Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Projeções do Crescimento Chinês

8 de fevereiro de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Editoriais | Tags: , ,

Sempre existe um conforto quando o Prêmio Nobel de Economia de 1993, Robert Fogel, diretor do Centro para Economia da População da Universidade de Chicago, confirma num artigo recente no Foreign Policy suspeitas que eram somente de alguns conhecedores da China.

Alguns me consideram demasiadamente otimista com a China, um observador parcial. Quem conheceu aquele país continente, com muitos problemas, mas com pessoas dispostas a debatê-los abertamente, sempre ficava com a impressão que estava errado, diante de uma avalanche de opiniões contrárias no exterior, de pessoas que pouco ou superficialmente conheciam o País do Meio.

Não me considero um profundo conhecedor da China, mas abri um escritório de uma trading brasileira em Beijing, percorri muitas de suas cidades mais importantes. Conversei com gente simples de sua população, tenho lido desde estudos acadêmicos profundos, como os de Joseph Needham, até depoimentos constantes de livros. Tive contato com alguns acadêmicos chineses, negociei com autoridades daquele país. E troquei algumas idéias com especialistas naquele país. Estive com empresários estrangeiros que lá fizeram investimentos. Muitas dúvidas ficaram nas minhas interpretações, algumas que foram esclarecidas por Fogel.

Primeiro ponto importante: nem os chineses acreditam muito nas estatísticas daquele país, como sou muito cético com algumas brasileiras, cujas metodologias de elaboração estudei com algum detalhe. Os japoneses, que são importantes parceiros econômicos dos chineses, consideram que eles estão subestimados, como confirma Fogel. Por exemplo, encontrei trigêmeos com idades diferentes trabalhando numa fábrica. Os japoneses, depois de fazer levantamentos de equipes de oficiais do governo junto com as empresas privadas, estimam que a população chinesa é maior que a anunciada oficialmente, principalmente no campo. E mais rica do que se supõe.

O artigo de Fogel estima que em 2040, daqui a 30 anos, a economia chinesa alcançará US$ 123 trilhões, resultando numa renda per capita de US$ 85.000,00, ultrapassando em muito a Comunidade Européia e o Japão. Representará 40% do produto mundial, enquanto os Estados Unidos ficará com 14%.

Fogel atribui esta performance, primeiro ao enorme investimento que a China está fazendo na educação. Quem conhece as grandes universidades norte-americanas sabe que nos seus cursos de pós-graduação predominam os chineses. Mais detalhes podem ser obtidos no artigo que estamos comentando. Segundo, ao contínuo papel do seu setor rural. Quem conhece o Japão, percorrendo os seus supermercados, constata a predominância dos produtos agrícolas chineses, até os legumes mais simples. A produtividade da mão de obra, na agricultura, serviços e indústria, entre 1978 a 2003, vem crescendo à espantosa taxa de 6% ao ano na China. Terceiro, Fogel acha que as estatísticas dos serviços chineses estão subestimadas, como desconfiam outros analistas estrangeiros.

Aqueles que pensam que o sistema político chinês entrará em colapso são confrontados com a realidade, como apontada por Fogel e constatável pelos estrangeiros. É no nível local que está ocorrendo uma abertura difícil de acreditar. Eles discutem abertamente, inclusive com os estrangeiros, as mazelas chinesas. Muitas e profundas mudanças ocorreram na China deste a Longa Marcha, e imaginar que isto é produto de confabulações de um grupo restrito pode ser enganoso.

Imaginar que a China não enfrenta problemas seria uma ilusão. Que estão resolvendo-os sem que se conheçam tudo que estão fazendo no exterior, também é uma realidade. Até os esforços que fazem para superar os problemas de poluição, apesar da posição chinesa em Copenhague, são iniciativas concretas.

Como me afirmava um importante dirigente chinês: a China estava atrasada somente nos últimos 150 anos, e me mostrava coisas de 8.000 anos atrás. Parece útil que todos leiam, no mínimo, o livro “O homem que amava a China”, sobre a vida de Joseph Needham, este excepcional acadêmico de Cambridge, já mencionado neste site, para se conhecer um pouco desta China que nos assusta muito.



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