Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Na Prática a Teoria é Outra

21 de fevereiro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Intercâmbios | Tags: , ,

O excelente trabalho jornalístico do correspondente da Folha de S.Paulo na China, Raul Juste Lopes, publicado hoje sob o título “Choque Cultural, Como Evitar”, resume algumas experiências importantes de três advogados brasileiros que trabalham naquele país já há alguns anos, havendo muitas lições relevantes principalmente nas suas entrelinhas.

Ficam evidentes as precariedades de todas as precauções jurídicas que são tomadas por aqueles que desejam fazer negócios com os chineses, instalando unidades industriais naquele país. Há que se estabelecer sólidos laços com empresários locais, que por sua vez possuem intrincados relacionamentos com as autoridades chinesas, dominando toda a milenar cultura empresarial daquele povo, que vem desde a Rota da Seda. Adquirir isto demanda muito tempo, e a impaciência pode gerar muitas frustrações.

É evidente que coisas relevantes não podem ser expressas num resumo como o apresentado na reportagem, por melhor que seja. Só indícios importantes e gerais podem ser sugeridos, pois cada caso difere de outro, e a generalização é sempre perigosa.

Não ficou claro se estes advogados dominam o mandarim e outras línguas chinesas que lá são utilizadas. Imaginar que é possível captar todas as relevantes nuances chinesas em inglês ou outros idiomas estrangeiros parece uma pretensão perigosa, ainda que alternativas sejam difíceis. Não é uma exclusividade chinesa os frequentes e longos relacionamentos noturnos, pois, como recomendam os mestres da estratégia, conhecer os seus interlocutores profundamente é só o inicio de uma boa negociação.

É preciso contar com a participação de chineses que dominam a cultura local, como acontece em qualquer outro país. Os asiáticos que investem no Brasil estão cansados de fracassos, pois, mesmo eles que possuem uma cultura milenar de negociações com estrangeiros, enfrentam dificuldades de adaptações aos costumes locais. Quanto mais os brasileiros que ampliaram os investimentos no exterior somente há algumas décadas.

Com todo o respeito aos juristas, na China como no Brasil, resolver no Judiciário as pendências pode levar muitos anos, ampliando os prejuízos. Muitas vezes há conveniência de entendimentos mais rápidos, para minimizá-los, e nem sempre a arbitragem é o meio menos custoso. Até porque as regras não são tão claras, e podem sofrer mudanças substanciais. E a moral comercial é bruta nos países que consideramos, injustamente, até melhores.

Muitos estrangeiros fizeram investimentos nas regiões mais próximas do litoral chinês e hoje são induzidos a ampliarem seus investimentos no Oeste, para contribuir na redução das fortes desigualdades regionais daquele país. Raras são as empresas estrangeiras que obtêm lucros na China, mas o fazem quando seus produtos são exportados, como já chamamos a atenção neste site. Remeter eventuais lucros para o exterior é uma façanha.

Seria muito interessante que futuras reportagens abordem as experiências dos empresários brasileiros na China, pois os eventuais riscos estão sendo assumidos por eles, quando os advogados têm os seus honorários assegurados, usualmente.



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