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Reportagem Especial Crítica do The Economist Sobre o Brasil

27 de setembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias, Política, webtown | Tags: , , , , , , ,

Poucas vezes se viu uma série de reportagens tão críticas como a que está sendo publicada no próximo fim de semana na revista internacional The Economist sobre o Brasil. A revista tinha publicado um número em novembro de 2009 avaliando que o país seria um país promissor como um dos emergentes, mas, depois das manifestações públicas de junho deste ano, parece ter concluído que era um voo de galinha. A frustração parece ter inspirado esta série de reportagens especiais, preocupando-se com o que pode acontecer na Copa do Mundo de 2014 como nas Olimpíadas de 2016. A capa é sugestiva, com o Cristo Redentor na forma de um foguete, que decolava na edição de 2009 e agora, depois de algumas piruetas, indica que vai se chocar no solo.

Mesmo que os resultados econômicos razoáveis sejam citados, o conjunto mostra de forma crua as dificuldades e mazelas do país. Atribui o crescimento à melhoria do mercado internacional e registra que muitos ascenderam à classe média. Mas a figura da Berlinda, que seria a combinação da Bélgica e da Índia, volta à tona, informando que continua sendo um dos países mais desiguais do mundo. Menos da metade dos alunos deixam as escolas alfabetizadas, mas atribui parte à redistribuição de renda provocada pelo governo mediante transferências. Os transportes públicos continuam precários, os aeroportos lamentáveis, crianças nas escolas se revezam até em três turnos, dois quintos dos brasileiros não contam com assistência adequada à saúde, os políticos brasileiros entendem que os protestos são naturais, o bônus demográfico está desaparecendo. Mas admitem que a agrobusiness melhorou, não se aceitam os políticos corruptos, mas o país necessita de reformas importantes.

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Os jornalistas que cobriram o Brasil se impressionaram como os preços são elevados neste país numa ampla gama de produtos e serviços. Os tributos são elevados e complexos, a carga sobrecarrega a folha de pagamentos, e comparam com outros países emergentes como o México.

Os consumidores brasileiros não se preocupam com os preços, mas com as parcelas das prestações. Gastam muito no exterior, chegando a US$ 22 bilhões no ano passado. Estes problemas não são recentes, mas vieram se acumulando ao longo do tempo. O consumo das famílias que puxaram a economia estabilizou-se.

Todos entendem que o Brasil, a longo prazo, necessita elevar a sua produtividade. Nas duas últimas décadas, a produtividade total dos fatores que melhorou em outros países caiu no país. A agricultura brasileira é a exceção. A EMBRAPA é considerada como um fator que melhorou a exploração dos cerrados, citando o caso concreto do agricultor Walter Horita.

Mas existem muitos obstáculos para a maioria dos agricultores, como as titulações de suas terras, as dificuldades conservacionistas, o custo da energia e de transporte dos seus produtos. O Brasil se beneficiou do boom das commodities nas últimas décadas.

Na indústria, a revista entende que as proteções foram exageradas numa época, deixando os empresários mimados. O desafio atual é a melhoria da sua produtividade, com os incentivos adequados.

A infraestrutura, principalmente de transportes, é considerada um inferno, dificultando o escoamento de sua safra, dispondo-se de poucos silos. Os investimentos feitos neste setor são mínimos. Os portos estão obsoletos e procura-se privatizar parte com licitações que não caminham adequadamente, sofrendo a contrariedade dos estivadores.

Os resultados dos programas como o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento foram considerados decepcionantes. Diante dos eventos como a Copa do Mundo, existem preocupações com os aeroportos. Os riscos regulatórios das licitações são citados.

Os investimentos feitos nos estádios como Manaus, Cuiabá e Natal são considerados absurdos, por não contarem regularmente com espectadores. Isto está sendo indicado como um dos fatores da indignação da população com o futebol que adoram.

Imaginam que nas Olimpíadas de 2016 os problemas se repetirão, pois Rio de Janeiro não conta com transporte público para tantos turistas, nacionais e estrangeiros.

O artigo sobre pensões e a educação recebeu o título de Terra do sol poente. Com o envelhecimento da população, não se conta com um sistema adequado para a sua assistência. Apesar de um país de jovens, comparam com o que está acontecendo na Europa. O bônus demográfico desapareceu.

O conceito de que são direitos, mas dever do Estado é mencionado, mostrando que os brasileiros não entenderam que o governo só transfere para uns, o que arrecada dos outros. Não cria nada. Os gastos públicos crescentes são mencionados, vindo de diversas administrações passadas, criando-se novos benefícios.

As pretensões de corte das despesas acabam sendo dificultadas pelos funcionários públicos e pelos políticos. A tendência para o futuro não se mostra promissor, comparando com o que acontece em países europeus.

A revista afirma que os gastos em educação não são bem utilizados. Os estudantes de escolas privadas encontram mais chances de serem admitidos nas universidades boas. Bons professores são prematuramente aposentados, passando a trabalhar no setor privado. Mesmo com o planejamento de elevação dos gastos da educação não se pode esperar melhoras sem grandes reformas.

A revista admite que houve uma melhora do consumo de produtos como os destinados às mulheres, com demandas de uma nova classe média, principalmente voltada à beleza. Muitas redes foram ampliadas para vestuários. Muitas matérias-primas locais estão sendo utilizadas.

Reformas substanciais são consideradas necessárias. Muitos políticos são acusados de corrupção. Pessoas populares, como o Tiririca, acabam sendo eleitos. Condenados continuam no exercício de suas posições obtidas nas eleições. Existem tentativas de melhora como a Ficha Limpa, mas ainda sem eficácia. Algumas administrações locais são consideradas exemplares.

Brasília é considerada distante das necessidades dos brasileiros. Os empresários e investidores reclamam dos funcionários públicos. Dilma Rousseff tentou responder aos reclamos das ruas, mas as reformas propostas não parecem contar com muito futuro, tendo resistências dentro mesmo da bancada situacionista.

O Brasil não parece ter conseguido um sistema para seleção dos seus melhores representantes. O seu sistema eleitoral ainda é ineficiente. Mesmo com elevação das tributações que vieram ocorrendo, sobrecarregando os contribuintes e as empresas, não se consegue a eficiência do setor público.

Quando a economia vai bem, a arrecadação fiscal melhora. Mas o Brasil parece ter esgotado as formas fáceis de crescer. Muitos brasileiros, segundo a revista, acreditam que com o corte das regalias dos políticos haveria recursos para cobrir suas necessidades importantes, mas somente reformas radicais poderiam produzir as economias indispensáveis.

Os políticos nem se dispõem a tentar, pois, com a proximidade das eleições, eles acham que precisam elevar os dispêndios públicos. Mesmo os protestos populares não são capazes de mover para as reformas. As novas classes médias vão vocalizar suas demandas, mas não se conseguem visualizar como elas serão atendidas.

Este site procurará mencionar os tipos de reformas que se tornam necessários, com um mínimo de chances de serem aprovados, em seus próximos artigos.