Tentando aproximar a Ásia da América do Sul e vice-versa

Filmes Sobre Imigrantes do Japão

4 de maio de 2010
Por: Paulo Yokota | Seção: Livros e Filmes | Tags: , ,

A Folha de S.Paulo noticia hoje, com destaque, a elaboração de um filme com o título “Corações Sujos”, com o diretor Vicente Amorim informando que não se trata, felizmente, sobre o Shindo Renmei. Tema tratado no livro de Fernando Morais, com base nas informações constantes dos inquéritos policiais, reconhecidamente insuficientes. Utilizando artistas conhecidos no Japão, o diretor espera uma boa audiência naquele país.

As experiências efetuadas até hoje não proporcionaram os resultados esperados. A própria Tizuka Yamasaki com seus dois filmes, “Gaijin – Os Caminhos da Liberdade” e “Gaijin – Ama-me Como Sou”, segreda que, apesar dos esforços de todos, os resultados ficaram aquém das expectativas, notadamente no Japão.

coracoes sujos

Cena com Celine Fukumoto e Takako Tokiwa – Foto: Divulgação

Para compreender por que isto tende a acontecer, é preciso entender um pouco do espírito dos japoneses, e os episódios que se pretende apresentar. Os japoneses não se orgulham de ter enfrentado fases em que parte de sua população foi obrigada a emigrar, pelas dificuldades internas que enfrentavam. E tendem a procurar esquecer estes problemas, tanto que a maioria dos japoneses pouco sabe sobre os seus emigrantes no Brasil. Existe um ditado japonês que poderia ser traduzido como: “para coisas malcheirosas, tampa”.

Os brasileiros, inclusive os descendentes dos japoneses, tendem a imaginar que os imigrantes que de lá vieram, com os quais se relacionaram, foram os mais numerosos e que mais se sacrificaram. Ignoram que o Japão mandou para a Ásia, notadamente para a Manchúria, contingentes muitas vezes mais numerosos que para o Brasil, pois pretendiam criar colônias que assegurassem o seu abastecimento. Para tanto, desenvolveram um sistema logístico de grande porte.

Tendo sido derrotados na Segunda Guerra Mundial, o retorno destes emigrantes japoneses e seus descendentes foram dramáticos, pior que a das tropas de Napoleão na Rússia. A capacidade de transporte era limitada, como em qualquer retirada. E multidões de emigrantes abandonados tiveram que trocar de identidade para sobreviver como locais, com muitas famílias desorganizadas. Imagina-se que os sofrimentos destes japoneses superam a tudo que ocorreu no Brasil, ainda que os sacrifícios deles por aqui sejam comoventes.

Os sobreviventes destas tragédias tendem a magnificar os seus sofrimentos, e ainda que o cinema tenha capacidade de grande criação, sempre continuarão achando que não chegam perto do que passaram. Parece ser da natureza humana.



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