Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Artigos Sobre a China na Imprensa Internacional

6 de julho de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: , , , ,

Nota-se uma infinidade de artigos nas revistas internacionais alertando sobre problemas na economia chinesa, que certamente existem como em todos os países emergentes e existiram nos atualmente desenvolvidos. Problemas relacionados aos investimentos, os financiamentos, os débitos públicos, as pressões inflacionárias etc. Acabam dando a impressão que a economia chinesa está na beira de uma crise, e aspectos que não foram alertados no comportamento da economia norte-americana e nas suas repercussões internacionais agora estão sendo levantados. Todos sabem que existem problemas, e o processo de desenvolvimento de um país emergente é a constante superação das mesmas, e na medida em que algumas sejam resolvidas outras novas aparecerão.

Não existe nenhuma economia no mundo que seja perfeita, e até agora os constantes desequilíbrios que se procuram corrigir são os que exigem a ação dos governantes daquele país, como sempre foi no passado. Quem imaginar que a China é diferente do resto do mundo pode estar enganado, e ela vai passar por todas as dificuldades dos emergentes que se tornaram desenvolvidos. É evidente que existem desequilíbrios, mas o que parece adequado analisar é se seus dirigentes estão corrigindo os possíveis, dentro dos seus constrangimentos. O que parece é que a China está incomodando muitos que perderam espaços para ela.

É evidente que existem problemas políticos como em qualquer país. As liberdades democráticas não são as desejáveis, como se as desigualdades econômicas em outros países não determinem maiores poderes para determinados grupos. Veja-se o poder do sistema financeiro internacional, que não permite uma regulação razoável dos fluxos financeiros exagerados, das especulações desenfreadas. Achar que a igualdade política existe nos países considerados mais liberais é uma ficção. Mesmo os problemas ecológicos, os de previdência social, de subsídios aos pobres, como a alguns setores menos eficientes da economia existem por toda a parte. Parece injusto atribuir somente à China.

Tudo indica que, mesmo com comando único, convivem dentro do Partido Comunista Chinês diversas facções, como nos diversos partidos nos países ocidentais considerados democráticos, mas há um pragmatismo chinês que vai aumentando a influência do mercado naquele país, até porque o controle estatal está se deteriorando, principalmente no nível local. Há um processo de descentralização dando maior importância às regiões menos desenvolvidas. Existem grupos que divergem do Partido, que são cada vez mais numerosos e importantes. É natural que o país tenda a ser mais democrático com o desenvolvimento.

Em muitos países está se admitindo que a ação governamental tente equilibrar o exagero do mercado, tanto pelos controles dos poderes de tendências monopolísticas como pela necessidade de ações indicativas para o setor privado, que sempre precisa também da proteção do Estado. O mercado só funciona se o governo garantir um mínimo de regras para todos, mas seria uma ingenuidade admitir-se que todos gozam dos mesmos privilégios.

Certamente, existem distorções na China e seria desejável que fossem corrigidas, assim como nos países que utilizam os mecanismos de mercado e possuem um sistema político considerado aberto. A China, com uma longa história e uma cultura respeitável, bem mais antiga e profunda que a existente no Ocidente, tem os seus problemas, mas quem não os tem também? Parece ser mais interessante ter uma atitude mais pragmática, aperfeiçoando o que for possível, em ambos os lados, sem um radicalismo ideológico que não ajuda a ninguém.

A China já vem reduzindo o seu ritmo de desenvolvimento, procura corrigir os seus problemas inflacionários, estimula o enxugamento das máquinas administrativas públicas, é obrigada a discutir internamente seus problemas. E com todas as suas dificuldades, vem crescendo bem acima da média mundial, continuando como locomotiva da economia internacional, substituindo outros que já passaram pelos seus momentos mais brilhantes. É possível que também ela, a China, venha a entrar em decadência, mas parece que não será para as nossas gerações, até porque até a revolução industrial era a que mais inovava em tecnologias em todo o mundo, como mostrou Joseph Needham, da Universidade de Cambridge. Um pouco mais de respeito com ela parece não fazer mal a ninguém, deixando de se concentrar somente nos problemas de prazo mais curto.