Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Autocrítica dos Economistas até dos que Respeitam a História

2 de julho de 2012
Por: Paulo Yokota | Seção: Cultura, Economia, Editoriais, Notícias, webtown | Tags: , , ,

J. Bradford DeLong é um conhecido e polêmico professor de economia da Universidade da Califórnia em Berkeley e ocupa diversas posições, como no consagrado National Bureau for Economic Research, que publica os principais trabalhos acadêmicos na área da economia. Ele divulgou, através do Project Syndicate, um artigo com o título “The Perils of Prophecy” ,que deve ser de leitura obrigatória para todos os economistas e outros profissionais travestidos nesta especialidade, mas também deve ser de interesse geral, pois todos acabam afetados pelas análises econômicas. O artigo pode ser encontrado na sua íntegra, em inglês, no http://www.project-syndicate.org/print/the-perils-of-prophecy, mas sua compreensão exige um bom conhecimento de economia para notar algumas das nuances colocadas por ele.

Vou tentar dar a minha interpretação dos principais assuntos por ele discutidos. Segundo ele, os economistas que conhecem a história econômica e financeira, como regra, conscientes das lições da evolução do pensamento econômico sobre as crises financeiras e seus efeitos, têm motivos para se orgulhar das análises efetuadas por eles nos últimos cinco anos. Eles entenderam para aonde a economia caminhava e caminha, porque sabiam o que tinha acontecido no passado. Em particular, entenderam que os preços dos imóveis, alimentado pelo aumento dos recursos do sistema financeiro, ampliaram os riscos macroeconômicos. Grandes bolhas alimentadas pelas instituições financeiras exageradamente alavancadas geram pânicos quando ocorre a fuga para a segurança, e a prevenção e correções das profundas depressões econômicas requerem mais que intervenções oficiais das autoridades monetárias como emprestadores de última instância.

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J. Bradford DeLong, da Universidade de Califórnia, Berkeley

Muitos dos economistas que incorporaram os conhecimentos da história entendem que as medidas monetárias não são suficientes para resolver os atuais problemas. Os créditos soberanos necessitam, muitas vezes, garantir os demais concedidos pelo sistema financeiro, pois as eliminações dos créditos insolventes apresentam grandes riscos sistêmicos. Eles sabem que a prematura atenção para atingir o equilíbrio fiscal de longo prazo podem dificultar as crises de curto prazo. A recuperação econômica sem a do emprego é um problema cíclico e não estrutural.

Segundo o autor, sobre todos estes assuntos, os que disseram que não haveria uma longa depressão na economia, que a recuperação seria rápida, que o problema fundamental seria estrutural, que suportar a economia geraria inflação, e que a austeridade fiscal imediata seria expansionista estavam todos completamente errados. E muitos que incorporaram conhecimentos históricos já sabiam que eles estavam errados.

J. Bradford DeLong não se furta de indicar quem são eles, pois é um crítico agudo e polêmico. Ele aponta os que trabalharam na tradição de Walter Begehot, Hyman Minsky e Charles Kindleberger. Os analistas que acreditaram em Paul Krugman, Paul Romer, Gary Gorton, Carmen Reinhart, Ken Rogoff, Raghuram Rajan, Larry Summers, Barry Eichengreen, Olivier Blanchard e seus pares são incluídos, todos eles conhecidos e respeitados economistas, profundos conhecedores da teoria, que costuma ser elaborada da experiência passada. Ele entende que muitos deles propuseram a distribuição dos frutos futuros.

Ele se considera entre os que achavam que as análises dos últimos quatro anos estavam erradas. Ele considerava e ainda considera que três aspectos foram surpreendentes nestes fenômenos. O primeiro foi a falha dos bancos centrais na adoção da regra como a meta do PIB – Produto Interno Bruto ou seu equivalente. O segundo, ele esperou que a inflação de salários no Atlântico Norte cairia até a zero, até mais que ocorreu de fato. Ele esperava que a curva de juros inclinasse para cima ao longo do tempo, o que não aconteceu ou aconteceu menos que esperava.

Ele não compreende ainda por que os bancos centrais objetivam só crescimento do PIB e ele não escreveu e escreverá à respeito até entender as razões para tanto. Sobre os salários, mesmo que um terço da força de trabalho tenha mudado de emprego nos Estados Unidos, fatores sociológicos e relacionamentos humanos aparentam ter influenciado fortemente esta taxa de mudanças, prejudicando o equilíbrio da oferta e da procura, como ele esperava.

A terceira surpresa pode ser mais interessante, segundo ele. Em março de 2009, Robert Lucas, um prêmio Nobel, previu que a economia norte-americana retornaria ao normal em três anos. Segundo J.Bradford DeLong, os juros dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos de prazos variados estão indicando que a economia não volta a crescer em menos de 8,75 anos.

Segundo o autor, as conclusões possíveis são gritantes. Uma possibilidade é que aqueles que investem nos mercados financeiros esperam que a política econômica encontra-se tão disfuncional que a economia mundial vai permanecer mais ou menos no estado atual por décadas. A outra explicação é que três anos depois da crise financeira ter eclodido, a capacidade dos mercados para precificar riscos parece prejudicada de tal forma de forma que seja incapaz de canalizar as poupanças para empreendimentos empresariais.

Ele confessa que nenhuma das hipóteses atuais era algo que ele próprio poderia ter previsto ou imaginado, numa leve autocrítica. O que se poderia ousar acrescentar é que a crise de confiança ainda domina a economia norte-americana e mundial. Isto mantém um volume impressionante de recursos financeiros que foram elevados pelas autoridades monetárias na esperança de ativação da economia, bem como conquista dos mercados externos com câmbios desvalorizados, sem que sejam aplicados em novos empreendimentos produtivos e criadores de emprego e renda.

Como todos estes fenômenos se propagam de forma diferenciada pelas diversas economias, inclusive com defasagens no tempo no atual mundo globalizado, continua ocorrendo efeitos que voltam a provocar fenômenos deletérios nos países de onde se originaram as dificuldades.

De qualquer forma, parece que os conhecimentos ficaram demasiadamente fragmentados, com exageradas influências do setor financeiro com operações de arbitragens internacionais de grandes velocidades. E parecem demonstrar que os fenômenos econômicos carecem de análises mais multidisciplinares e universais, onde a história pode englobar muitas delas.

Provam, também, que os acadêmicos de economia ainda carecem da compreensão das limitações políticas a que estão sujeitos os que estão em posição de decidirem sobre as diretrizes econômicas operacionais. O mundo é mais complexo que todos gostariam.

Agradeço as observações que foram feitas pela economista Patrícia Stefani sobre este texto, mas todos os seus erros são de inteira responsabilidade minha.