Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Planejamento de Prazo Longo Para o Brasil

20 de julho de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: , ,

Os observadores que estão fora do governo federal sentem que a presidente Dilma Rousseff tem uma tendência clara para se preocupar com as questões de longo prazo, procurando realizar projetos que contribuam para a criação de condições que beneficiem o Brasil de forma permanente, incluindo a eliminação da pobreza absoluta que certamente não é um problema de curto prazo. Apesar de o governo federal ter anunciado as 13 diretrizes que devem orientar a sua ação, até agora preferiu não divulgar um plano formal, que esclareça a estratégia que está adotando. Acaba por dar a impressão de mera continuidade do que vinha se fazendo na administração anterior, que contava na sua direção com uma figura carismática capaz de mobilizar a população.

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Os muitos problemas do cotidiano, inclusive os relacionados com os políticos, acabam dando a impressão que há um exagero de ação pragmática do governo, com a tentativa de se concentrar nos esforços pontuais para resolver os problemas que vão aflorando. Sente-se, no momento, a conveniência do anúncio de um plano mínimo, orgânico, de compreensão fácil para todos os brasileiros, mostrando quais são os objetivos prioritariamente perseguidos, que recursos serão mobilizados para tanto e as estratégias pelas quais se chegarão aos mesmos, partindo do ponto em que o Brasil encontra-se no momento, levando em conta o quadro econômico mundial no qual está inserido, que apresenta sinais de dificuldades.

Como os ministérios são muitos em número, a grande maioria sem uma estrutura tradicional de um corpo de funcionários de carreira que tenha uma cultura das necessidades nacionais, transmite-se a impressão de ações improvisadas, fortemente dependente dos seus titulares que escolhem o corpo básico de seus funcionários.

Todos sabem hoje que não há necessidade de um plano rígido no atual mundo cambiante, mas, havendo uma orientação básica e coordenada que vai ser perseguida pelo governo com um pouco mais de detalhe que as diretrizes do governo, é de se acreditar que ele pode facilitar a ação do setor privado do qual ele necessita para realizar o desenvolvimento, bem como dos demais níveis da administração pública ou de organismos considerados autônomos. E até dos demais poderes da República, eliminando a impressão do improviso.

Infelizmente, generaliza-se a ideia que a ação governamental está concentrada na gestão, que o governo anuncia como o problema fundamental da administração pública, mas não consegue mostrar a sua eficácia de forma compreensível para a opinião pública, ainda que isto ainda seja recuperável. Com a multiplicação de ministérios, alguns sem a mínima objetividade, não se percebe que o governo esteja tentando reduzir o seu custeio, para deixar mais recursos para os investimentos indispensáveis, sem agravar a dívida pública.

Sempre há um período de carência concedida para a nova administração e sua equipe, mas na medida em que substituições se tornaram necessárias em posições fundamentais, a opinião pública parece confusa sobre a ação governamental. Na medida em que se conte com um plano, mesmo com a substituição dos personagens, fica-se com a ideia que os novos perseguirão objetivos semelhantes que não sejam o mero atendimento de suas necessidades político partidárias, mas determinadas por um governo consolidado.

É evidente que numa democracia, ainda que dotada de instrumentos como as medidas provisórias, há necessidade de uma sólida base política que seja solidária com o governo, não de forma impositiva, mas participativa, mesmo num país onde a tradição dos partidos não seja forte. Ainda que a oposição esteja esfacelada, é preciso que nem tudo dependa tão fortemente dos desejos da Presidência da República. A sua figura necessita ser preservada, até porque ela é também a de Chefe de Estado, além de Chefe de Governo.

Na organização do governo sempre há necessidade de um círculo de ministros que assumam as responsabilidades, mesmo de ações equivocadas, para preservar a figura do Chefe que se confunde com a do país. Depois de mais de seis meses da nova administração, parece que já é chegado o momento para um ajuste de acomodação, pois o desgaste do governo que começa a ocorrer não interessa a ninguém. Mas que não seja somente da mudança de figuras que se mostraram abaixo do esperado, mas do próprio sistema de funcionamento do governo, que começa a ganhar mais as características próprias da presidente Dilma Rousseff que ainda conta com um cacife apreciável.

Tanto os créditos como os débitos acabarão ficando sobre a sua figura, tendo todas as condições para um mandato duplo de quatro anos. Quem dispõe da caneta e do Diário Oficial no Brasil é muito poderoso e nem mesmo quem tenha muita capacidade carismática não tem condições de disputar a sua posição. Mas não parece que convém abusar deste poder que vai se desgastando naturalmente ao longo do tempo, de forma inexorável.