Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Lições das Crises nos Países Árabes

1 de março de 2011
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: ,

Este site vem insistindo que generalizações de observações localizadas são sempre perigosas. Os muitos países do mundo árabe possuem histórias, economias, tradições culturais e estágios de administração política que os diferenciam, não se podendo afirmar que o que acontece em determinada localidade tenderá a estender-se a outras de forma previsível. O que parece comum é que os recentes meios de comunicação eletrônica, como a internet e redes de relacionamento, se generalizaram, fazendo com que controles tradicionais de muitas autoridades tenham um efeito limitado.

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Aqueles países que vieram flexibilizando seus regimes políticos nos últimos anos, atendendo parte das aspirações populares, tendem a contar com maiores possibilidades de se adaptar aos novos tempos. A melhoria geral do padrão de renda leva naturalmente às aspirações por maior liberdade política, mesmo que a distribuição da renda seja razoável. Partes de suas populações tiveram oportunidade de estudar no exterior e conhecer regimes democráticos, mesmo que eles também apresentem seus defeitos.

Na maioria dos países árabes, as tradições tribais continuam fortes havendo diferenças étnicas sensíveis, como entre os sunitas e xiitas, e sensíveis problemas religiosos. Mesmo dentro dos muçulmanos existem comportamentos mais radicais até os mais tolerantes, não se restringindo somente aos árabes, como a Indonésia e a Malásia.

Nem sempre se compreende que diferentes sociedades podem ter organizações sociais e políticas que os distinguem. O mundo atual parece ter considerado que os tipos de democracias decorrentes das revoluções francesa e norte-americana apresentam melhores possibilidades de conciliar a eficiência econômica com as naturais aspirações de liberdade dos seres humanos, ainda que não sejam perfeitas.

Com a aceleração do processo de globalização, parece que existe uma tendência para uma evolução dos sistemas políticos em direção a estes que são considerados mais aceitáveis no mundo atual. Mesmo na Ásia, observa-se que países como a Índia, o Japão e a Coreia caminharam neste sentido, como outros países do sudeste asiático parecem evoluir na mesma direção.

A China vem adotando mudanças e ninguém pode dizer que o regime que vigorava durante Mao Zedong, principalmente durante a Revolução Cultural, seja a mesma dos dias atuais, notadamente no seu aspecto econômico. Mas continua com um regime de partido único, considerado autoritário, com suas forças de segurança fortemente controlada pelo Partido Comunista Chinês. Há uma grande possibilidade das novas classes de abastados e o grande contingente da classe média aspirar por maiores liberdades políticas. Suas autoridades acompanham com atenção os acontecimentos no mundo árabe, e mesmo a repressão aos dissidentes não permite o completo controle dos meios eletrônicos de comunicação, principalmente pela internet.

A grande dúvida é se regimes como da Arábia Saudita, onde o rei continua contando com prestígio popular poderá se sustentar, com as medidas de atendimento popular que vem adotando. Como consta de um relatório especial elaborado pela Reuters, o complexo sistema de manutenção dos seus milhares de príncipes e princesas, além de ser custoso, acaba gerando muitas insatisfações. Dada a sua importância no abastecimento mundial de petróleo, muitos começam a considerar alternativas para depender menos dos seus fornecimentos, por via das dúvidas.

Estes complexos processos políticos, sociais e econômicos todos sabem como começam, mas ninguém sabe exatamente como acabam. Parece que estamos vivendo um momento de inflexão na história da humanidade.