Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Ampliação do Intercâmbio Nipo-Brasileiro no Momento

1 de junho de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , , , | 2 Comentários »

Quando a economia japonesa, com o novo governo do primeiro-ministro Shinzo Abe, torna-se mais agressiva na sua política externa, tudo indica que o Brasil pode aproveitar a oportunidade para a elevação do seu patamar de intercâmbio bilateral, principalmente se houver um contato direto entre os seus dirigentes máximos. Este intercâmbio já é tradicional, tendo recebido o primeiro impulso no começo do século XX, com a vinda de inúmeros imigrantes japoneses, cujos descendentes, como brasileiros, continuam prestando bons serviços ao país, gozando de um prestígio popular de trabalhadores e honestos. Todos atribuem que parte substancial do desenvolvimento agrícola brasileiro deveu-se à imigração japonesa. Antes da Segunda Guerra Mundial, o Brasil iniciava seus primeiros passos para abastecer o Japão com algumas matérias-primas agrícolas como o algodão. Com o conflito mundial, houve um interregno, sem que houvesse um confronto direto entre os dois países.

No pós-guerra, o Brasil esteve entre os primeiros países que encomendaram navios da indústria naval japonesa que estava sendo transformada, necessitando de demanda, dentro do Plano Marshall. O grande passo do intercâmbio decorreu do desejo brasileiro de incrementar a exportação dos seus minérios para abastecer as siderurgias japonesas que se encontravam em expansão. Um dos mais formidáveis sistemas logísticos do mundo foi estabelecido em conjunto entre os dois países, com investimentos nos escoamentos para os portos, equipamentos de portos de grande capacidade, navios especiais para graneis sólidos para grandes distâncias, construção de portos no Japão para receber estes navios. O sistema que tinha como carga de retorno o petróleo o do Golfo Pérsico, com navios especialmente construídos como os “ore/oil”, acabou sendo ampliado para atender as demandas de outros países asiáticos como a Coreia e a China. Outros concorrentes internacionais do Brasil, como a Austrália, copiaram este sistema.

O sistema que funcionou décadas estimulando outros investimentos japoneses no Brasil acabou sendo prejudicado pela crise mundial provocada pelo petróleo e elevação dos juros internacionais. Mas antes o Brasil recebeu muitas assistências do Japão, conseguindo um desenvolvimento acelerado, reproduzindo parte do chamado milagre japonês, com a ampliação das exportações brasileiras. O Brasil foi obrigado a seguir o México no default internacional, tendo entrado em crise, durante a qual os japoneses procuraram ajudar os brasileiros no equacionamento da sua dívida externa. Também o Japão enfrentou o estouro de sua bolha, passando por décadas de baixo crescimento. Mesmo nos períodos duros, ambos os países continuaram seus intercâmbios, com recursos dos japoneses até para o saneamento público ou ampliação das instalações da Petrobras e da Vale. Chegou-se até ao intercâmbio para o desenvolvimento do Cerrado e do Projeto Carajás.

Recentemente, o Brasil conseguiu uma melhoria substancial de sua distribuição de renda, ainda que haja mais espaços para a eliminação da miséria absoluta, ampliando sua classe média. Teve um período que era considerado dos países emergentes mais promissores. Procura agora recuperar a sua competitividade externa, com medidas como a melhoria da sua infraestrutura. O Japão tenta se recuperar de décadas de baixo crescimento na sua economia, tornando-se mais agressivo com relação às atividades externas. Vem colaborando com países emergentes e em desenvolvimento, estimulando suas empresas a conseguirem encomendas e ampliarem seus investimentos no exterior, além de elevar os seus financiamentos. Também ambos os países procuram aumentar suas pesquisas internas visando maior competitividade internacional, promovendo recentemente a desvalorização de seu câmbio. Existem muitos aspectos em que podem promover um produtivo intercâmbio com benefícios recíprocos.

O Japão, como uma economia que conta com poucos recursos energéticos e minerais, procura assegurar o seu abastecimento externo, interessando-se por investimentos relacionados com o chamado pré-sal, dispondo-se a construir uma grande plataforma para dar apoio a uma ampla gama de atividades relacionadas com a extração do petróleo e do gás, bem como sua ampliação.

No que se refere à infraestrutura, o Japão interessa-se por conseguir encomendas para seus equipamentos, bem como melhorar a competitividade brasileira visando suprimentos de commodities para assegurar o seu abastecimento. Um projeto com o qual está concorrendo refere-se ao sistema de trens de alta velocidade, para o que conta com boa tecnologia comprovada, ainda que seus custos sejam mais elevados.

Também muitas empresas japonesas se interessam pelo mercado interno que continua se expandindo, ao mesmo tempo em que as condições macroeconômicas se apresentam com riscos baixos. Os brasileiros esperam conseguir ampliar os fornecimentos de seus produtos para o Japão, como com os sucos de laranja, papel e celulose, frangos e outros produtos de origem agrícola, onde continuam competitivos, além das commodities minerais e agrícolas.

Dentro das condições atuais do mercado internacional, e as necessidades de suas economias, com as tecnologias disponíveis e os financiamentos adequados, ambos os países apresentam boas condições de elevar o atual patamar do intercâmbio bilateral, que veio se mantendo em níveis razoáveis, mesmo com as dificuldades.

Um maior entendimento político, certamente, melhorará as condições de incremento do intercâmbio, ficando em situação melhores que seus vizinhos asiáticos ou latino-americanos. Os potenciais são elevados, exigindo um trabalho preparatório mais explícito, inclusive dos esforços oficiais que dão suporte às ações do setor privado de ambos os países.