Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

A Recuperação dos Estados Unidos é um Lanche Grátis?

31 de dezembro de 2013
Por: Paulo Yokota | Seção: Economia, Editoriais, Notícias | Tags: , , , , | 4 Comentários »

Não se conhece ninguém que fique triste com a recuperação da economia norte-americana que continua liderando a mundial e a sua melhoria beneficia a todos. Então existiria o lanche grátis, e ninguém teria que arcar com os seus custos? Se os adultos não acreditam mais em Papai Noel, como ensinou Joan Robinson, alguém está arcando com os substanciais custos das astronômicas assistências dadas aos bancos que foram os responsáveis pela crise mundial de 2007/2008. Com a ameaça de uma crise sistêmica que poderia igualar-se a crise de 1929, as autoridades proporcionaram as volumosas assistências aos bancos para poderem absorver os grandes prejuízos que tiveram com os créditos imobiliários irresponsáveis, acabando até por premiar muitos dos seus dirigentes.

Para estimular a recuperação da economia norte-americana, o FED – Banco Central dos Estados Unidos veio injetando US$ 85 bilhões mensais, que agora começaram a reduzir para US$ 75 bilhões mensais. Seria uma mágica tão simples não havendo ninguém prejudicado? Evidentemente a política chamada de easing moneraty policy provocou a desvalorização do dólar norte-americano desencadeando uma guerra cambial, com outras acompanhando estas desvalorizações, na medida em que suas moedas eram aceitas no mercado internacional. Foi o que aconteceu com os ingleses e mais recentemente com os japoneses, para se manterem competitivos no mercado internacional, promovendo também suas exportações. Quem não tinha como desvalorizar suas moedas na mesma proporção, como o Brasil, sofreram quedas de suas exportações e empregos de qualidade, enquanto seus gastos em moedas fortes foram aumentando. Além de tomar medidas para os controles dos fluxos financeiros mundiais.

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Sede do FED e mapa dos Estados Unidos

Evidentemente, muitos desfavorecidos norte-americanos também arcaram com o desemprego, tendo que viver da ajuda do governo para sobreviverem. Somente poucos do setor financeiro acabaram gozando dos privilégios que foram concedidos para os bancos, que não satisfeitos com todos estes benefícios ainda manipularam as taxas de juros como o Libor – London Interbank Rate como as taxas de câmbio nos fechamentos cambiais naquele mercado, como comprovado por muitas investigações. Acredita-se que alguns serão punidos por estas manipulações que afetam fluxos de trilhões de dólares diários, mas serão poucos.

Os bancos estão pagando multas de dezenas de bilhões de dólares, mas não se divulgam os lucros que obtiveram com estas e outras operações que foram certamente muitas vezes maiores. Eles continuam não aceitando regulamentações razoáveis sobre estes fluxos, ainda que organizações como o BIS – o Banco Central dos Bancos Centrais, e o BCE – Banco Central Europeu procurem adotá-las.

Uma parte da recuperação da economia norte-americana deve-se também às novas explorações do xisto, com a produção de petróleo e gás baratos, que os está levando a contar com a sonhada independência energética do país, com baixos custos. Ainda que aleguem que estão reduzindo as utilizações de combustíveis mais poluentes como o carvão mineral, todos sabem que a utilização de combustíveis fosseis continuam provocando o aquecimento global, elevando as irregularidades climáticas. Além da exploração do xisto estar provocando a contaminação das águas subterrâneas, afetando também os vizinhos destas explorações, que são os próprios norte-americanos.

As irregularidades climáticas atingem mais duramente os pobres de todo o mundo, aqueles que moram nas zonas mais baixas atingidas pelas inundações, sendo uma parte nos próprios Estados Unidos, mas mais duramente em países como as Filipinas. Ainda que não exista uma evidência científica ligando estes fenômenos, os que estão sendo afetados sentem a incapacidade das autoridades de muitos países decidirem sobre metas de lançamento como o CO2, com substanciais resistências dos principais países poluidores como os Estados Unidos e a China.

O ano de 2013 foi profícuo em manifestações populares contra muitas mazelas, mas ainda não foram capazes de atingir o fulcro dos grandes problemas mundiais. Mas cada vez maior número de habitantes deste mundo globalizado está ficando consciente que medidas importantes e duras precisam ser tomadas. O que se espera é que 2014 não seja somente de eventos esportivos e algumas eleições importantes, como destaca The Economist no seu número para o próximo ano, mas de alguns avanços substanciais nos grandes problemas que nos afetam a todos.