Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Importantes Mudanças no Mundo

2 de janeiro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: , , , , , , ,

A recente crise econômica mundial está determinando uma nova postura governamental em todos os países. Mesmo nos Estados Unidos, que possuía uma tradicional política econômica liberal, obrigou-se o governo a proteger bancos e empresas particulares de grande porte, para não aprofundar a sua crise, cujos efeitos se espalharam pelo mundo.

Nos países que aumentaram a sua importância econômica, como os emergentes China, Índia, Rússia e o Brasil, o papel do governo indutor ganha importância estratégica para o desenvolvimento do seu mercado interno, pois o comércio internacional sofreu grande revés. E a melhoria do padrão de vida de suas populações acaba sendo importante para minimizar os efeitos da recessão mundial. O desenvolvimento dos países está ligado à sua história. Os que estão chegando agora precisam adotar parte do que os desenvolvidos fizeram, quando as regras do comércio internacional eram menos controladas.

O mais afetado pela atual crise foi o setor financeiro, onde os recursos disponíveis sofreram terríveis paralisações. Mesmo os sistemas bancários que se encontravam em razoável situação como o brasileiro, ficaram imobilizados, pela quebra da confiança. E isto inibiu todas as demais atividades econômicas. Haverá, na América do Sul, um processo de estatização que se espera temporário, mas que será difícil de ser revertido no médio prazo. O risco é que as novas atividades produtivas de porte sejam estatais, pois o setor privado nem sempre conta com condições para mobilizar volumosos recursos para novos projetos. As novas tecnologias exigidas na conservação do meio ambiente, a exploração do petróleo e gás do chamado pré-sal, ou do melhor aproveitamento de todo o potencial da banda larga nas comunicações, requerem investimentos pesados.

Os países desenvolvidos, que esperam formar parcerias com os emergentes, necessitam estabelecer novas posturas nos projetos cogitados. Os países que desejam participar do novo sistema de transporte rápido de trens no Brasil constatam que tais projetos não apresentam viabilidade econômica se não contarem com apreciáveis participações de recursos públicos. Os consórcios privados precisam contar com o suporte dos seus governos, ainda que esta tendência tenha sido alterada no passado, como no Japão.

Não se trata de um debate ideológico, mas de um pragmatismo necessário para que os atendimentos da população não sejam prejudicados. Até porque astronômicos recursos públicos estão sendo mobilizados para a manutenção do nível de atividade econômica e do emprego, em todos os países, numa política anticíclica, que pode se transformar no de desenvolvimento. Existe uma impressão generalizada que os abusos do setor privado foram gigantescos, com dirigentes ganhando muito, enquanto as empresas, seus acionistas e empregados foram prejudicados por decisões especulativas. Os mecanismos de controle social não funcionaram de forma adequada, como no caso dos auditores e empresas de “rating” dos riscos. As bolsas passaram por exuberâncias, com especuladores alimentando “cassinos”, explorando as desmesuradas ambições de investidores.

O uso dos recursos públicos exige redobradas fiscalizações, pois a capacidade de seu desvio é imensa. Há necessidade de novos sistemas de “accountability”, ou seja, de controle dos eleitos pelos representados, exigindo reformas políticas sérias, sempre difíceis de serem aprovadas. O mundo já enfrentou outras crises, e também esta será superada, com lições que se renovam, num processo que se chama desenvolvimento. Mas elas são incapazes de evitar todas as outras que virão no futuro, pois a criatividade dos operadores é grande. A alternativa utilizada no Brasil parece guardar melhores condições para a superação rápida de suas dificuldades. Conta com recursos naturais para a produção de energia e alimentos, mão de obra com elevada criatividade e flexibilidade, um sistema político aberto, sem grandes restrições religiosas e étnicas, um relacionamento internacional diversificado.

Para que os empresários asiáticos consigam aproveitar as oportunidades que estão se apresentando, precisam voltar a coordenar suas ações com seus governos, como ocorria no período em que ficou conhecido como “Japan Incorporation”. Pois é isto que está acontecendo no mundo pós-crise de 2008, no mínimo no relacionamento com os países emergentes.



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