Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Confiança é um fundamental e frágil sentimento

3 de dezembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: , , , , ,

Os economistas tendem a achar que os agentes econômicos atuam numa sociedade com racionalidade, ou seja, tentam maximizar suas vantagens com o uso dos mecanismos de mercado. As suas teorias estão se tornando muito sofisticadas com modelos de todos os tipos, incluindo previsões de riscos e de expectativas com relação ao futuro, que entendem estar precificadas e antecipadas pelo mercado. Diante da realidade mais complexa, que vai além das hipóteses utilizadas, acabam constatando que existem fatores psicológicos, ideológicos, culturais e outros que acabam sendo mais fortes que os interesses econômicos, complicando as questões econômicas, que deixam de ser tratadas por uma ciência e acabam caindo no campo da arte política.

Os Estados Unidos passam por uma fase difícil, pois, apesar do aumento da sua liquidez, tanto os bancos como as empresas temem efetuar investimentos, ampliando sua capacidade produtiva que poderia ativar sua economia, criando empregos. A fragilidade política do atual governo, adicionando-se as incertezas relacionadas com o futuro, inibe as ampliações do emprego e da renda dos seus recursos humanos. Existem, infelizmente, problemas ideológicos, bem como prazo para a maturação dos investimentos, e eles não se sentem seguros sobre as perspectivas futuras.

As mudanças demográficas que ocorrem em todo o mundo aumentam, relativamente, as populações mais idosas e diminuem os jovens, sobrecarregando os que estão ativos. Os encargos previdenciários e de saúde aumentam a dívida pública, com riscos para a democracia social que procuravam, como na Europa.

Não havendo uma confiança adequada entre os parceiros de um projeto, sempre haverá necessidade de garantias adicionais como forma de reduzir os riscos assumidos. Ainda que o mundo entenda que a expansão está ocorrendo atualmente nos chamados países emergentes, como a China, a Índia, o Brasil e a Rússia, de grandes extensões geográficas e populações expressivas, teme-se sobre a continuidade dos resultados recentemente obtidos. Não adianta bradar que eles estão errados nos seus temores, mas oferecer as informações que os convençam, ainda que isto implique num trabalho cansativo.

A recente crise que começou no sistema habitacional dos Estados Unidos transformou-se em mundial, diante da perda de confiança nas instituições financeiras que paralisaram seus empréstimos para as outras, nas operações internacionais. Ficou evidente que os exageros do sistema financeiro na economia mundial precisam ser controlados, no que eles resistem, procurando disseminar agora o medo sobre a retomada da inflação, que seria combatido com juros mais elevados, ainda que exista deflação em alguns países. Parece ser mais uma questão a ser resolvida com o aumento da produção.

Um exemplo da frágil confiança de natureza diferente ocorreu no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Quando a população carioca sentiu que a ação coordenada das autoridades locais com o suporte das Forças Armadas era para valer, apoiaram maciçamente esta operação oferecendo com as denúncias muitos endereços onde atuavam os traficantes criminosos. Estabeleceu-se um importante elo de confiança que exige um longo trabalho detalhado e aperfeiçoado para ser consolidado. Mesmo dentro de pequenas organizações como um hospital, na medida em que não exista um mecanismo adequado para a convivência de grupos que pensam de formas diferentes, os projetos futuros ficam mais difíceis.

Parece que estes aspectos psicológicos coletivos são importantes de serem entendidos, onde a capacidade de comunicação social adequada torna-se importante. A hipótese de comportamento hedonístico dos seres humanos, na qual se baseia os economistas, pode ser questionada, no mínimo. No Brasil, internamente parece que se conseguiu estabelecer uma confiança razoável, apesar de aspectos que ainda podem ser corrigidos, mas parece que há necessidade de um intenso trabalho de convencimento de alguns grupos estrangeiros que podem ajudar em alguns projetos nacionais.


Financial Times Critica Política do FED

7 de novembro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais, Notícias | Tags: , , ,

Um interessante artigo publicado no Financial Times e reproduzido na Folha de S.Paulo de hoje, com o título “Falta de confiança na economia dos EUA ameaça plano do FED”, que adota uma posição semelhante ao do professor Delfim Netto no Brasil, mostra que o aumento de liquidez de US$ 600 bilhões provocado pelas autoridades monetárias norte-americanas corre o risco de somente provocar a desvalorização do dólar, sem estimular a economia daquele país.

Na realidade, tanto as empresas norte-americanas como os bancos estão com excedentes de recursos, não havendo necessidade de recursos adicionais para estimular seus investimentos, que poderiam aquecer um pouco a economia daquele país. Eles não investem suas disponibilidades por não estarem confiantes não só no governo de Barack Obama como na ativação do consumo nos Estados Unidos, num horizonte razoável do futuro.

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