Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

‘Alice no País das Maravilhas’, de Tim Burton

29 de abril de 2010
Por: Naomi Doy | Seção: Livros e Filmes | Tags: , , , , | 4 Comentários »

alice Esta adaptação de Tim Burton, em parceria com a Disney Pictures, é uma espécie de continuação da história original de Lewis Carroll. Agora, Alice é uma moça de 19 anos confrontada com inesperada e inoportuna proposta de casamento. Pressionada, ainda abalada pela morte recente do pai, ela se sente insegura quanto à decisão a tomar. Enquanto vagueia pelo jardim, acaba seguindo o Coelho Branco na sua toca e escapa para uma fuga através de um país subterrâneo.

Apoiada pelos novos amigos desse País das Maravilhas, ela parte para uma aventura de autodescobrimento, ao mesmo tempo em que se propõe ajudá-los a salvar o reino da Rainha Branca da tirania da cruel Rainha Vermelha e seu séquito de vilões, monstros e dragões.

Tim Burton fundiu as duas histórias (Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho), misturando as personagens do jogo do baralho e do jogo de xadrez, e acrescentando ainda fatos épicos extras. O filme tornou-se assim uma extravagante miscelânea de acontecimentos prodigiosos desde o início até o surpreendente final. A atmosfera vitoriana desta Alice é um espetáculo de magia para os olhos: o país subterrâneo com floridos bosques e diáfano cenário róseo e branco do mundo do bem, em contraste com o quadro adverso e misterioso do mundo do mal. Paisagem que, em nossa memória visual, teima em se embaralhar com a bela floresta também maniqueísta de Avatar.

Por outro lado, apesar das criaturas grotescas e bizarras, as ameaças de perigo iminente são, ironicamente, até mais amenas nesta versão do que na açucarada animação da Disney, de 1951. Mesmo que a recomendação seja para acima de 10 anos, crianças menores dizem não terem ficadas intimidadas com os monstros nem com as cenas de lutas violentas. A imagem do terrível dragão Jabberwocky traz à lembrança o filme dark de mesmo título, de Terry Gilliam, 1977. Este, por sua vez, se inspirou no enigmático poema nonsense de Lewis Carroll no Capítulo I de Através do Espelho, que ainda agora suscita milhares de suposições, interpretações e versões.

Interessante notar que o Chapeleiro Maluco, interpretado por Johnny Depp (sempre em papéis de personagens preferidos pelo público em filmes anteriores) está perdendo, em popularidade entre crianças, para o Gato de Cheshire e o Coelho Branco, e para a Rainha Vermelha, entre os adolescentes. O afável Gato talvez por lembrar outro gato gordinho de história em quadrinho, e o Coelho, claro, por ser o melhor amigo e protetor da Alice. A Rainha, em interpretação primorosa de Helena Bonham-Carter, atrai pela farsa cômica da “bruxa malvada”, cujo mote “Cortem-lhe a cabeça!” diverte a garotada.

Alusões e referências nos fazem resgatar memórias de lendas e mitos antigos e atuais: a espada Vorpal (o místico Excalibur?) nas mãos da Alice/donzela de Orléans, as ambições da Rainha Vermelha que remetem às disputas de Elizabeth I com sua meia-irmã Mary Tudor e depois com sua prima Mary Stuart, a quem mandou decapitar, a sombra de uma nau (a Invencível Armada?) ardendo num incêndio de infeliz batalha perdida, a coreografia frenética de um mega pop-star executada pelo Chapeleiro Maluco… Mensagens ecológicas? Acompanhe a lagartinha salva de um paletó. Pode virar lagarta, uma crisálida, uma linda borboleta azul a volitar ao seu redor, se você ajudar a preservá-la.

E, enfim, há toda uma denúncia ao imperialismo, às convenções sociais de fachada cultivadas por todas as sociedades que não apenas a vitoriana. As implicações édipo-freudianas simbolizadas na Rainha Vermelha, personificação de sogra, madrasta ou mãe… Pare!

Esqueça tudo: traumas freudianos, opressões imperialistas, doutrinação consumista en masse do vocêtambemvaiterumaTV3D. Deixe pra lá o estresse do aquecimento global, da flutuação do yuan: pegue as crianças, abasteça-se de pipoca, refestele-se. E navegue na fantástica parafernália digital gótico-surrealista de James Came…, isto é, Tim Burton. Mergulhe junto na fuga pós-adolescente da Alice feminista rumando para o mundo adulto da globalização. É aí que volta a pegar a preocupação com o yuan. Mas relaxe. E curta as crianças curtindo o que pode vir a ser uma das memorabilia da vida deles. Você merece.


4 Comentários para “‘Alice no País das Maravilhas’, de Tim Burton”

  1. Lindinor Larangeira
    1  escreveu às 12:20 em 4 de maio de 2010:

    Naomi,

    Do Tim Burton eu já era fã. Agora sou seu fã também. Belo comentário!

  2. naomi doy
    2  escreveu às 08:18 em 5 de maio de 2010:

    Obrigada pela visita, Lindinor,
    E pelas palavras. Temos algo em comum: fãs de bom cinema-entretenimento.

  3. talita
    3  escreveu às 11:52 em 5 de junho de 2010:

    eu gostei muito do filme podiar ate te um

    jogo

  4. naomi
    4  escreveu às 17:58 em 6 de junho de 2010:

    Oi, Talita, pois quem não gosta da fantástica fábrica de sonhos e magias do Tim Burton, não é mesmo? Bjs.


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