Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Desenvolvimento Tecnológico

2 de janeiro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Empresas | Tags: , , , , , , , , | 3 Comentários »

Para que ocorram intercâmbios eficientes entre empresas sul-americanas e asiáticas é preciso compreender como as tecnologias se desenvolvem em ambas as regiões. Elas costumam ocorrer de formas diferentes, e podem explicar parte dos comportamentos dos empresários de cada lado.

Vamos aproveitar o exemplo de numa visita de empresários do setor têxtil brasileiro a uma unidade fabril considerada a mais avançada do Japão, já há algum tempo. Como na maioria das empresas japonesas, o seu desenvolvimento tecnológico veio ocorrendo pelo acúmulo de muitas contribuições de todos os seus funcionários. Foi um trabalho coletivo interno, sem nenhum destaque individual. Pouca contribuição veio de fora, de indústrias similares de outros países, que os funcionários japoneses pouco conheciam.

Esta indústria conseguia um produto da mais alta qualidade, apesar de usar matérias-primas que os brasileiros não consideravam as melhores. Os visitantes verificaram que muitos equipamentos utilizados pelos japoneses tinham similares mais avançados na Suíça ou na Alemanha. O segredo dos nipônicos estava na manutenção do conjunto da planta industrial e no ponto de ajustamento dos equipamentos, conhecimentos acumulados por muitas equipes internas desta empresa ao longo do tempo, e transmitidas oralmente através de gerações entre seus funcionários.

Os sul-americanos que visitam outras empresas no exterior acabam conhecendo os melhores equipamentos, mas se baseiam apenas nos manuais de seu uso para as operações industriais, os quais nem sempre fornecem todas as “dicas” para que os produtos resultantes sejam os melhores. Muitos sul-americanos confundem a compra do equipamento com a do “know how”, evitando pagamento dos “royalties” sobre ele. Raramente os japoneses possuem manuais das operações dos equipamentos, pois estes conhecimentos são transmitidos oralmente entre as equipes internas de uma empresa, fato que é mais acentuado entre os pequenos empreendimentos.

As nossas avós faziam pratos inigualáveis, no “olhômetro”, sem o uso de receitas, conhecendo o “ponto” em que ocorre a combinação adequada dos produtos utilizados nos seus cozimentos. Enquanto isto, nós, com os melhores ingredientes, equipamentos avançados, receitas de consagrados “chefs”, temperaturas e tempos de cozimento, mal conseguimos chegar a um sabor e gosto aproximados. Algo semelhante acontece, muitas vezes, nas empresas sul-americanas.

Estas diferenças interferem no intercâmbio, pois os japoneses, mesmo não entendendo adequadamente os sul-americanos, evitam utilizar consultores externos, tendendo a preferir os seus próprios funcionários, que enfrentam muitas dificuldades na compreensão do que ocorre por aqui. Mais recentemente, muitas empresas nipônicas passaram a vincular suas atividades na América do Sul às suas unidades sediadas nos Estados Unidos. Isto ajuda bastante, já que os setores americanos tendem a possuir melhores conhecimentos entre o que se faz no Ocidente, e as diferenças do que se faz no Oriente. No entanto, a própria América do Sul, com suas características peculiares, apresenta grandes diferenças dentro do mundo ocidental.

Quando observei empresas japonesas atuando na França, na Alemanha ou nos Estados Unidos, constatei que elas apresentam maiores adaptações à cultura local, pela qual sempre nutrem grande respeito. No mundo emergente isto ainda ocorre de forma limitada. Evidentemente, o sucesso comercial só se realiza se as negociações forem feitas no idioma local, pois, mesmo no Japão, as “dicas” mais importantes acabam sendo dadas fora dos ambientes formais, em reuniões mais descontraídas, evidentemente em japonês. Algo semelhante ocorre entre os coreanos e os chineses.

O desenvolvimento tecnológico costuma ocorrer num ambiente que apresenta uma perspectiva de longo prazo onde as regras são garantidas pelo governo. Ninguém investe no que pode ser obtido de graça, comentava um importante empresário japonês. Eles pagaram caro para absorver a tecnologia desenvolvida no Ocidente. Na Ásia, ele tende a ser uma criação coletiva, enquanto no Ocidente, a iniciativa individual é extremamente valorizada.

A intensa miscigenação que ocorre na América do Sul, nos mais variados aspectos, favorece a criatividade, como tem se verificado nas artes. Mas tudo isto ocorre num cenário de intensas mudanças, a que as empresas japonesas demoram a se habituar, apesar de suas experiências recentes em muitos países emergentes.

Há muito espaço para arranjos interessantes entre as empresas sul-americanas e asiáticas, se cuidados forem tomados para todas as diferenças existentes. São exatamente as diferenças que possibilitam combinações interessantes. Entre os pequenos negócios, as oportunidades são muitas, porém eles exigem maior adaptação para as condições locais, podendo apresentar melhores resultados, mesmo que envolvam mais riscos.

Estas considerações são feitas, principalmente, com as experiências entre japoneses e brasileiros, que têm sido mais intensas. Ainda que apresentem algumas semelhanças com outros asiáticos, como chineses e coreanos, é preciso constatar que as diferenças são substanciais. Os coreanos costumam ser mais pragmáticos, mais rápidos em suas decisões, e os chineses conscientes de sua longa tradição comercial, desde a antiguidade.

No que se refere aos chineses, muitos no Ocidente possuem somente idéias superficiais de sua longa história, imaginando até que são ainda um país predominantemente comunista. O domínio de Mao e seus seguidores foram por um período muito curto, de poucas décadas, quando, na realidade, suas habilidades de comércio internacional foram desenvolvidas através de milênios, desde a época da Rota da Seda, que ligava a Ásia ao Oriente Médio. O espírito que podemos chamar de capitalista, que é movido pelo lucro ou vantagem de qualquer natureza, está profundamente arraigado na cultura chinesa. As empresas chinesas costumam estimular as competições entre as equipes de operários, proporcionando pequenas vantagens para as mais eficientes.

De forma similar, entre os latino-americanos existem igualmente acentuadas diferenças, não só pelas dimensões de suas economias como também pelo nível de seu relacionamento com o exterior.


3 Comentários para “Desenvolvimento Tecnológico”

  1. Bianca
    1  escreveu às 18:36 em 12 de junho de 2012:

    Qual é os países mais destacados na Ásia pelo desenvolvimento tecnológico?

  2. Nerd
    2  escreveu às 14:33 em 17 de setembro de 2012:

    Os países asiáticos com maior tecnologia de ponta é o Japão,China,Coreia do Sul, Índia e Israel.

  3. Paulo Yokota
    3  escreveu às 15:20 em 17 de setembro de 2012:

    Caro Nerd,

    É muito difícil fazer a afirmação que V. fez. Cada país conta com alguns setores em que possuem tecnologia de ponta, mas os que possuem grandes dimensões populacionais contam com um mercado interno que pode os sustentar quando de crises como as atuais. Os pequenos necessitam contar com maior dependência do mercado internacional. As tecnologias diferem por setores.

    Paulo Yokota


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