Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Entrevista de George Mitchell para The Economist

2 de agosto de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , , ,

Se existe uma entrevista recente de importância vital é a que George Mitchell concedeu para o The Economist, que deve circular nesta semana. Ele revolucionou o aproveitamento do gás do xisto, usando a tecnologia do fracking (estou traduzindo livremente como fraqueamento) que está ajudando a mudar a matriz energética mundial, com um baixo custo do gás. Mas, como o entrevistado admite, o mundo não pode focar somente no benefício decorrente do gás do xisto, mas precisa também estender suas ações para evitar os problemas que decorrem da sua exploração. Ele admite que subsistam graves problemas ambientais que precisam ser neutralizados. George Mitchell faleceu recentemente, no último dia 26 de julho, tendo deixado poucos depoimentos. Ele concentrou-se, depois de se tornar milionário, na venda de sua empresa em atividades filantrópicas, sendo possível que a tenha feito para compensar parte das dificuldades que costumam ser deixadas por qualquer inovação tecnológica de importância.

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George Mitchell. Foto publicada no The Economist

Apresento um resumo grosseiro da entrevista como aperitivo para a sua leitura integral que recomendo. George Mitchell esclareceu que os geólogos estavam conscientes das grandes reservas de xisto (que são diferenciadas por região) e as grandes empresas sabiam do seu potencial, com elevado teor de metano, de 25 a 40%, e só o fraqueamento das células permitiu a liberação do gás, o que não tinha sido possível antes. Muitas empresas estavam trabalhando sobre o gás do xisto, mas não em como separar o gás das células, respondeu ele sobre uma pergunta.

Ele informou que trabalhou entre 1980 a 1990, investindo cerca de US$ 6 milhões para conseguir o fraqueamento num processo economicamente viável, e persistiu no trabalho apesar do pessimismo de muitos. Ele foi avançando aos poucos nos conhecimentos até conseguir que o gás fluísse das células.

Ele não se surpreendeu com as mudanças que foram observadas no mercado com a descoberta do processo, mas com a velocidade com que a tecnologia se propagou. Em 2000, somente 1% do gás natural dos EUA eram de xisto e hoje já são 30%.

Sobre a tecnologia, apesar do governo norte-americano ter sido colaborativo, as pesquisas foram privadas da sua equipe e estão patenteadas. Perguntado sobre as preocupações ambientalistas, ele informou que, como um filantrop,o ele entende que a indústria não pode só focar nos benefícios do gás do xisto, tendo que encarar os seus muitos desafios.

Ele reconhece os impactos significativos da exploração do xisto na qualidade do ar, consumo de água, contaminação da água, e sobre as comunidades locais. Ele entende que é preciso garantir que os vastos recursos renováveis dos Estados Unidos também façam parte do futuro da energia limpa, especialmente porque o gás natural e as energias renováveis são grandes parceiros, e alimentam a produção de energia do país. A eficiência energética também, no seu entender, é uma parte essencial da estratégia global de energia, que o país precisa adotar.

Ele recomenda que toda a indústria do setor apoie soluções baseadas na ciência e na inovação tecnológica, utilizando todos os seus recursos, inclusive humanos, junto com os cientistas, acadêmicos e o governo, envolvendo também os ambientalistas para obter uma regulamentação adequada. Ele começaria pelos 14 Estados americanos, que detêm 85% da produção nacional. Visariam as melhores práticas para a saúde, segurança profissional e relações ambientais. Também o governo federal do EUA deveria participar do esforço.

Ele reconhece que o metano é um potente poluente influindo sobre o efeito estufa e vazamentos descontrolados podem comprometer a causa do gás natural mais limpo do que do carvão, a partir de uma perspectiva global do clima no mundo.

No final da entrevista, ele respondeu que estava mais motivado para tornar a tecnologia de domínio público. Seus colaboradores estão ajudando outras empresas e muitas gigantescas empresas estão fazendo grandes investimentos na tecnologia do fraqueamento hidráulico, segundo ele informa. Ele menciona que a China também vem efetuando esforços nesta área.

George Mitchell não costumava dar entrevistas. Esta é bastante esclarecedora e rara, dado o seu falecimento. Revela a sua consciência que o gás do xisto apresenta alguns inconvenientes que necessitam ser superados, mas entendia que eles serão superados pelos esforços dos dirigentes de empresas do setor. Sua contribuição foi relevante, e será sempre lembrado como um dos grandes heróis norte-americanos, na obtenção de sua independência energética, tendo contribuído para a competitividade do seu país, ajudando na sua recuperação econômica.