Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Janelas para o Mundo

2 de janeiro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Notícias | Tags: , , , , , , , , | 4 Comentários »

Entre as muitas inovações de 2009 na imprensa brasileira, ressaltamos duas: o suplemento semanal da Folha de São Paulo com algumas traduções de artigos publicados no The New York Times, que já eram acessíveis pela Internet em inglês; e o JP On Line da rádio Jovem Pan, que começa a generalizar a chamada multimídia, envolvendo a Internet, utilizando imagens gravadas em vídeos, como se fora uma TV.

No suplemento da Folha, no artigo de Edward Wong “China exporta trabalhadores, alvo de rejeição”, destaca-se os problemas que estão ocorrendo no Vietnã com os trabalhadores chineses. Este fenômeno já vem acontecendo em diversas partes do mundo, como no Japão, onde trabalhadores legais e ilegais chineses competem com outros asiáticos e sul-americanos legais, em grande número. Chegam como turistas, estudantes ou estagiários legalmente, mas permanecem depois de espirar os prazos que lhes são concedidos, aceitando condições penosas de trabalho.

Os que viajam pela África constatam que os aviões que cruzam aquele continente estão todos repletos de chineses. Há uma verdadeira invasão, pois a China está executando e financiando obras de toda a natureza, pelos países que possuem recursos naturais variados. Desde petróleo, minerais como terras cultiváveis. Para tanto, trazem os seus próprios assalariados que aceitam trabalhar em condições duras, mais que os locais.

Este é um processo similar ao que já ocorreu entre outros países como Cuba em Angola. Atualmente, existe uma aversão aos cubanos naquele país africano, pois os cubanos não mais possuem condições para dar continuidade a estas cooperações, coisa que os chineses terão por muito tempo. Mas, sempre existe um potencial de conflito com os interesses locais, tanto autoridades, empresários como de trabalhadores.

A América do Sul precisa se preocupar com estes problemas. Mesmo com o interesse comercial de colocar produtos no grande mercado internacional chinês, deve-se lembrar que propuseram cooperar com a implantação de uma grande usina siderúrgica, trazendo operários daquele país, condição inaceitável para nós. Agora, se oferecem para implantar o custoso projeto de trem rápido, sem financiamentos locais, pois contam com recursos para tanto. Ou explorar agricolamente grandes áreas, para abastecer a própria China que sempre foi importadora de produtos agropecuários desta parte do mundo. Já estão financiando, com somas astronômicas, as atividades petrolíferas deste continente.

Ao mesmo tempo impressiona o volume de investimentos que estão sendo realizados naquele país. Além de 16.000 km de trem rápido até 2012, estão lançando dez novas usinas nucleares por ano, visando reduzir a poluição que estão provocando. De outro lado aumentam os riscos do uso de energia nuclear e seus resíduos, como informa Keith Bradsher em seu artigo “China dispara na construção de reatores”.

De outro lado, Martin Fackler no seu “’Salva-vidas’ chama atenção a casos de suicídio no Japão”, informa sobre os esforços para reduzir este problema, que é sério num país desenvolvido, na medida que muitos se aposentam. Sabe-se que os frequentes suicídios coletivos entre jovens japoneses, combinados pela Internet é um fenômeno assustador. Dispondo de condições materiais, ficam sem desafios para a melhoria das condições de vida, recorrendo a estas atitudes extremas. Não se trata somente de conquistar o desenvolvimento material, mas se realizarem como seres humanos.

Num continente imenso como a América do Sul, ainda que os problemas internos sejam prioritários, há que se acompanhar o que acontece mundo afora, que se tornou uma aldeia global.


4 Comentários para “Janelas para o Mundo”

  1. Rafael Sugano
    1  escreveu às 10:51 em 13 de julho de 2011:

    Sr. Paulo Yokota,

    quanto ao trecho “(…)Dispondo de condições materiais, ficam sem desafios para a melhoria das condições de vida, recorrendo a estas atitudes extremas. Não se trata somente de conquistar o desenvolvimento material, mas se realizarem como seres humanos.”

    Creio que se trata de outros motivos, como a depressão, a frustração em um ambiente altamente competitivo, e a hierarquia contraditória da cultura japonesa, no qual o jovem é que deve entrar por último no ofurô, mas ao mesmo tempo numa cultura empresarial supostamente meritocrática, dentro de um contexto ainda dentro da esfera pós segunda guerra, porque os derrotados ainda pagam as indenizações.

    O macartismo é um tema um tanto restrito, o sr. poderia por favor me indicar alguma bibliografia?

  2. Paulo Yokota
    2  escreveu às 11:07 em 13 de julho de 2011:

    Caro Rafael Sugano,

    Evidentemente existem diversos fatores que levam ao suicídio, mas os coletivos não parecem tão ligados à depressão.
    Quanto ao macartismo, apesar de conhecer um pouco da política nos Estados Unidos, não sou um especialista e não saberia indicar a melhor bibliografia.

    Paulo Yokota

  3. Rafael Sugano
    3  escreveu às 08:41 em 1 de agosto de 2011:

    Sr. Paulo Yokota,

    obrigado pela resposta.

    Eu me equivoquei, na verdade acabei confundindo o termo “macartismo”.
    Julguei erroneamente que tivesse sido sobre a política do general McArthur no pós-guerra, quando na verdade o termo se refere “às criticas ao senador Joseph McCarthy em meados de 1950” (Wikipedia).

    O que eu gostaria ter perguntado foi sobre os acordos que o imperador japonês assinou logo após a rendição, e pagamentos de indenizações de guerra, além de ter de anunciar publicamente que não era a “representação da divindidade na Terra” à população japonesa, etc.

    Também não era permitido formar exércitos, e vi uma reportagem em 2010 na NHK que dizia que a partir dali, o Japão poderia construir aviões, pois pelo que entendi (ou interpretei pois me falta compreensão do nihongô), era que havia caducado um contrato de não-produção de aviões, que intui ter sido assinado ali naquele momento, entre general McArthur e imperador.

    A indicação da bibliografia que pedi que o sr. me indicasse, era sobre esse momento da história.

    Rafael Sugano

  4. Paulo Yokota
    4  escreveu às 10:50 em 1 de agosto de 2011:

    Caro Rafael Sugano,

    Tenho algumas dificuldades para recomendar bibliografia, pois não sei qual o seu nível de conhecimento sobre estes assuntos. Mas “Os Japoneses” de Célia Sakurai faz um resumo suscinto em português, Editora Contexto, 2007. Há uma boa tradução no “O Japão – Dicionário e Civilização” de Louis Frédéric, Editora Globo, 2008, que contém uma extensa biblografia em inglês e francês, que eu uso muito (desde 1996 em francês).

    Sobre a produção japonesa de material bélico, desde o estabelecimento do Sistema Interno de Auto-Defesa sempre se construiu muito, principalmente navios militares. Quando da crise do petróleo, um terço das encomendas das indústrias pesadas japoneses eram para este aparelhamento, ainda que só sejam utilizadas no exterior para missões de paz, dentro dos acordos com a ONU. Estou postando uma notícia que os motores de alguns aviões militares da Embraer vai contar com a participação japonesa, via Ishikawajima Harima.

    Paulo Yokota


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