Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Hanami (Cerejeiras em Flôr) ou Butoh

8 de janeiro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Livros e Filmes | Tags: , , , , , | 3 Comentários »

Um dos filmes mais impressionantes que vi recentemente, envolvendo a interpretação do espírito oriental pela perspectiva ocidental, foi esta magnífica obra da diretora alemã Doris Dörrie. Imperdível. Vendo as críticas favoráveis na imprensa, ainda acho que existem muito mais coisas que não chegaram a ser compreendidas pelos seus autores. Os seus três principais atores, Elmar Wepper, Hannelore Elsner e Aya Irizuki superam as mais altas expectativas e o roteiro surpreende a todos, mantendo a platéia presa nos dramas que se desenvolvem.

Entre os ocidentais, os que mais se aproximam dos orientais na forma de pensar, são os alemães. É por isso que o código civil japonês, que começou sob inspiração francesa, acabou sendo influenciado fortemente pelo alemão, assim como a medicina daquele país. Muitas coisas são universais, como a dificuldade de comunicação entre as pessoas.
O relevante não é só o “hanami”, um evento no início da primavera, quando todos vão admirar a florada das cerejeiras, embebedando-se e os liberando para dizerem suas verdades. A flor do “sakura” é tão efêmera como nossas vidas, e o cair de suas pétalas sempre tocou a alma do japonês.

O espírito do “butoh” que foi apresentado para o Brasil pelo seu inspirador mais importante, Kazuo Ono, é explicado adequadamente pela atriz Aya Irizuki. A pantomima asiática encontrada na Ópera de Peking, no Noh e principalmente no Kabuki, vai se desenvolver de forma mais intimista no Butoh. As pinturas exageradas nos rostos, como também as pantomimas da coreografia falando de vida, morte e transitoriedade, nem sempre são compreendidas por todos.

A Alemanha atual, assim como o Japão, é apresentado como pano de fundo do filme, com suas dificuldades de comunicação entre as pessoas, e outras mazelas da agitada vida moderna. Os desajustados sem-tetos que moram em tendas nos jardins públicos de Tóquio são apresentados cruamente, chocando os que conhecem a terra do Sol Nascente apenas pelos cartões postais.

Contemplar o Monte Fuji, poucas vezes visível por causa da névoa, era o sonho não realizado da personagem Trudi. Apesar de se considerar uma “caipira” da Bavária, ela mostra uma refinada sensibilidade para as artes japonesas, cultuando a coreografia butoh, e xilogravuras Ukiyo-ê como as 35 vistas do Monte Fuji, de Hokusai. Incompreendida nos seus anseios, ela aspira se expressar através do butoh, e se emociona quando assiste a uma apresentação, de difícil compreensão para a maioria. O personagem Rudi, seu marido, só vai se dar conta dos anseios da mulher quando visita o Japão e vive pessoalmente a experiência, enquanto seus filhos continuam sem compreender, mergulhados que estão nas urgências cotidianas.


3 Comentários para “Hanami (Cerejeiras em Flôr) ou Butoh”

  1. Naomi Doy
    1  escreveu às 18:43 em 14 de janeiro de 2010:

    A proposito deste belo filme: Ms.Dörrie parte de uma ótica mais ocidental, "explícita". Diretores japoneses, ao tratar de temas semelhantes, já partiriam de uma ótica muito intimista, contida, reservada: num olhar, num gesto, na postura, nos silêncios. Remember Yasujiro Ozu, "Tokyo Monogatari".
    Ms.Dörrie já se utiliza de metáforas explícitas, aliás belíssimas. Até seria divertido para o espectador tentar captar, num jogo lúdico, todas as metáforas contidas no filme.
    Vale lembrar que qq. criança japonesa cresce ouvindo lendas e canções infantís (doyohs) que falam como a visão plena e clara do Mt. Fuji é fugaz, ele vive escondido, envergonhado, na névoa.
    E tb. as xilogravuras como as 35 vistas do Fuji, de Hokusai, são chamadas "ukiyo-ê", isto é, "desenhos do mundo transitório".

    Pronto, duas pistas já foram dadas. Há pelo menos mais 3 ou 4 metáforas falando de fugacidade, efemeridade, transitoriedade…

  2. Karen Miyazaki
    2  escreveu às 15:13 em 22 de julho de 2010:

    Adoro cinema. Assisto a pelo menos um filme por semana e, quando não posso fazê-lo, falta-me algo.

    Assisti ao filme Hanami – Cerejeiras em flor numa mostra japonesa, num centro cultural de sp. E, fiquei emocionadíssima com os dramas desenvolvidos neste filme.

    De uma coisa que achava sem graça, o butoh – graças a este filme – tornou-se um assunto de meu interesse hoje.

    Quiçá invistam mais em filmes como este!

  3. Paulo Yokota
    3  escreveu às 03:07 em 23 de julho de 2010:

    Cara Karen Miyazaki,

    Obrigado pelo comentário. Acredito que muitos sentiram o mesmo. Esta visão alemã sobre o assunto foi muito feliz e esperamos tambem que outras da mesma linha sejam produzidos.

    Paulo Yokota


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