Olhar dos Nisseis Paulistanos”, no qual anexei uma entrevista com ele.

Teiichi Haga

Ele foi advogado da famosa colonizadora Bratac, que entre muitas organizações resultou no Banco América do Sul e cidades como Bastos e Assaí. Ajudou dona Margarida Watanabe a organizar a defesa dos japoneses presos durante a Guerra e assistir as suas famílias, e a elaborar os estatutos do Ikoi-no-Sono, Instituto Dom José Gaspar. Foi presidente do São Paulo Base-Ball Club.

Na Liga Estudantina, convivia com personalidades importantes da comunidade Nikkei, como os deputados federais Yukishigue Tamura, João Sussumu Hirata e Diogo Nomura, deputado estadual Ioshifumi Utiyama, o ministro Fábio Yasuda, o doutor Masaaki Udihara que foi o único nikkei oficial da FEB (cujo diário transformei no livro “Um médico brasileiro no front”) e jornalistas como Hideo Onaga e José Yamashiro.

Na Faculdade de Direito, foi colega do deputado federal Ulisses Guimarães. Para poder estudar, entregava os doces que eram preparados pelo seu pai para as famílias ricas de São Paulo que moravam nas avenidas Paulista e Angélica.

Ele era conhecedor profundo da vida dos japoneses em São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial. Apesar de tudo isto, nunca foi lembrado para ser condecorado pelas entidades nikkeis ou governo japonês.

Com seu falecimento, virou-se uma página importante da história da comunidade nikkei no Brasil, deixando muitas saudades.