Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

O Inglês ou a Babel

28 de janeiro de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Depoimentos | Tags: , , , | 2 Comentários »

O Professor Delfim Netto, na sua coluna desta última quarta-feira na Folha de S.Paulo, nos ensina que “a coisa mais ridícula é supor que o yuan possa, num horizonte visível, substituir o dólar”. Esfriando o alvoroço de alguns “irrequietos”.

Assim também, outros irrequietos andam afoitos para aprender mandarim, acreditando ser a língua do século. Nos meus tempos de estudante, anos 60, muitos colegas optaram por estudar russo. É a língua da hora, diziam. E zoavam dos que insistiam no inglês, francês,… “Vacilões! Reacionários! Entreguistas!”, diziam.

Pois a língua de Shakespeare (ou melhor, de Hemingway et alters), língua flexível que vai assimilando democraticamente as evoluções dos tempos e dos usos, continua dirigindo os negócios mundo afora, com o auxílio cada vez maior do espanhol castelhano. E na Europa, o francês continua sendo a língua da cultura e do turismo, por excelência. Diga-me, qual turista se comunica em russo em Paris, Bruxelas, Genebra, Viena, Florença… a não ser os russos?

O mandarim, não obstante a belíssima sonoridade da sua pronúncia e entonação, é uma língua hermética, de complexa constituição linguística. Sendo de origem sino-tibetana, sem qualquer raiz indo-européia (latim, grego, anglo, celta, eslavo, germânico), torna-se difícil para o ocidental assimilar todo o seu vasto e misterioso vocabulário, sem falar da tremenda dificuldade que seria decorar os quase 3.000 ideogramas (kanjis): monossilábicos, sozinho cada ideograma tem uma pronúncia e um significado; aglutinando-se, os ideogramas compostos formam uns 15.000 novos caracteres, com pronúncias e significados diferentes…

O japonês, derivado do chinês e do coreano, já seria até um pouquinho menos complexo, visto os japoneses terem desenvolvido grafemas calcados nos fonemas do alfabeto romano, facilitando sobremaneira o falar, ler e escrever a língua japonesa: o hiragana, para locuções, e finalizações verbais / adjetivais / adverbiais, e o katakana para a transcrição de neologismos e estrangeirismos. Assim, burajiru (Brasil), maikurosofto (Microsoft), rimohtokontororu / rimokon (remote control)…

Adotar o mandarim como segunda língua? Calma! Devagar com o andor que o santo é de barro, mas a procissão é longa: “num horizonte visível”, vai demorar a passar… Não se esquecendo tampouco que altos executivos chineses adoram exibir o inglês aprendido em Oxford, Harvard e adjacências…


2 Comentários para “O Inglês ou a Babel”

  1. Ernesto Fujiki
    1  escreveu às 12:52 em 29 de janeiro de 2010:

    Oi Naomi, parabéns pelo site; recebo todos os dias pelo e-mail, além de interessante, muito esclarecedor. Apesar de um pouco fora desse seu assunto do dia 28/01, quando se escreve da "lingua hermética…" dos orientais, comento (e pergunto) que as emissoras de TV dos países ocidentais tem nas programações, algumas horas em Ingles e até em Español, mostrando noticiários, em geral do país, até mesmos de assuntos policiais. As internacionais ficam com a CNN… Nos países nórdicos onde visitei muito, há emissora que dedica algumas horas em inglês, e assim como em outros países europeus. Que eu saiba, os canais de TV chinesa, coreana e japonesa que transmitem a cabos, não tem programação em inlgês. Uma pena. Fico muito curioso com os noticiários internos, e com as culturas desses países, do dia a dia. Tempos atrás enviei um e-mail ao monótono programa da NHK a cabos, sugerindo uma programação de alguns minutos em Inglês; me respondeu muito amavelmente que era uma emissora do Japão, e óbvio e claro que seria na lingua japonesa. Essa "lingua hermética" ajudaria também, e não seria uma gota a mais na postura fechada dos orientais?

    Em emoções, vejo minhas filhas (sanseis) totalmente abertas em relação ao hermetismo do pai nissei e a sete chaves dos avós isseis.

    Um assunto a ser refletidos pelos orientais.

    Abraços a todos aí do site.

  2. Naomi Doy
    2  escreveu às 06:48 em 30 de janeiro de 2010:

    Caro Ernesto, obrigada pelos comentários muito bem observados; é do que o site precisa para evoluirmos.

    Realmente, a monótona programaçao NHK afugenta qq espectador nissei,sansei, yonsei e qualquer não-nikkei desavisado que sintonizá-la. A Deutsche Welle tem programas em inglês tb., e a TV 5, francesa, está prometendo legendar alguns programas para espanhol/portugues p/a AmLatina – seria excelente, é uma das TVs internacionais de melhor programação cultural. Estamos esperando que a NHK acorde da sua sonolência, estreiteza e obsolescência…

    Abraço, Naomi Doy.


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